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24
Ago23

O Império

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O Império - As teias que o Império teceu

23

Chegou a hora de deixarem o barco e darem um salto para o desconhecido: a Cidade de Luanda

Depois do almoço, pelas 15 horas, a Miquelina e o Ezequiel puseram pé em terra firme, faltavam 3 horas para a noite se abater sobre a cidade

Mal tiveram tempo de dar uma vista de olhos pela cidade. De repente a escuridão engoliu a cidade e eles só tiveram tempo de se abrigar num recanto, debaixo de uma árvore

Não havia nada que lhes conseguisse roubar a magia da primeira noite, juntos, e dos primeiros beijos. Entre beijos e abraços, no romantismo da noite escura, as 12 horas passaram num abrir e fechar de olhos, quando menos esperavam, o sol apareceu a beijá-los com todo o seu esplendor

Levantaram-se do assento onde passaram a noite, abraçaram-se, beijaram-se e gritaram: “Viva o Amor”

Como tinham combinado, iniciaram o dia a pedir ajuda, tentaram contar a sua história a várias pessoas, uns ouviram-nos, outros não, ninguém se mostrou interessado em ajudá-los

Resolveram bater às portas, umas não se abriram, outras abriram-se, mas ninguém estava em condições ou os queria ajudar, estavam quase a desanimar, mas uma  abriu-se de par em par

Foi a de uma família, que conhecia um Januário, não sabiam se seria o irmão do Ezequiel, fosse ou não, tinham uma casa à disposição, por o tempo que fosse necessário

E, prometeram-lhes enviar um emissário a casa do Januário, para o informar de que tinha chegado, de Lisboa, um Ezequiel, que procurava um irmão, chamado Januário, e que o forasteiro e a sua companheira estavam hospedados na casa deles

Três dias depois, deu-se o reencontro dos irmãos, foi um  momento de muita alegria e emoção, que culminou com um forte abraço

De seguida, o Ezequiel apresentou-lhe a Miquelina, dizendo-lhe que era a sua companheira, que tinham vindo na carreira da Índia, e que ficaram em Lunda, para o verem e começarem uma nova vida, noutro Continente

A Miquelina aproveitou para dizer, ao Januário, que já o conhecia da anterior viagem, e que tinham reparado um mastro, juntos

Ele respondeu-lhe que até sair, em Luanda, não viu nenhuma mulher a bordo, mas ela conseguiu que ele se lembrasse do momento em que os dois estiveram a reparar o mastro, não deixou de lhe dizer, que estava muito bem disfarçada

Beijaram-se, disse-lhe que era muito bem-vinda e que estava muito contente, por ter uma linda cunhada.

Continua

 

 

17
Ago23

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

22

O Januário, assim que soube que as naus tinham atracado ao cais de Luanda, foi passando, por lá, todos os dias

Mas, não conseguiu encontrar ninguém conhecido, nem ninguém que lhe desse as notícias  desejadas sobre a sua amada Lisboa

A notícia que todos queriam revelar, por ser uma coisa invulgar, era a de que abordo viajava uma mulher

Januário, também, ficou muito surpreendido e tentou que lhe descrevessem a mulher, para ver se faria algum sentido, a armada trazer uma mulher a bordo

Disseram-lhe que era uma mulher muito bonita, muito competente no seu trabalho de gerir os mantimentos e fazia equipa com um rapaz da sua idade, que se chamava Ezequiel

Quando falaram em Ezequiel, ainda, disse que era o nome do seu irmão, mas nunca pensou que fosse ele

Despediu-se, desejando-lhes boa viagem, e que continuaria a passar por ali, todos os dias, para ver se se cruzava com alguém conhecido, queria saber mais de Lisboa

Finalmente, as quatro naus chegaram a Luanda. A Miquelina e o Ezequiel tinham muito trabalho pela frente, para reabastecerem as naus, enquanto esse trabalho não estivesse feito, não teriam autorização para saírem

Não era fácil o reabastecimento, porque não havia a quantidade de produtos necessários, o que fazia com que tivessem de aproveitar tudo o que houvesse, incluindo as frutas e em especial as bananas, que eram, sempre, em grande quantidade

Ao décimo segundo dia, depois de chegarem a Luanda, a primeira parte do trabalho da Miquelina e do Ezequiel estava completo

As frutas e os vegetais só eram embarcados poucos dias antes das naus se fazerem ao mar, de novo

Se tudo correr como planeado, a Miquelina e o Ezequiel, em breve, abandonarão o barco e darão um salto para o desconhecido, sem saberem o que os esperará, faz parte da aventura

O Januário já estava cansado de todos os dias passar pelo cais, sem que conseguisse obter notícias relevantes

Mas, iria continuar, todo os dias, os seus esforços, enquanto os barcos se mantivessem atracados, para saber mais de Lisboa, de quem tinha tantas saudades, principalmente da mãe e do irmão

A procura de uma vida melhor leva-nos, tantas vezes, a perder tanta coisa: o não acompanhamento do crescimento dos filhos, a separação do casal, o convívio com os outros familiares e amigos, um clima a que estamos habituados, o local onde nascemos, que é tão importante, pelo simbolismo, que carrega.

