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cheia

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17
Ago23

O Império

cheia

O Império – As teias que o Império teceu

22

O Januário, assim que soube que as naus tinham atracado ao cais de Luanda, foi passando, por lá, todos os dias

Mas, não conseguiu encontrar ninguém conhecido, nem ninguém que lhe desse as notícias  desejadas sobre a sua amada Lisboa

A notícia que todos queriam revelar, por ser uma coisa invulgar, era a de que abordo viajava uma mulher

Januário, também, ficou muito surpreendido e tentou que lhe descrevessem a mulher, para ver se faria algum sentido, a armada trazer uma mulher a bordo

Disseram-lhe que era uma mulher muito bonita, muito competente no seu trabalho de gerir os mantimentos e fazia equipa com um rapaz da sua idade, que se chamava Ezequiel

Quando falaram em Ezequiel, ainda, disse que era o nome do seu irmão, mas nunca pensou que fosse ele

Despediu-se, desejando-lhes boa viagem, e que continuaria a passar por ali, todos os dias, para ver se se cruzava com alguém conhecido, queria saber mais de Lisboa

Finalmente, as quatro naus chegaram a Luanda. A Miquelina e o Ezequiel tinham muito trabalho pela frente, para reabastecerem as naus, enquanto esse trabalho não estivesse feito, não teriam autorização para saírem

Não era fácil o reabastecimento, porque não havia a quantidade de produtos necessários, o que fazia com que tivessem de aproveitar tudo o que houvesse, incluindo as frutas e em especial as bananas, que eram, sempre, em grande quantidade

Ao décimo segundo dia, depois de chegarem a Luanda, a primeira parte do trabalho da Miquelina e do Ezequiel estava completo

As frutas e os vegetais só eram embarcados poucos dias antes das naus se fazerem ao mar, de novo

Se tudo correr como planeado, a Miquelina e o Ezequiel, em breve, abandonarão o barco e darão um salto para o desconhecido, sem saberem o que os esperará, faz parte da aventura

O Januário já estava cansado de todos os dias passar pelo cais, sem que conseguisse obter notícias relevantes

Mas, iria continuar, todo os dias, os seus esforços, enquanto os barcos se mantivessem atracados, para saber mais de Lisboa, de quem tinha tantas saudades, principalmente da mãe e do irmão

A procura de uma vida melhor leva-nos, tantas vezes, a perder tanta coisa: o não acompanhamento do crescimento dos filhos, a separação do casal, o convívio com os outros familiares e amigos, um clima a que estamos habituados, o local onde nascemos, que é tão importante, pelo simbolismo, que carrega.

Em certos casos, não sei se compensam tantos sacrifícios, para tão poucos proveitos

A emigração da última metade do século passado levou-nos a aceitar os duros trabalhos que outros não queriam, era uma emigração clandestina, que fazia com que aceitássemos as condições impostas pelos patrões

Hoje, felizmente é diferente, não deixando de ser um desenraizamento e um grande empobrecimento, para o país que, se empenha na formação dos jovens, os vê partir à procura de melhores condições de vida, contribuindo para o enriquecimento de outros países.

Continua

 

 

 

24
Out18

O quotidiano

cheia

O quotidiano

 

Vens à noitinha

Ao nascer da lua

Entrar na noite nua

Caminhas na rua

Entras e sentaste a ver a lua

À espera dos braços da hora

Que te trarão o sono, sem demora

Cansada de um dia cheio de nada

Levantaste-te de madrugada

Para mais uma jornada

A camioneta da carreira ficou na garagem, parada

Mais uma greve programada

Quem reparou no teu estado

Ficou preocupado

Um deu-te boleia

Chegaste atrasada

O patrão não gostou nada

Ficaste agastada

Tanto esforço para nada

A vida é uma estopada.

 

José Silva Costa

 

 

 

 

 

 

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