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08
Fev24

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

47

A Rosinha e o Januário estavam a viver um período de lua-de-mel. Com os filhos criados, o negócio a correr bem, os filhos e o genro pediram-lhes para irem descansar uns dias, que eles substituíam-nos no trabalho

Os pais estavam hesitantes, por um lado desejavam e agradava-lhes a ideia dos filhos, mas não queriam que se sacrificassem por eles

Os três (Leopoldina, Roberto e Jeremias) decidiram debater o assunto, para tentarem que os pais aceitassem o pedido deles

O Jeremias foi o escolhido, para os convencer, por acharem que seria mais difícil dizerem não, ao genro

Disse-lhes que os três lhes pediam que aceitassem a sua sugestão, para descansarem uns dias, porque tinham estado muito tempo separados e precisavam de uns dias só para eles

Não tiveram, como dizer não, agradeceram-lhe, dizendo-lhe que era um bom filho, que os três eram os melhores filhos do mundo

O Jeremias não cabia em si de contentamento, por os ter convencido a descansarem uns dias.

O cunhado e a mulher agradeceram-lhe o empenho. Mas a Leopoldina não deixou de lhe dizer que ele era um bom genro e um marido muito querido

A Rosinha e o Januário não sabiam o que fazer com o tempo livre, que tinham, por não irem, para o campo, trabalhar

Decidiram voltar aos sítios onde se conheceram e viveram os primeiros tempos, juntos

À noite, quando a família se reunia, aproveitavam para contarem aos filhos a sua história

Pelo meio, o Januário falava da sua grande aventura de ter ido de Lisboa ao Japão, de todas as peripécias de tão grande viagem, as razões por que não quis voltar a Lisboa, o facto deter feito a viagem com a Miquelina, sem saber que era uma mulher

Os filhos e o sobrinho ouviam-nos com muita atenção, ávidos por saberem toda as suas histórias e também as da Miquelina e do Ezequiel

O que mais os intrigava era o fato da Miquelina ter feito a primeira viagem, de Lisboa ao Japão, disfarçada de homem, sem que ninguém tivesse desconfiado

O Zacarias queria que a mãe explicasse por que razão tinha feito uma viagem como homem

A mãe explicou-lhe que na primeira viagem, o Comandante da frota não admitia mulheres a bordo

Como queria muito fazer a viagem, decidiu arriscar, tentando fazer de tudo para que não descobrissem que não era homem, acrescentando que desempenhou tão bem o papel de homem, que nem o tio Januário, com quem teve de reparar um mastro, desconfiou que não fosse um homem.

 

Continua

 

 

18
Jan24

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

44

A chegada de portugueses e espanhóis às américas fez descer a temperatura da Terra

A colonização dos continentes americanos, que foi levada a cabo por portugueses e espanhóis provocou tantas mortes entre os povos indígenas que teve efeitos significativos no clima da Terra, levando a um drástico arrefecimento do planeta

Uma conclusão da University College London, Reino Unido

Dos cerca de 60 milhões de pessoas, que viviam nas Américas, no fim do século XV (cerca de 10% da população do mundo) diminuiu para apenas 5 ou 6 milhões, em cem anos (BBC/ZAP) (18/11/2023)

Este período de arrefecimento é conhecido por Pequena Era do Gelo, e foi uma época em que as tempestades de neve eram comuns em Portugal, e o Rio Tamisa, em Londres, congelava durante o inverno, com vários países europeus a viverem períodos de fome 

A Rosinha ouviu todos os membros das duas famílias, sobre o que pensavam ou sugeriam para modernizar os métodos de produção, para aumentarem a produção, uma vez que a cidade de Luanda, cada vez, precisava de mais produtos alimentares, devido ao aumento populacional

Por outro lado, queria aumentar o rendimento de todas as mulheres, que a eles se tinham  associado, acreditando nas qualidades da Rosinha, bem como da sua equipa, o que fazia com que todos estivessem muito empenhados, para não defraudarem as expectativas, que neles tinham sido depositadas

