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cheia

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03
Out24

O Império

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O Império  - As teias que o Império teceu

 

81

 

No dia seguinte, o Governador mandou chamar o Leopoldo ao seu gabinete, para lhe perguntar se gostava da Mité e se pensava casar com ela. O Leopoldo respondeu-lhe que gostava muito da filha dele e que casaria com ela, quando ela quisesse

O Governador respondeu-lhe que isso dependia dela e que desejava que fossem muito felizes

O Leopoldo apressou-se a procurar a Mité, para a informar das boas notícias, beijaram-se e abraçaram-se, estava autorizado o namoro, ficaram floridos de felicidade

Dali em diante podiam namorar à vontade, sem terem de se esconder, como tinham feito, para manterem o namoro em segredo 

É bom que os pais compreendam que os filhos não sua propriedade, que não podem escolher o futuro deles, podem-nos aconselhar, mas as escolhas têm de ser suas

O Governador estava muito contente por a filha mais velha ter um namorado, mas não queria que eles soubessem, preferia aguardar que desse certo e eles casassem

Desde que a mulher faleceu, devido a problemas no parto da última filha, que ele só vivia para elas, pediu a uma irmã, às criadas e criados, que o ajudassem a cria-las, o que mais desejava era que casassem e lhe enchessem a casa de netas e netos

Finalmente, parecia que esse sonho se começava a concretizar, esperava que as outras quatro seguissem o exemplo da mais nova e da mais velha, que esquecessem o receio que tinham em ficar grávidas, pelo que tinha acontecido à mãe

Ainda bem que em breve teriam uma médica na família, para tratar delas, caso houvesse algum problema, para as aconselhar, para acudir às muitas mulheres, que morriam devido a complicações no parto

O Governador sabia bem que não hvia quem ajudasse as parturientes, em casos complicados, era por isso, que ele achava que a mulher tinha morrido, deixando-o com seis filhas para criar, perdendo, para sempre, o amor da sua vida

Ficou muito contente e esperançado, quando a Marina disse que queria ser médica, e um dia dotar a cidade de uma maternidade, onde todas as mulheres, com partos difíceis, tivessem quem as ajudasse, assim ela quisesse e estivesse preparada para tão grande obra

Para ele o grande problema era o tempo ter parado, parecia que os dias, os meses, os anos estavam, cada vez, mais longos

A sua comadre, a Rosinha, tinha estado muito doente, receou que morresse sem ver o neto. Ele também se sentia cansado de esperar, dizendo que conforme as circunstâncias o tempo anda depressa ou devagar

 Ocupação Militar de Nampula

Os estados islâmicos da costa (Xeicado de Quitangonha, Reino de Sancul, Xeicado de Sangage e Sultanato de Angoche), em aliança com os pequenos reinos macuas do interior conseguiram, até ao fim do século XIX, resistir à dominação portuguesa. Com uma técnica que, já naquela época, era considerada de guerrilha (Teixeira Botelho. 1936. História Militar e Política dos Portugueses em Moçambique. 1º vol. Centro Tipográfico Colonial, Lisboa, citado em UEM, 1982).

Depois de muitas tentativas, em 1905, os portugueses encetaram uma nova tática, enviando grandes colunas militares a partir da Ilha de Moçambique e Mossuril, que avançavam ao longo dos rios, submetendo os chefes macuas. Nos locais onde conseguiam a colaboração destes, organizaram "Circunscrições" com uma administração incipiente, mas efectiva; onde não o conseguissem, instalavam "Capitanias-Mores" de base militar. Dessa forma, conseguiram dividir o território e as suas populações, incentivando as rivalidades entre si e com os estados islâmicos, que acabaram por entrar em declínio e foram finalmente subjugados à administração colonial.

                                                                                                      (Wikipédia)

Continua

 

 

28
Jan21

Vidas (4)

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Continuação   (4)  

 

José agarrou na arreata da burra e meteu-se ao caminho, nunca mais se lembrou do aviso do moleiro

Os seus pensamentos estavam embrenhados no que tinha lido na carta do pai. Perguntava a si mesmo quantos quilómetros seriam do seu Monte a Beja, quantos dias teria andado até lá chegar, tudo perguntas que teriam de esperar, e era preciso que tivesse coragem para as fazer

Quando deu por conta já o saco tinha caído. Como colocar o saco em cima da burra, se ela era mais alta que ele, e ainda tinha de elevar os quinze quilos!