Em certos casos, não sei se compensam tantos sacrifícios, para tão poucos proveitos

A emigração da última metade do século passado levou-nos a aceitar os duros trabalhos que outros não queriam, era uma emigração clandestina, que fazia com que aceitássemos as condições impostas pelos patrões

Hoje, felizmente é diferente, não deixando de ser um desenraizamento e um grande empobrecimento, para o país que, se empenha na formação dos jovens, os vê partir à procura de melhores condições de vida, contribuindo para o enriquecimento de outros países.

Continua

 

 

 

20
Jul23

O Império

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O Império  -  As  teias que o Império teceu

18

 

As naus da armada, que já há longos meses tinham zarpado de Lisboa, continuavam a enfrentar grandes tempestades

Depois de terem tido de aportar no Funchal, na Ilha da Madeira, quando se fizeram, de novo ao mar, foram novamente fustigados por mais e maiores tempestades

Devido à destruição de velas e mastros tiveram de atracar, também, no porto de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, nos Açores

A Miquelina estava surpreendida com tantas e tão violentas tempestades, esta viagem não tinha nada a ver com a sua primeira viagem

O Ezequiel e a Miquelina voltaram a encontrar-se em terra, antes de dizer qual era a sua decisão, a propósito do convite, para ficarem os dois em Luanda, questionou-o sobre que planos é que tinha, para viverem em Angola

Ficou um pouco atrapalhado, mas não teve outro remédio senão dizer que não tinha nenhum plano, contava com a ajuda do irmão

Respondeu-lhe que isso não a tranquilizava, e se não o encontrassem, o que fariam

Tentou convencê-la de que não seria muito difícil encontra-lo, porque a cidade não deveria ser muito grande, era uma cidade jovem, ainda em formação, onde dois jovens como eles, não triam problemas para sobreviverem

Mas, ela não estava nada convencida das facilidades, pelo contrário, achava que poderiam não  o conseguir encontrar, porque Angola era muito grande, e ele poderia não ter ficado na cidade

Tentou pôr fim a tantas dúvidas, disse-lhe que o melhor era não sofrerem por antecipação, quando lá chegassem veriam o que fazer, queria era saber qual era a decisão dela

Começou por lhe dizer que nem ela sabia o que fazer, mas que estava muito cansada daquela viagem, tão diferente da outra, sempre rodeada de tempestades, não lhes dando folga, nem para respirarem

Vendo que ele estava ansioso, quase a explodir, disse-lhe que gostava muito dele, estava disposta a ir com ele, para o bem e para o mal, para todo o lado

Ezequiel estava radiante, não resistiu, beijou-a e abraçou-a, ela, também, ficou felicíssima

Quando chegassem a Lunada, iam começar uma nova vida, noutro continente, de uma luminosidade atraente, quente, em estado selvagem, onde viajar é uma aventura continua

Beijaram-se mais umas quantas vezes, como se estivessem a despedir, para uma separação de meses ou anos, iam voltar ao navio, mas tinham de continuar indiferentes, fingindo não estarem apaixonados, eram, apenas, colegas de trabalho, como única mulher a bordo tinha de a todos tratar por igual, para que por todos fosse respeitada

Tinham de continuar a desempenhar os seus papéis, para que ninguém desconfiasse, até que a armada, a Angola, chegasse

Dali em diante os papéis eram mais difíceis de desempenhar, tinham de desviar os olhares, para que ninguém desconfiasse

O Capitão já andava de olho neles, por vezes referia-se a eles, dizendo que era o casalinho, e isso não deixava a Miquelina, nada tranquila

Sabia que não tinha cometido nenhum erro, mas o facto de trabalharem os dois, dava azo a essas piadas, temia que o Ezequiel se esquecesse das regras e deitasse tudo a perder.

 

Continua

 

 

 

06
Jul23

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

16

O Comandante tinha razão. Foi preciso esperar mais um século, para que o médico escocês James Lind, no ano de 1747, relacionasse a mortalidade dos marinheiros à deficiência de vitamina C

O fator antiescorbuto nos mais diversos alimentos só foi descoberto, isolado e denominado de vitamina C, no ano de 1928, pelo cientista Albert von Szent-Györgyi

O Comandante disse, à Miquelina, que faria equipa com o Ezequiel. Mas antes de lhe dizer qual seria a sua missão, avisou-a de tinha de ser exemplar no relacionamento com resto da tripulação, era a primeira vez que uma mulher, sem ser disfarçada de homem, fazia parte da tripulação de uma Nau, caso houvesse algum problema com o seu comportamento, deixá-la-ia no primeiro local onde aportassem

A Miquelina respondeu-lhe que tudo faria, para que fosse respeitada por todos

Feito o aviso, o Comandante disse-lhe que a missão deles seria gerir os mantimentos

A guarnição estava completa. Assim que as últimas verificações mostrassem que tudo estava de acordo com o planeado e o tempo o permitisse, fariam se ao mar

As condições meteorológicas desaconselhavam a saída para o mar, tiveram de esperar alguns dias. Mas o Comandante notou que a tripulação estava a ficar nervosa, sem a adrenalina de quem vai iniciar uma grande aventura, o que fez com que autorizasse que se fizessem ao mar