Começaram por construir novos utensílios para fabricarem a terra, todos contribuíram com as suas ideias, o que fez com que a produção duplicasse

Passado cerca de um ano, aquando da primeira colheita, foi muita a alegria, por verem os bons resultados

Nas sanzalas, ao redor da cidade, foram organizadas batucadas, para comemorarem e agradecerem àqueles dois casais as boas novidades

Mas a Rosinha, a Miquelina, o Januário, o Ezequiel e os seus filhos fizeram questão de dizer que não era obra deles, mas de todos os que se tinham associado, participando  naquela maravilhosa aventura

A Rosinha aproveitou os bons resultados, para numa assembleia geral, propor às suas associadas que se unissem noutras tarefas, como a construção das cubatas, os cuidados com os filhos, ou outras que elas considerassem que se podiam unir, para melhor funcionarem

Todas aplaudiram as suas propostas, prometeram pensar no assunto e, em nova assembleia, decidiriam, em conjunto, o que fazer.

Continua

 

 

07
Dez23

O Império

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O Império - As teias que o Império teceu

 

38

 

Em Luanda, todos estavam muito preocupados por não saberem nada do Januário, a Leopoldina e o Roberto bem viam a tristeza em que a mãe vivia

A ocupação na agricultura e o sucesso do seu novo projeto faziam com que por momentos esquecesse a ausência do marido

Também os filhos faziam de tudo para que a mãe não estivesse, sempre, a falar no regresso do pai, incentivando-a a produzir mais, associando-se a mais mulheres, para conseguirem abastecer a cidade

O que faria com que conseguissem viver só da agricultura e deixassem de vez o negócio da escravatura

Cada vez havia mais senhoras a quererem associar-se à Rosinha, não só por ela ser uma boa gestora, mas por cumprir com a sua palavra, pagando um preço justo e a tempo

Ela e a Miquelina geriam uma associação de muitas mulheres, que cultivavam vários alimentos, indispensáveis ao sustento da população da cidade de Luanda

Até o Governador, Salvador de Sá, pediu ao Ezequiel que transmitisse a sua admiração e gratidão à sua esposa, cunhada e restantes mulheres, pelo seu excelente trabalho e grande contributo para o desenvolvimento da agricultura, fazendo com que tivesse feito melhorar a vida das famílias das senhoras da associação das agricultoras

No Brasil, o Januário, quando já tinha perdido as esperanças de encontrar os familiares, um dos guias convenceu-o a visitarem mais umas fazendas, numa delas, o fazendeiro disse-lhe que tinha uma vaga ideia de terem trabalhado, na sua fazenda, os três escravos, que procurava

Mas, como não conhecia todos os escravos, que trabalhavam para ele, o melhor era irem falar com o que, ainda, estava vivo, para confirmarem se eram os que ele procurava

Eram mais de 2.000 escravos, que trabalhavam naquela fazenda. O que fez com que fossem precisos muitos dias em conversações, com muitos deles, para tentar encontrar os familiares da Rosinha

O Januário não fazia a mínima ideia das condições em que os escravos viviam e trabalhavam naqueles engenhos de açúcar, antes de chegar ao Brasil

Quis fazer algumas perguntas aos escravos, sobre as condições de trabalho, alimentação e descanso, mas os capatazes que os fazendeiros, em todas as fazendas, mandaram que o  acompanhasse, nunca permitiram que o fizesse.