Procurou uma rocha, onde colocou o saco, encostou a burra à rocha, pegou no saco para o pôr em cima dela, mas esta desviou-se: uma, duas, três vezes, só à quarta tentativa é que conseguiu colocar o saco em cima da burra. Estava exausto. Até chegar a casa, foi sempre com atenção, quando o saco ia mais para um lado, lá ia ele endireita-lo

A mãe estava preocupada com a demora. Mas assim que chegou explicou-lhe o que se tinha passado. Estava tão cansado que foi imediatamente para a cama

A mãe ainda peneirou a farinha nessa noite. Queria amassar bem cedo, já tinha ido pedir fermento a uma vizinha

No outro dia, quando chegou da Escola, já havia pão quente, o cheiro tinha perfumado a casa, parecia que tinha começado uma nova era

Alice estava grávida pela terceira vez. Tinha receio que o marido não viesse antes do parto. Desejava que fosse uma menina, para ajudar na lida da casa. Já tinha dito muitas vezes, ao José, que se fosse uma rapariga já a poderia ajudar. Assim, com dois rapazes, tinha de fazer a lida da casa sozinha

 

A Escola recebeu o equipamento escolar em Fevereiro ou março, transportado numa carroça da Camara Municipal de Mértola, com dois funcionários, puxada por um macho

Os funcionários descarregaram tudo e colocaram nos devidos lugares. No topo norte o estrado, com a cadeira e secretária da professora em cima, à esquerda do lugar da professora, na parede o quadro preto, por cima o cruxifixo e o quadro com a fotografia de Salazar, ao lado do grande quadro preto o mapa de Portugal, em cima da secretária um globo, junto do quadro uma caixa de giz e um apagador, no resto da sala colocaram as carteiras com os tinteiros brancos embutidos e as cadeiras. Foi um dia inesquecível!

A professora era um pouco austera. Quando estava a ensinar a fazer os números disse, ao José, que o nove era uma bolinha com um pauzinho do lado direito, mas ele colocava sempre o pauzinho do lado esquerdo, até que ela deu-lhe uma bofetada, e ele nunca mais colocou o pauzinho no lado esquerdo

O José era canhoto, mas o pai atalhou-lhe o braço esquerdo ao pescoço. A mãe só lhe contou quando ele já tinha 50 anos, depois de o ouvir tantas vezes dizer, por que razão não era capaz de fazer um risco direito, nem com a régua e o esquadro, quando lhe encostava o lápis, cada um ia para seu lado, não consegue fixar um caminho, nem que passe por lá cem vezes, ela não resistiu e contou-lhe o segredo

Todo o outono e inverno na escola, de manhã e de tarde, não tinha tempo para brincar com o irmão, como fazia dantes. Com seixos brancos imaginavam grandes rebanhos de ovelhas, onde não faltavam os carneiros, os cães, os borregos e o pastor

Nas manhãs frias de inverno, quando a superfície do ribeiro, que rodeava acourela, congelava, descalços, mal agasalhados retiravam, os dois, com muito cuidado, a maior superfície que conseguiam e colocavam-na ao sol, chamando-lhe: tirar espelhos  

Na margem do ribeiro havia uma laje, muito a pique e muito lisinha, utilizavam-na como escorrega. Mas para não estragarem as calças, arrancavam duas esteva e sentavam em cima delas, deslizavam pela laje abaixo, atingindo uma boa velocidade

 

O pai do José regressou, ainda antes de Maio, mas não tem registo de reencontro entre ele e a mãe, se calhar estava a dormir. De manhã quando acordou para ir para a Escola, o pai apertou-o contra ele e beijou-o. Não se esqueceu de perguntar como iam os estudos

A mãe, prestes a fazer 25 anos, no primeiro de maio, ainda que na cédula esteja escrito 12, como acontece com ele e o irmão, em que ele nasceu a 5 e está 15, já o irmão nasceu a 17 de Julho e está 10 de setembro, estava quase no fim da gravidez

Numa radiosa manhã de Maio, quando se preparava para ir para a Escola, a mãe disse-lhe que não podia ir, porque o pai já tinha saído para o trabalho, e ele e o irmão tinham de ir a casa da vizinha, dizer-lhe que viesse imediatamente, e que ficassem lá a brincar com a filha dela

Entretiveram-se na brincadeira, nem deram por o tempo passar, quando ela regressou e lhes disse: “ já podem ir para casa, já têm lá uma mana”, correram para casa.

   Continua

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

19
Jan21

À moda antiga

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Como antigamente

 

Sorrir nas esquinas do medo

Não te poder beijar tão cedo

Quando te conto o segredo!

Abrir os braços e apertar-te com um dedo

Vamos contar as estrelas para afastar o degredo

Amanhã continuamos com este enredo

Namorar à distância, cada um no seu prédio

Com uma rua a separar-nos, como remédio

Só os nossos olhares se podem beijar e abraçar

Estes tempos vão passar

Depois voltaremos a andar agarradinhos

Segredar sozinhos

Sem que nos possam acusar

Das recomendações não respeitar

Vamos, à varanda, continuar a namorar

Como antiguamente, sem nos podermos tocar

As vizinhas, sempre, as espreitar

Para depois irem contar, coscuvilhar

Como se elas não tivessem feito o mesmo!

Tem sido assim ao longo dos séculos

Com mais ou menos liberdade

Com mais ou menos igualdade

Com mais ou menos roupa

Numa ou noutra era mais louca

Porque o amor são borboletas a voar

Que não nos deixam sossegar

Que nos fazem faltar o ar

E, do primeiro beijo, nem falar!

 

José Silva Costa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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