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cheia

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04
Mai23

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

 7

Não há palavras para descrever o que aqueles homens sentiam quando chegavam aos portos

Mas, chegar a Luanda, vindo do oriente, era, ainda, mais emocionante, era entrar no seu oceano, um mar que os viu nascer, que os ajudou a crescer e os fez marinheiros

Januário estava nervoso e ansioso, não sabia quando iria a terra, era um salto para o desconhecido, sem saber o que seria a sua vida dali em diante, ainda não tinha decidido quando abandonaria o barco, tinha pensado em o abandonar quando estivesse para sair para Lisboa

Agora que estava ali tão perto, receava não conseguir voltar ao navio, assim que pusesse pé em terra, o melhor seria preparar-se para na primeira ida a terra procurar uma nova vida

Luanda, com pouco mais de meio século, já era uma cidade muito importante, tinha pertencido ao reino do Ndongo, cujo rei tinha o título de Ngola, que deu o nome de Angola  ( A ngola, deu   Angola  )

Só depois de dez dias de atracarem, o Januário teve ordem de ir a terra, não hesitou, agarrou no que pôde esconder sob as roupas e saiu, não voltando a entrar no barco

Deu uma volta pela cidade, mas não encontrou nada que o pudesse acolher, continuou em direção à Ilha, onde andavam várias mulheres a apanhar uma espécie de búzios, muito apreciados, que já tinham servido de moeda de troca, naquela região

Todas abandonaram a atividade, exceto a mais nova, que continuou na sua azáfama

Januário aproximou-se dela e beijou-a, a rapariga ficou cheia de medo, nunca esquecera o que fizeram ao pai e aos irmãos, tinham-nos levado como escravos, nunca mais os viram

Januário estava preocupado com ela, sentia que o seu coração parecia querer saltar do corpo

Queria acalma-la, dizer-lhe que não lhe queria fazer mal, que a escolhera para mãe dos seus filhos, mas não se conseguiam fazer entender, nem pelos gestos

Com o pano, que tinha trazido do Oriente, embrulhou-a, para que não tivesse frio

Apertou-a contra o seu corpo, beijou-a, não sabia o que fazer para que acreditasse que gostava dela

O sol desapareceu instantaneamente, (em Angola o sol nasce às 6 horas e põe-se às 18 horas, instantaneamente) não podiam ver as reações do corpo um do outro, mas eles manifestavam as suas preocupações: ela chorava, o seu corpo tremia, o coração continuava a querer sair do corpo, enquanto, que ele estava muito nervoso, não a queria magoar, para ele, ela era como que uma boneca de porcelana, que não queria quebrar

Ficaram ali, sentados, toda a noite, tentou agasalha-la para que não tivesse frio, mas receava que ela tentasse fugir, por isso nenhum dormiu nada, ambos acharam que aquela noite nunca mais tinha fim, o que queriam é que o sol voltasse a aparecer, para se olharem olhos nos olhos e tentarem saber o que se passaria dali em diante.

Continua

 

25
Nov20

Violência

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Dia Mundial Pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres

 

 

Mais trinta mulheres assassinadas no meio familiar, nestes quase onze meses deste ano

Esta chaga continua a demasiadas mulheres matar

As mulheres são quem está mais a sofrer com esta pandemia

Ao longo dos séculos têm sido, sempre, preteridas

Na educação foram esquecidas

A minha mãe, com muita tristeza, dizia: “ não sei uma letra do tamanho de um burro”

Isto porque, alguns, pelo menos, sabiam dizer ou escrever o alfabeto maiúsculo

Tantas vezes ouvi dizer que as mulheres não precisavam de saber ler

Quem o dizia também pouco sabia sobre o presente ou o futuro

E, em 2020, quantas meninas continuam a sofrer com a clitoridectomia?

Quantas continuam sem direito à educação?

Um século depois, continuarão, como a minha mãe, a dizer que não sabem uma letra, seja de que tamanho for

Neste século, nalguns Países, algumas mulheres conseguiram, dos homens, aproximarem-se

Mas não passa de uma gota de água no oceano!

Infelizmente, as mulheres vão continuar a sofrer com a violência, não só física como psicológica

Como as coisas, agora, mudam muito mais depressa, tenho esperança, mais do que isso, desejo que sejam eliminadas todas as formas de violência contra as mulheres.

 

José Silva Costa

 

 

 

 

 

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