 

Continua

 

25
Mai23

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

10

O Januário fazia tudo para merecer a admiração daquela família, que em breve, esperava fosse também a sua

Sempre agarrado à sua Rosinha, procurava ajudá-la em tudo o que podia, até nos trabalhos do campo, onde só se viam mulheres a trabalhar

Mulheres e homens estavam todos muito admirados com aquele banco, nunca tinham visto nenhum branco a viver com uma preta, no quimbo, e a fazer trabalhos que eles nunca faziam, uma vez que só se dedicavam à caça e à pesca. Os outros trabalhos eram para as mulheres

O Soba, que tinha mais de uma dúzia de mulheres, quanto mais mulheres um homem tivesse, mais rico era, porque elas é que trabalhavam, uma delas, irmã da Rosinha, achou aquela ligação e procedimentos muito estranhos, e receava que aquele casal viesse destabilizar a sua comunidade

Os Sobas eram, não sei se continuarão a ser, as pessoas a que toda a sua comunidade obedecia, sem contestação

Assisti, em 1970, perto de Nova Lisboa, à escolha de homens para irem trabalhar numa fazenda de café, no norte de Angola, os chamados contratados, que deram origem a uma canção de protesto

A população estava toda reunida: homens, mulheres e crianças, por perto estava um autocarro vazio, para encher, era quase pôr-do-sol, o Soba ia correndo o olhar, e de repente apontava para um homem, que sem qualquer resistência ia para o autocarro, mesmo que a mulher gritasse, chorasse e o quisesse segurar, e foi assim até o autocarro ficar cheio e ter sido fechado

Só no dia seguinte é que seguiriam para o seu triste destino de onde muitos não voltariam

"Eu queria escrever-te uma carta, amor
Uma carta que dissesse deste anseio
Deste anseio e te ver
Deste receio de te perder
Deste mais que bem querer que sinto
Deste mais que bem querer que sinto
Deste mal indefinido que me persegue
Desta saudade a que vivo todo entregue

Eu queria escrever-te uma carta, amor
Eu queria escrever-te uma carta, amor
Uma carta de confidências íntimas
Uma carta de lembranças de ti
De ti
Dos teus lábios vermelhos como tacula
Dos teus cabelos negros como diloa
Dos teus olhos doces como macongue
Dos teus seios duros como maboque
Do teu andar de onça
E dos teus carinhos
Que maiores não encontrei por aí

Eu queria escrever-te uma carta, amor
Que recordasse nossos dias
Nossos dias na capopa
Nossas noites perdidas no capim
Que recordasse a sombra
Que recordasse a sombra que nos caia dos jambos
O luar que se coava das palmeiras sem fim
Que recordasse a loucura
Da nossa paixão
E a amargura da nossa separação

Eu queria escrever-te uma carta, amor
Que a não lesses sem suspirar
Que a escondesses de papai Bombo
Que a sonegasses a mamãe Kiesa
Que a relesses sem a frieza
Sem a frieza do esquecimento
Uma carta que em todo o Kilombo
Outra a ela não tivesse merecimento

Eu queria escrever-te uma carta, amor
Eu queria escrever-te uma carta, amor
Uma carta que ta levasse o vento que passa
Uma carta que os cajus e cafeeiros
Que as hienas e palancas, que os jacarés e bagres
Pudessem entender
Para que se o vento a perdesse no caminho
Os bichos e plantas
Compadecidos de nosso pungente sofrer
De canto em canto
De lamento em lamento
De farfalhar em farfalhar
Te levassem puras e quentes
As palavras ardentes
As palavras magoadas da minha carta
Que eu queria escrever-te amor

Eu queria escrever-te uma carta
Mas, ah, meu amor, eu não sei compreender
Por que é, por que é, por que é, meu bem
Que tu não sabes ler
E eu - Ó! Desespero! - não sei escrever também
Não sei escrever também "

(Carta de António Jacinto  do AmaralMartins, Luanda 28 de setembro de 1924 - Lisboa 23 de Junho de 1991)

Continua

 

02
Mar23

A sedutora

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Lisboa! A sedutora

19

Chegou o dia da prova escrita, com muito nervoso miudinho, lá foi até à Praça José Fontana, conhecer mais um Liceu, aquele que homenageia o seu poeta preferido

Correu bem, quando saíram os resultados, estava aprovado, ia à prova oral

No dia em que fosse fazer a prova oral, telefonaria à namorada para lhe dizer o resultado, dizia-lhe que era muito importante ir graduado em sargento, para ela poder ir ter com ele ao teatro de guerra, caso houvesse condições para isso, mesmo que pensasse que isso nunca aconteceria

