Bem-vindo, Agosto!
Bem-vindo, Agosto!
Trazes o calor e o sabor a mar
O que lhes vale são as praias para os refrescar
De regresso ao torrão Natal, depois de mais um ano, lá fora, a labutar
Onde não veem sol, nem lua: trabalho duro em casa ou na rua!
Têm estes poucos dias para beber todo o sol e ver o mar
Construíram uma casa, mas não têm tempo para estar dentro dela
Pensavam voltar quando se reformassem, mas não é fácil
Os filhos e os netos só querem vir, a Portugal, de visita
Não é tão forte a sua ligação ao país, são cidadãos de outros países
Só têm em Portugal as suas raízes
Assim, os pais têm de se dividir entre dois ou mais países
Uns dias cá, outros lá, os restantes nas estradas da Europa, metidos em autocarros
Sem condições, agravadas pelo peso dos anos, fazem muitos quilómetros e dormem
O berço e as saudades, dos familiares, fazem-nos andar de um lado para o outro
Recordam, com alegria, os tempos em que vinham, todos, de carro
Uma aventura nem sempre com um final feliz, alguns pagam-na com a vida
É o preço a pagar por terem de sair do sítio, que os viu nascer, para procurarem uma vida melhor
Nunca nos contentámos com o nosso retângulo
Depois de conquistarmos os Algarves, lançamo-nos ao mar
Percorremos todos os mares, passámos além da tapróbana
Em meados do século passado, presos no labirinto da ditadura
Fomos, para toda a Europa, a salto
Hoje, temos um nobre passaporte
Podemos ir para quase todo o mundo
Já não somos um país só de emigrantes, também precisamos de imigrantes
Pagamos uma boa formação aos que vão desenvolver outros países
Recebemos quem quiser fazer os duros trabalhos, que não queremos
Temos falta de mão-de-obra, e quem esteja no desemprego
Temos o estatuto de povo desenvolvido!
José Siva Costa