A sedutora
Lisboa! A sedutora
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Um bonito horário, bem emoldurado, na parede estava pendurado, onde se podia ler: horário de trabalho, entra às 9 horas, sai às 13, entra às 15 e sai às 19
Na realidade entrava às 5 horas, 5,30 ou 6, dependia da hora a que o patrão acordava e da quantidade de produtos que precisava de comprar na Praça da Ribeira e no mercado da fruta
Dormia na parte de trás do estabelecimento, num divã, num espaço, onde também funcionava a cozinha, tinha entrada pelo estabelecimento e pela serventia do prédio
Na adormecida madrugada, o patrão dava duas pancadas na porta, interrompia os sonhos, levantava-se ainda a dormir, vestia-se, lavava a cara e estava pronto para ir para a Ribeira
Às 7,30 apanhava o elétrico para ir abrir o estabelecimento às oito horas
A porta ondulada, de ferro, da largura do estabelecimento, era muito pesada para a sua pouca força, para que a conseguisse descolar do chão, tinha de agarrar nas duas pegas e inventar forças para a conseguir elevar à sua altura, depois era mais fácil empurrá-la até se enrolar toda
Pelas 9 horas, a patroa trazia-lhe o pequeno-almoço, tomava-o atrás do balcão, de pé, se entrasse algum cliente, atendia-o, depois continuava a saborear a sua primeira refeição do dia
O almoço também era servido no mesmo local, umas vezes de pé outras sentado nos cabazes vazios da fruta
Fechavam o estabelecimento às 21 horas, arrumava-o e lavava o chão, não havia esfregonas
Uma rotina de 365 dias por ano
Numa manhã, pelas 8,3horas entrou, no estabelecimento, um cliente diferente, perguntou pelo patrão, como ele não estava, disse que era fiscal do trabalho, passou uma multa de 200 escudos, e acrescentou que inscrevesse o empegado na Caixa de Previdência e tratasse do cartão de sanidade
O patrão não gostou nada da visita inesperada, disse que a multa era uma fortuna, mas cumpriu com tudo o que o fiscal determinou
O empregado é que não conseguiu atingir o ordenado de 200 escudos, entrou a ganhar 70 escudos, aumentou-o quando quis, nunca lhe pediu aumento, sempre 20 de cada vez, quando se despediu ganhava 190 escudos.
O patrão tinha-lhe prometido, várias vezes, que iria abrir um estabelecimento, para ele tomar conta
Não foi fácil dizer-lhe que se ia embora, que tinha arranjado um emprego de 8 horas de trabalho, que poderia, finalmente, estudar e fazer a vontade ao pai, que em todas as cartas lhe pedia que estudasse.
Continua