Ela não tinha telefone, mas uma vizinha tinha, por ser telefonista da Anglo Portugueese Telephone, empresa inglesa, que explorava os telefones de Lisboa e Porto, e dava trabalho a muitas mulheres, como telefonistas, as chamadas eram manuais, tinha de se pedir à telefonista para marcar o número para onde se queria falar, uma vez que a empresa não fez grandes investimentos, porque o contrato de conceção estva a terminar

No dia em que fez o exame da prova oral, mal soube que tinha ficado aprovado, dirigiu-se para o jardim defronte do Liceu, onde havia uma cabine telefónica pública, e ligou para a namorada, para lhe dar a boa novidade

Foi um dia determinante para o seu futuro, conseguiu subir um degrau, em vez de ser incorporado como praça, passou a ter acesso à classe se sargentos 

Em breve iam casar-se, como tinham 20 anos, eram menores, tiveram de pedir autorização aos pais para se poderem casar

O patrão e os irmãos juntaram-se para lhe oferecerem, como prenda de casamento: a cama e o colchão, as mesas-de-cabeceira, uma mesa e dois bancos, uma excelente prenda para encherem o quarto, vazio, que tinham alugado

Dois meses depois, em setembro, casaram-se, foram viver para o quarto, que tinham alugado  na Rua da Imprensa à Estrela, por de trás do Palácio de São Bento, residência oficial do Presidente do Conselho de Ministros

Um prédio de dois andares, no rés-do-chão viviam: a dona casa, o marido, a filha e o filho, maiores, um casal com um filho bebé e o casal em lua-de-mel, no andar de cima viviam: um maestro, a esposa e os nove filhos

O jovem casal todos os dias adormecia ao som do piano. Ela, como passava mais tempo em casa, dizia que já não podia ouvir mais piano

Ele tinha de ir todos os dias para a escola, não queria deixar de estudar, mesmo que a primeira etapa já estivesse conquistada

Tinha um novo professor de português (Manuel dos Santos Alves) um Camoniano, que andava a elaborar um dicionário de Os Lusíadas, de vez em quando dizia que ao mesmo tempo que ele andava a decifrar Os Lusíadas, outros andavam a ler A Bola

Também tinha livros de interpretação de Os Lusíadas, que vendia aos alunos

A sua aula era a última da noite, das 23 às 24 horas, todas as noites chegava com o vespertino debaixo do braço, foi ele que os informou que a guerra entre os israelitas e os árabes tinha começado, a guerra dos seis dias

Quando entrava na sala de aula, já alguns estavam a dormir, acordava-os declamando os versos de Camões.

Continua

 

01
Dez22

A sedutora

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Lisboa! A sedutora

6

A guerra, primeiro em Angola, depois na Guiné e em Moçambique, veio ajudar a transformar o País

Com, cada vez, mais homens mobilizados para as frentes de combate, as mulheres tiveram de ocupar os postos de trabalho, que os homens já não podiam assegurar

Foram mobilizados homens, que já tinha cumprido a vida militar há 10 anos ou mais, como oficiais milicianos, que tinham as suas vidas organizadas, obrigaram-nos a deixar o emprego, as mulheres e os filhos, graduaram-nos em capitães, comandavam uma companhia, e eram eles que com sargentos e praças iam para o mato

As Escolas Práticas e outros centros de formação de oficiais milicianos não conseguiam mobilizar os jovens suficientes para oficiais, porque eram poucos os que tinham, pelo menos o sétimo ano do liceu, para poderem ir para o curso de oficias milicianos

Em 1968, nas Caldas da Rainha, nos cursos de instruendos para sargentos, finda a recruta, os oficiais pediam para os elementos de cada pelotão, por voto secreto, escolhessem três camaradas para irem para o curso de oficiais milicianos, a escassez obrigou à criação da exceção

Não eram só os militares que tinham dificuldades em recrutar homens com estudos.

