O Império
O Império – As teias que o Império teceu
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Toda a família estava radiante com a receção em Luanda
Não podiam ter tido mais sorte: terem caído nas boas graças do Governador
Passados alguns meses, os irmãos foram chamados ao Governador, que lhes entregou as chaves de duas casas, uma para cada família
Com a entrega das chaves, a vida dos dois casais, finalmente, depois de sete anos,
tinha voltado à normalidade
Uma normalidade, pela qual iriam pagar um preço alto, porque o novo trabalho, tanto do Januário como do Ezequiel, para além de conselheiros na defesa da cidade, tinham de voltar ao negócio dos escravos, coisa que as suas mulheres não queriam
Salvador de Sá, o novo Governador de Luanda, tinha sido financiado e mandado, para Angola, pelos fazendeiros, para expulsar os holandeses e enviar escravos, para o Brasil
Por isso, todos os seus colaboradores tinham de estar empenhados nessa missão
Mesmo que não concordassem com o desumano tráfego de seres humanos, não estavam em condições de recusar a ajuda do Governador
Talvez, pudessem prescindir da ajuda do Governador, quando o Januário voltasse do Brasil, se tudo corresse bem e já tivessem outro-meio de subsistência
Como elas ficaram muito aborrecidas por eles terem de colaborar no envio de escravos para o Brasil, o Januário e o Ezequiel garantiram à Rosinha e à Miquelina, que essa colaboração não iria ser por muito tempo
Pediram-lhes para continuarem com a agricultura, que se associassem a outras mulheres, que produzissem e vendessem, uma maneira de criarem os alicerces para, quando o Januário voltasse do Brasil, deixarem de depender do Governador
Ficaram entusiasmadas com a ideia, iriam, quanto antes, procurar parcerias, para desenvolverem o novo projeto
O Ezequiel ofereceu-se para acompanhar o irmão ao Brasil, mas o Januário não aceitou, dizendo-lhes que era uma missão muito arriscada, e que o melhor era ficar, para poder apoiar a família
Ficou aliviado, estava tudo decidido e organizado, já o podiam chamar, para a sua viagem ao Brasil, que tinha tanto de perigo como de fascínio: atravessar o Atlântico e conhecer a grande colónia do Brasil
Quando falava da viagem, no seio familiar, mostrava-se, sempre, muito confiante, dizendo que tuto iria correr muito bem, mesmo que tivesse medo de que não voltasse do outro lado mar, mas não o iria a ninguém revelar
Custava-lhe tanto deixar a mulher, os filhos e a restante família. Mas, se era essa a sua missão, tudo tinha de fazer para a realizar e as promessas cumprir.
Continuar