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cheia

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26
Jan23

A sedutora

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Lisboa! A sedutora

14

O irmão da patroa, com saudades da irmã, também foi seduzido pela bonita Lisboa

Trabalhava nas Finanças de Tondela, concorreu para o Ministério das Finanças, em Lisboa, onde foi colocado

Os ordenados eram muito baixos, uns escudos extras davam muito jeito, o facto de haver muito trabalho fez com que o irmão da patroa, depois cumprir o horário de trabalho, no Ministério das Finanças, fosse fazer tapetes, quem também já fazia tapetes era a esposa do caixeiro-viajante, que vendia as peças para os tapetes, mas em casa dela

Deixou o lugar de frutas e hortaliças para poder estudar, mas não se decidia a procurar uma escola para saber se ainda se lembrava do que tinha aprendido nos quatro anos da escola primária

Estava como que a saborear o novo horário, o novo trabalho, a oportunidade de fazer horas extraordinárias e ganhar mais uns escudos, quase que se tinha esquecido dos estudos

 

Estava:  “ Naquele ingano d` alma ledo e cego/ Que a fortuna não deixa durar muito”

(Lusíadas, canto III, est. 120)

Mas, a prova de que o assunto o atormentava, foi o cunhado do patrão, numa tarde, mal entrou, dirigiu-se a ele, e como quem dispara uma arma, disse-lhe:  “andas a dizer que queres estudar. Já sabes que vais para a tropa e para o Ultramar. Queres ir como soldado ou como sargento? Basta fazeres o primeiro Ciclo Liceal, para ires como sargento.”

Aquelas palavras tiveram o efeito pretendido, foram as palavras certas no momento certo

Pegou na lista telefónica das páginas amarelas, ( o Google da altura) procurou uma escola, havia uma perto da Praça da Figueira, que preparava adultos para fazerem o exame da quarta classe

Assim que terminou o dia de trabalho, foi ver como funcionava a escola e inscreveu-se, não para fazer a quarta classe, que já tinha, mas para rever a matéria

Faltavam dois meses para terminar o ano letivo, pouco mais poderia fazer

Ia fazer 18 anos, queria fazer uma surpresa aos pais, desde que tinha vindo para Lisboa, só os tinha visitado uma vez, não conhecia o irmão e a irmã, mais novos que ele 15 e 16 anos respetivamente, apareceu de surpresa, a mãe chorava de alegria, ficaram muito felizes por se ter lembrado de os ir ver e festejar com eles os seus 18 anos, os mesmo que a mãe tinha quando ele nasceu

Estava a falar com a mãe e uma vizinha, quando esta lhe perguntou se tinha namorada, tirou do bolso as fotografias da namorada e mostrou-lhas, a vizinha disse para a mãe dele: “ esta vai ser a sua nora” e não se enganou

Da loja onde se vendia de tuto, telefonava para a namorada

As vizinhas casamenteiras, que não sabiam que ele tinha namorada, queriam casá-lo com a única rapariga casadoira do monte, que ainda estava à espera do príncipe encantado, tinha mais 3 ou 4 anos que ele

No terraço da loja, organizaram uma desfolhada, foi uma grande festa, houve milho rei e beijinhos, mas não foi ele a desencantá-la

Mais tarde apareceu o príncipe encantado e emigraram para França

    

Antes do novo ano letivo começar inscreveu-se na Escola Académica, que funcionava no Largo Conde de Barão, perto de onde trabalhava e vivia.

 

Continua

 

 

12
Jan23

A sedutora

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Lisboa! A sedutora

12

Três homens solteiros, num primeiro andar: o patrão, o irmão e o empregado

Uma casa forrada com peças de cairo, só a casa de banho não tinha matéria-prima para fazer os tapetes

Era uma casa pequena: um quarto, cozinha, casa de banho, sala e uma salinha muito pequena

Os empregados dormiam na sala, no local onde trabalhavam de dia

À noite, no cetro da sala, único espaço disponível, cada um fazia a sua cama, o soalho e uma peça de cairo faziam de colchão

Com o novo contrato, verbal, ganhava mais dez escudos: 200 escudos, por mês, oito horas de trabalho, descansava ao domingo, com a possibilidade de fazer horas extraordinárias, pagas à peça

Com moldes em papel, dois para cada modelo, um para a frente outro para trás, marcavam os cortes a fazer, para que assentassem bem e os pedais ficassem livres

Todos os cortes tinham de ser costurados com uma agulha, um pouco maior que uma sovela de sapateiro, com um buraco na ponta, para que o tecido não se desfiasse

Para além de fazer os tapetes, ia aos Bancos, entregar tapetes nos standes, de transportes públicos ou de táxi, dependendo da urgência ou da quantidade, e ainda despachar encomendas, para todo o país, por caminho-de-ferro, em alta ou pequena velocidade

As estações de caminho-de-ferro tinham um armazém onde guardavam as mercadorias recebidas ou para expedição, ainda era rara a entrega de porta a porta

Também chegou a ser incumbido de ir tirar moldes de modelos que não tinham, um trabalho delicado, porque o papel assentava melhor que o tapete, por isso era preciso saber compensar as diferenças, para que o fato assentasse bem

O patrão passava muitos dias, percorrendo o país, de comboio, visitando standes de automóveis, para angariar novos clientes

 

Em Tondela, travou conhecimento com uma rapariga que, como muitas outras, por este país fora, sem trabalho nem expectativas de vida, aguardava, na casa dos pais, por um príncipe, que um dia a desencantasse

Como bom vendedor, disse à rapariga que tinha mundos e fundos, e ela acreditou, namoraram uns meses e casaram

Depois de casados e da lua-de-mel, quando a trouxe para Lisboa, e lhe apresentou o palacete para onde ia viver, a rapariga ia desmaiando

 

  Triste, mas sem queixumes enfrentou a realidade, arregaçou as mangas e lutou ao lado dele

Tiveram duas meninas

Passados alguns anos, quando os tapetes de cairo, para automóveis, caíram em desuso, e apareceram outros materiais, era ela que, com uma máquina de costura industrial, fazia os tapetes

No primeiro carnaval, que  passou em Lisboa, mascaram-se: ela e o empregado trocaram as roupas, fizeram uma cegada, fazendo com as tristezas fossem esquecidas, mesmo que por pouco tempo.