Também as empresas não conseguiam encontrar trabalhadores qualificados, para os seus quadros, algumas davam formação, pós laboral aos seus trabalhadores e pagavam-lhes aulas em institutos e escolas de línguas, para aperfeiçoarem, principalmente, o inglês

Algumas empresas, de representações de produtos estrangeiros, tinham dificuldade em satisfazer os pedidos dos seus representados, para que se deslocassem às suas fábricas, técnicos para formação, no sentido de prestarem melhor assistência, pós venda, por não saberem inglês  

A forte emigração, nos anos 60 e 70, também contribuiu para um grande desenvolvimento com o envio das suas poupanças para o nosso País. Todos tinham a ambição de mandarem construir vivendas, nas suas terras natal

A construção civil teve um grande incremento, bem como os Bancos, que com as remessas

dos emigrantes, tiveram de admitir muitos trabalhadores, quase só homens, mas a pouco-e-pouco as mulheres foram chamadas para mais setores de atividade

A nacionalização dos Bancos, devido ao golpe militar do 11 de Março de 1975, contribuiu para que as bancárias e bancários, que vieram das antigas colónias, tenham sido integrados nos bancos nacionais

A descolonização não foi perfeita, mas foi a possível, poderia ter sido diferente, se tivesse acontecido antes dos movimentos de libertação terem iniciado a guerra

Todos os que abandonaram as antigas colónias e vieram para Portugal, apesar de terem passado por muitas dificuldades, foram integrados e contribuíram para a dinamização do País

Somos um País pequeno e pobre, mas um povo grande e acolhedor.

Continua

 

03
Nov22

A sedutora

cheia

Lisboa! A sedutora

(2)

Lisboa fervilhava de criados e criadas, enquanto as províncias iam ficando sem jovens, que já não se sujeitavam aos trabalhos do campo, onde labutavam os pais e os avós

Na grande cidade poucas mulheres trabalhavam, só as mais pobres, as outras, competia ao marido assegurar o rendimento, para o sustendo da casa, incluindo o contrato de criada ou criadas

Nos bairros chiques, as casas tinham porteira, e nas traseiras, as escadas em ferro (as escadas de serviço) por onde leiteiros, carvoeiros, padeiros, merceeiros ……….. transportavam, diariamente, os bens de primeira necessidade de que as  famílias precisavam

Às porteiras competia a limpeza da entrada e escada interior, algumas tinham as chaves de todos os condomínios para que, caso os condóminos se esquecessem das suas, elas lhe abrissem a porta da casa

Na rua da Imprensa Nacional, uma porteira tinha muito brio em que a escada estivesse, sempre, a brilhar: ela lavava-a e dava-lhe cera, o marido puxava o brilho, viviam felizes por único filho andar no sétimo ano do Liceu, prestes a entrar para a Universidade, o que não era habitual, os filhos dos pobres chegarem ao ensino superior

Como sempre, há bons e maus patrões: os que respeitavam os rapazes e as raparigas, tratados com dignidade, como dizia o contrato verbal, mesa, cama e roupa lavada

Mas também havia quem lhes batesse, quem abusasse das raparigas, comer e cama indignos

Criadas e criados estavam numa situação muito fragilizada, sem familiares por perto, entregues à sua sorte, na grande cidade, dependentes da mesa e da cama, quase impossibilitados de dizerem não, sem horário de trabalho, nem feriados, nem férias

Nos estabelecimentos estavam afixados os horários de trabalho, mas era só para inglês ver

De anos a anos apareciam os fiscais do trabalho, para verificarem o horário de trabalho, se os empregados estavam inscritos na Caixa de Previdência, e no caso dos que trabalhavam com produtos alimentares era obrigatório ter cartão de sanidade

Para além dos criados e criadas, existiam os vendedores ou compradores com os seus pregões

