O Império
O Império – As teias que o Império teceu
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Finalmente chegara a hora do Januário embarcar para o Brasil. Munido da carta, do Governador de Angola, dirigida ao Governador do Brasil
A despedida foi muito triste e dolorosa: todos achavam que era uma missão muito difícil, receavam que a Januário não voltasse, mas ninguém tinha coragem de o dizer, pelo contrário, diziam que tudo ia correr bem e que em breve estaria de volta
A Rosinha já estava arrependida de o ter apoiado na ida ao Brasil, pela primeira vez a família ia separar-se. Mas, o que mais a preocupava era a hipótese do marido não voltar do outro lado do Atlântico
Embarcou num tumbeiro carregado com três mil escravos, em condições desumana, apertados, como sardinha em lata
Foram dois meses horríveis, todos os dias tinham de atirar os mortos ao mar
A viagem parecia nunca mais acabar, tantos dias só a ver mar
Quando chegaram ao Rio de Janeiro, quase metade dos escravos tinha morrido, e os que sobreviveram mal se conseguiam pôr de pé e andar
O Januário estava horrorizado. Mas, mais horrorizado ficou, quando viu as condições em que os escravos viviam e trabalhavam, nas fazendas
Acompanhado de dois guias, disponibilizados pelo Governador e de uma carta, que este lhe entregara, para poder visitar todas as fazendas que quisesse, passou ano e meio a calcorrear o Brasil, sem que conseguisse encontrar uma pista que o levasse a encontrar o sogro ou os cunhados
Muito longo é o Brasil, dizia ele para os acompanhantes, que respondia que ainda só tinha percorrido uma pequena parte
Visitou uma grande parte das fazendas de café, nem todos os fazendeiros se mostravam recetivos a que falasse com os escravos
Nos casos de maior resistência, o Januário mostrava a carta do Governador, o que fazia com que o deixasse cumprir a sua missão
Os três estavam exaustos, já tinham percorrido muitos quilómetros, sob temperaturas muito altas, grandes amplitudes térmicas, sem descansarem o suficiente
O Januário estva desesperado, cansado, sem conseguir uma pista, que o levasse a encontrar os familiares da Rosinha
Tinha muitas saudades dos filhos, da Rosinha, do irmão, da cunhada e do sobrinho, receava não voltar a vê-los
Todos os dias, de manhã, quando faziam os planos para o dia, os guias davam-lhe, sempre, muito apoio, incentivando-o a continuar, a não desistir, dizendo-lhe que de um dia para o outro poderiam encontra-los, e isso é que lhe dava força, para todos os dias prosseguir, mesmo que as pernas dessem sinais de não quererem andar mais
Quando elas não paravam de reclamar, combinava com os companheiros, descansarem mais umas horas
Houve dias em que não caminharam, ficavam a descansar, para que o corpo recuperasse de tanto esforço
Custava-lhe perder esses dias, queria acabar a missão, quanto antes, para voltar para o seio da família.
Continua