Os tempos
Os tempos
O silêncio sufoca-me o presente
Falta-me o barulho dos carros, em andamento
As cidades, as vilas, as aldeias estão em confinamento
Tudo tão calmo, tão parado, tão puro, o ar
Hoje, nem o vento apareceu!
Mas, não consigo sossegar
Penso no movimento intenso
Não fosse o inimigo invisível
Cortar-nos o ar, roubar-nos o dia
Afinal, tudo tem um dia: do começo e do fim
E, nós esquecemo-nos de quão bela é a alegria
Foi preciso o tempo dar-nos tempo, para voltarmos ao pensamento
Sem tempo, nunca nos aperceberíamos da importância do silêncio
Quando não temos tempo, para aproveitar o tempo
Como seria tão bom, beneficiarmos de tanto tempo, sem confinamento
Sem ele, não nos aperceberíamos da qualidade do tempo
Tanto ambicionámos ter tempo, agora não sabemos o que fazer com o tempo
Nunca tínhamos saboreado o silêncio, o perfume do vento, o cheiro do asfalto e do cimento
O que me assusta, foi termos parado, quase todos, ao mesmo tempo
Resta-nos a dolorosa fatura, deste descanso, que estamos a pagar e pagaremos durante muito tempo.
Para não falar dos que se foram antes do tempo.
José Silva Costa