A mulher da fava-rica:“ fava-rica, dos figos: “quem quer figos, quem quer almoçar”, a varina: “sardinha vivinha, da costa”, o homem do ferro velho: “quem tem trapos, jornais ou garrafas para vender”, e sem pregões, as lavadeiras de Caneças, que todas as semanas entregavam a roupa lavada e levavam a suja, e os vendedores de água de Caneças, em bilhas de barro

Não faltavam os peditórios para os Bombeiros Voluntários, para os Invisuais e para os Inválidos do Comércio: colocavam um carro em cima de uma camioneta, sem tapais, e vários homens abordavam os transeuntes e os lojistas, para lhes venderem as rifas, para o sorteio do carro

Nos anos 60 ter um carro era o sonho de muita gente, que só o conseguiria num sorteio ou na participação de um concurso

Somos muito solidários, mas com engodo, ainda, muito mais!

Continua

 

02
Jun22

Guerras!

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Guerras!

Há quem não tolere guerras

Que ache que a Ucrânia devia ter sido entregue ao invasor, sem resistência

Teria sido uma boa oportunidade para premiar o invasor

Por ser um exemplo no cumprimento das leis que regulam as guerras

Tanto assim, que não está em guerra com a Ucrânia

É uma operação especial para, a Ucrânia, libertar!

A prova provada de que o Putin é incapaz de fazer guerra seja a quem for

Gosta mais de anexar os territórios, que a cobiça não o deixa descansar

Não gosta de mortes nem de destruição

Nos ataques só usa armas de alta precisão

Para não atingir habitações nem civis

Só tem atingido alvos militares

Os soldados russos ainda não mataram crianças, mulheres, nem homens civis, nem violaram nenhuma mulher

Não roubaram nenhuma casa, nem enviaram toneladas de material furtado, para a Rússia 

A única coisa que Putin quer é criar uma Eurásia de Lisboa a Vladivostok

E segundo os seus admiradores não se deve contrariar o senhor

Porque ele não gosta de ser contrariado, e diz-se o mais bem armado

A sua lei é a lei da bala

O que muito honra os seus admiradores

Está muito preocupado com a fome no mundo

Já disse que se fizerem o que ele quer, podem ir carregar o trigo

Como se vê, desde que todos se verguem ao poder do Putin, o mundo pode ser uma bonita flor

Diz que as sanções estão a prejudicar o povo russo

Mas, a sua operação de libertação, ainda não prejudicou ninguém

Comparam o imperialismo americano com o russo

Mas, esquecem-se de dizer que um imperador é eleito e o outro alterou as leis para não o apearem

Os admiradores de tão boa pessoa devem propor que lhe seja atribuído o prémio Nobel da Paz.

José Silva Costa

 

 

 

 

 

 

25
Fev21

Vidas (16)

cheia

Vidas

Continuação  (16)

AS mulheres, naquele tempo, não tinham muitas hipóteses de emprego. O habitual era ficarem em casa, a tomarem conta do filho, ou na redoma de vidro, à espera do marido, levar os filhos ao colégio, jogar à canasta com as amigas.

 As freguesas diárias a quem, todos os dias, ia perguntar o que necessitavam, porque não havia onde os alimentos conservar, quase todas tinham criadas: uma, duas, três ou mais

Tudo dependia do estatuto social, ou do agregado familiar. Os casais que tinham três, quatro ou mais filhos, e possibilidades, tinham pelo menos três criadas: a cozinheira, a criada de fora e a dos meninos

Como não havia eletrodomésticos, tudo era feito manualmente! A lavagem da roupa ficava a cargo das lavadeiras de Caneças, que semanalmente traziam a trouxa lavada e levavam a suja

As que trabalhavam fora de casa, para além das vendedeiras, porteiras: classe baixa, eram as enfermeiras, as hospedeiras de bordo, as professoras