 

Continua

 

 

 

 

01
Mar21

Vidas (17)

cheia

Vidas

Continuação (17)

 

Aproveitou um dia em que foi levar as compras à freguesa, que morava no Largo de Camões. Telefonou-lhe duma cabine telefónica, para lhe dizer que aceitava as condições, e combinaram que começaria a trabalhar mo início do mês seguinte

Estava com pena de deixar aquela família, com quem conviveu quatro anos, e daquele trabalho, que muito gostava, com exceção do horário de trabalho. Mas, não podia perder a oportunidade de ter um trabalho, que lhe permitisse continuar estudar

Tinha receio do salto para o desconhecido. Seria um trabalho diferente, com menos contacto com os clientes, ainda que o futuro patrão lhe tenha dito que iria entregar os tapetes aos stands e também depositar os cheques nos Bancos. E, como seria a aprendizagem para fazer os tapetes?

Não sabia como dizer ao patrão que se ia embora, como seria a sua reação. Assim, foi pensando no que diria. Quando entrou no estabelecimento, só conseguiu dizer, que no fim do mês se ia embora

O patrão, apanhado de surpresa, voltou à velha conversa, que agora é que ia abrir um estabelecimento, para ele tomar conta. O José disse-lhe que sairia no fim do mês, que ia ganhar mais, teria um horário de 48 semanais, permitindo-lhe que estudasse

Aquele mês nunca mais acabava. Mesmo que não tenha sentido qualquer hostilidade, já não se sentia com o mesmo à vontade, porque em breve ia deixa-los, não sabendo o que pensariam da sua partida

No dia seguinte começou a informar as criadas, com quem mantinha uma cordial convivência. Quase todas compreenderam a sua decisão, desejando-lhe boa sorte. Mas houve uma que ficou muito triste, era dos arredores de Mangualde, porque gostava dele, mesmo sendo um ano mais velha

O Senhor, que tinha estado no Brasil, é que não gostou nada da sua decisão. Numa tarde em que estavam sozinhos, chamou-lhe à atenção, que por causa de atitudes como a dele, é que o país nunca progrediria, porque tinha passado quatro anos a aprender a ser caixeiro e, agora, ia aprender outro ofício, e assim continuamente, sem nunca produzir o que devia, por andar sempre a saltitar deu lado para o outro

Todos faziam, o mesmo, quando estavam aptos a desempenhar a função, para a qual tinham passado vários anos a aprender, abandonavam o posto de trabalho sem, das consequências, querem saber

Era por isso que o país não conseguia alimentar todos os seus filhos, fazendo com que tivessem de ir a salto, para os outros países, como estava acontecer com os que todos os dias pagavam fortunas aos passadores, para abandonarem o país

O José ainda tentou justificar-se, dizendo que queria estudar. Mas, ele não aceitou a justificação, dizendo-lhe que para ser caixeiro não precisava de estudar mais, e que ainda-por-cima tinha a sorte de fazer o que gostava. Por que razão deixava um futuro, que poderia ser brilhante, para ir aprender outra coisa, que se calhar nem futuro tinha?

Entretanto, o tão desejado fim do mês chegou, e o José mudou-se para a Rua da Paz, para um primeiro andar com vista para a Rua dos Poiais de São Bento 

Começou a aprender a fazer os tapetes para os automóveis. Entregaram-lhe uma tesoura grande e uma agulha com um cabo de madeira. Havia moldes, em papel, para as diversas marcas e modelos, que colocavam no verso da peça de cairo, para marcar por onde tinham de cortar, para que os pedais do travão, da embraiagem e acelerador ficassem livres, a funcionar

Antes de procederem ao corte, tinham de coser por onde iriam cortar, para que a peça não se desfizesse. Era fácil de aprender, o mais difícil era tirar o molde, no carro, trabalho de que se encarregava o patrão

 O José, ao fim de dois anos de estar nos tapetes, foi a uma oficina, em Setúbal, tirar o molde a um carro, raro. Estava com receio que não ficasse perfeito. Mas felizmente, não houve reclamação  

Era um prédio muito antigo, originalmente não tinha casas de banho, tinha uma pia ao lado do-lava loiça. Quando o patrão do José, e a prima dele foram para lá viver, ele no primeiro andar, e ela no quarto andar, já tinha casas de banho. Aquele primeiro andar estava cheio de peças de cairo, a exceção era a casa de banho. José e o irmão mais velho do patrão dormiam na sala, no local onde trabalhavam. À noite arrumavam as mesas onde trabalhavam, estendiam um bocado duma peça, no chão, a servir de colchão, e estava a cama feita

No princípio, o patrão passava a maior parte do tempo a viajar pelo país, visitando stands, angariando clientes. Conheceu uma senhora em Tondela, que como tantas outras, “presas” no interior do país, sonhava com o príncipe, que a tirasse daquela vida sem futuro, sem uma profissão, na dependência dos pais, em que a única tábua de salvação era arranjar um marido, para concretizar o sonho de ter filhos: uma família

Continua

 

 

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