À saída da barra tiveram muitas dificuldades, temeram perder a vida, foi um mau começo, dirigiram-se para a Ilha da Madeira, onde chegaram com mastros partidos e velas rasgadas

Tiveram de ficar mais de quinze dias, na cidade do Funchal, para repararem os cinco navios, que faziam parte da frota, com destino a Nagasaki 

No Funchal, numa ida a terra, a Miquelina encontrou-se com o Ezequiel, aproveitaram para trocarem impressões sobre como estava a correr a viagem, uma vez que, dentro do barco,  falavam o indispensável e só sobre o trabalho, para que ninguém tivesse nada a dizer sobre o seu comportamento

O Ezequiel confidenciou-lhe que estava muito assustado com o que tinham enfrentado à saída da barra, receando que não conseguissem chegar a Luanda

Ela tentou tranquiliza-lo, dizendo-lhe que as naus estavam preparadas para enfrentarem grandes tempestades, e como ficava em Luanda, não assistiria às dificuldades, que costumam acontecer no Cabo das Tormentas

Ele aproveitou para lhe perguntar se não queria ficar, em Luanda, com ele, que estava apaixonado por ela, e além disso, para ela, a viagem já não tinha interesse, porque já a tinha feito, já sabia como era

Respondeu-lhe que ia pensar no assunto e depois dar-lhe-ia uma resposta.

 

Continua

 

 

08
Jun23

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

12

O Januário e a sua Rosinha continuavam muito felizes, por em breve terem nos seus braços o seu primeiro rebento, toda família partilhava dessa imensa felicidade

O Soba, depois de o conhecer melhor o Januário, pediu-lhe para o ajudar nas contas com o negócio dos escravos, nos quais também estava envolvido

Luanda teve um papel importante nos negócios da escravatura, por ser uma das mais importantes feitorias portuguesas na costa africana, fazendo com que fosse um centro de formulação e execução de operações militares contra reinos africanos

Foi, também, uma base de intensa diplomacia entre africanos e europeus

Os escravos podiam vir de prisioneiros de guerra, comprados por traficantes, ou por meio de emboscadas

Os escravos eram levados a pé até aos portos, onde eram revendidos aos europeus, a troco de mercadorias importantes como: tabaco, cachaça, pólvora

 Eram marcados a ferro quente para se saber a que comerciante pertenciam

Os barcos que os transportavam eram conhecidos por tumbeiros, por muitos morrerem na viagem

Três anos depois de o Januário ter deixado Lisboa, nasceu a primeira filha da Rosinha e do Januário, chamaram-lhe Leopoldina, toda a família ficou muito feliz com a chegada de mais um membro para a família, que vinha ganhando notoriedade desde que o Januário se tinha associado ao Soba, no negócio da escravatura

A armada, que tinha permitido ao Januário a grande aventura de ter ido ao Oriente, já tinha atracado em Lisboa, depois de terem descansado três meses em Angra do Heroísmo, Nos Açores

Foram recebidos em festa, toda a cidade acorreu ao cais, para aplaudirem os valentes homens, que tinham ido tão longe e passado tanto tempo no mar

Mal sabia a multidão que uma mulher, também tinha participado, sem que ninguém tivesse descoberto que era mulher

O irmão do Januário, o Ezequiel, mais novo dois anos, que tinha ficado em Lisboa, porque tinha de tomar conta da mãe deles, que entretanto morrera, também estava entre a multidão, junto à saída do barco, onde o irmão tinha embarcado

Já tinham saído quase todos, e o irmão não aparecia, resolveu perguntar, a um grupo que acabara de abandonar o barco, se conheciam o Januário, e se sabiam alguma coisa dele

Disseram-lhe que tinha ficado em Luanda, nada que o irmão não temesse, uma vez que, na despedida, lhe tinha dito que queria tentar a sua sorte numa Colónia

Como não tinha mais nenhum familiar, pensou em ir ter com o irmão, mas para isso tinha de tentar fazer como ele tinha feito.

Continua

 

 

30
Jun19

Canícula

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Canícula

O Mundo acordou a sorrir

Os “palhaços” voltaram a fazer-se ouvir

É melhor do que acordamos com o barulho dos tiros!

Não quer dizer que haja menos perigos

Continuam a morrer, por comerem de mais, menos

E, a morrer, por comerem de menos, mais

As guerras, os atentados, os acidentes continuam a matar

Dos que fogem de um lado para o outro, nem é bom falar!

Isso fica para os mares e os rios contarem

Porque, só eles sabem por que aflições estão, sempre, a passar

Tanto grito, choro e pedido de socorro!

E, aqueles que os ouvem e os vão ajudar

Estão sujeitos, à prisão, ir parar

Porque os que não os ouvem, têm a força da ovação

Dos que acham que não somos todos irmãos

Que não temos, todos, direito a casa e pão

Por que razão, gostamos tanto da acumulação!

Se sabemos, que chega o dia em que não precisamos de nada.

 

José Silva Costa

 

 

 

 

 

 

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