Os homens tinham de assegurar o rendimento para o lar. Quem não conseguia pagar uma renda de casa, tentava arranjar outro casal para a ajudar a pagar ( parte de casa), e casais havia, que alugavam um quarto, fazendo com que três casais vivessem numa casa: a dona da casa e mais dois casais, com direito a serventia da cozinha e casa de banho (uma) 

Foram estas condições de habitação, que fizeram com que os prédios, que nasceram como cogumelos, à volta da cidade, principalmente ao longo da linha férrea de Sintra, parecessem um paraíso

Ter ou alugar uma casa foi o que fez com que os mais pobres tenham sido empurrados para fora da cidade. Primeiro foi para a Amadora, depois toda a linha de Sintra, e ultimamente, muitos, dos que vivem no litoral Oeste, vão todos os dias trabalhar para Lisboa. Um país amontoado no litoral e deserto no interior

Um conterrâneo, do José, foi, para Lisboa, trabalhar para uma fábrica de tapetes para automóveis. Ao fim de alguns meses decidiu ir trabalhar por conta dele. Alugou umas águas furtadas, comprou dois rolos de tecido em cairo, para tapetes, um para fazer o tapete da frente e outro o de trás. Durante o dia visitava os standes, para angaria encomendas, de noite fazias, e no dia seguinte ia entrega-las. Naquele tempo, o automóvel era uma preciosidade, por isso era preciso estimá-lo. Assim, vendiam-se muitos tapetes, em cairo, para protege-los.

Devido ao crescimento do negócio, alugou um primeiro andar na rua da paz. Convidou o irmão mais velho, que trabalhava nas obras, depois de ter vindo de Macau, para onde tinha pedido para ir cumprir o Serviço Militar, como maqueiro, com a intenção de ficar por lá. Mas chegou à conclusão que não podia competir com os chineses

Como o negócio continuava a crescer, disse ao José se queria ir trabalhar para ele. José tinha a oportunidade de ter um horário de trabalho de 48 horas semanais. Pela primeira vez ia ter um dia de folga: o domingo

Ainda podia fazer horas extraordinárias, pagas à peça, receberia uma importância, a combinar, por cada tapete e uma mensalidade superior ao que estava a ganhar. O José ficou de lhe dar uma resposta.

Continua

 

 

08
Dez19

Balanço

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Natal

Aproxima se mais um Natal, fim-de-ano, balanços, retrospetivas de mais um ano

Uma época muito especial, em que todos querem reunir as famílias

Mais nenhuma data é tão forte, que provoque tão grande movimentação

Uma rotação anual, para as distâncias encurtar, graças ao poder voar

Como é que há quem questione se avançámos, assim tanto!

Como se no último século não tivéssemos feito, quase tudo

Menos o essencial: acabar com as guerras, com a fome, com as desigualdades, com a poluição, que nos consome

Foi e será sempre assim, a ambição de alguns não se condoe com o bem de todos

Por isso, uns tanto avançam, enquanto outros ficam parados no tempo

Outros tentam travar e parar a revolução dos que querem que o ar continue respirável

Aproveitemos esta reunião familiar, para o futuro saborear, sem os problemas descorar

Porque não é enterrando a cabeça na areia, que vamos lá chegar!

Está nas nossas mãos, o fumo dos carros reduzir, sem fanatismos, racionalmente

Ou queremos que a sua comodidade, lentamente, nos vá matando!

Quem é que está do lado certo, do lado errado, sem falar dos que não estão em nenhum lado!

Este século já nos mostrou que tudo é possível!

Problemas de séculos parecem estar em vias de resolução, redução

Respeitar as mulheres, nas diversas dimensões: igualdade no local de trabalho, ser respeitada no local de trabalho, no lar, na via pública

São séculos de subalternização, que não vão desaparecer de um dia para o outro!

Mas, estas duas décadas, do século XXI, fizeram mais que todos os outros!

Estou esperançado de que este é o século das luzes, da humanização, de que duma vez por todas compreendermos que somos todos irmãos, que temos direito a uma vida digna, sem exploração.

José Silva Costa

 

 

 

 

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