O nascimento de uma Escola
O nascimento de uma Escola (1)
Estávamos em Outubro de 1951
José teve a sorte de ter sido criada uma escola, num monte a um quilómetro do monte onde vivia, o que fez com que entrasse para a escola com seis anos.
No Lobato, alguém ofereceu uma casa com duas ou três divisões, para ali nascer uma escola
Três ou quatro professoras foram ver o local, para onde iriam trabalhar, mas só a última aceitou criar uma Escola, numa casa particular, com quatro paredes, seis ou sete cadeiras, uma ou duas mesas, nada mais!
A professora era uma jovem muito determinada e apostada em tirar as crianças dos trabalhos no campo, para que aprendessem a ler e escrever.
Eram pouco mais de meia dúzia, de varias idades, entre os seis e os onze anos.
Poucos pais tinham a perceção de que mandar os filhos à escola era o melhor para o seu futuro. Eles não tinham ido à escola e conseguiam governar a vida. Portanto, ainda não se tinham apercebido de quanto era importante saber ler e escrever.
Passado um ou dois meses, a professora vendo que não apareciam mais alunos, decidiu ir com eles até ao Monte Santana, para informar os pais, de que era obrigatório mandar os filhos à Escola.
Foi uma manhã diferente: a professora à frente, os alunos atrás dela, por um caminho, que ligava as duas povoações. A imagem era a de uma galinha com uma ninhada de pintos a tentarem aninharem-se debaixo das suas asas.
A meio caminho encontraram um homem e o filho a trabalharem numa horta. Pararam, cumprimentaram-nos, e a professora questionou o senhor, perguntando-lhe se sabia que era obrigatório mandar o filho à Escola? O pai do rapaz disse: “ se a senhora lhe der de comer”
Sem trocarem mais palavras, seguiram para o Monte Santana, onde a professora tentou, junto de mães e país, sensibilizá-los para a importância de mandarem os filhos à Escola.
Os primeiros dias de aulas foram para aprender a escrever as vogais e os algarismos. Mas, José não encarreirava com o número nove: a professora dizia-lhe que era uma bolinha com um pauzinho do lado direito, e ele colocava-o do lado esquerdo, fruto de lhe terem, em bebé, atado o braço esquerdo ao pescoço, para que não fosse canhoto? A professora resolveu o problema dando-lhe uma palmada, o que fez com que não voltasse a colocar o pauzinho do lado direito, mas o sentido de orientação não teve conserto, ficou baralhado, para o resto da vida!
Tudo corria normalmente, até que numa manhã, por volta das dez horas, uma rapariga pediu à professora para ir lá fora, o que significava ir fazer as necessidades. Mas, a professora não a autorizou porque estava quase na hora do intervalo, pouco depois a rapariga abriu as pernas e regou a sala de aulas. De seguida a professora mandou todos para o recreio, sem qualquer referência ao sucedido. Nem os rapazes, nem as raparigas usavam cuecas: elas usavam vestidos e eles calças ou calções! (continua)
José Silva Costa