Pais (6)
Ao longo dos anos foram experimentando o que pensavam ser do seu agrado, mas como em tudo, só depois de se experimentar é que se sabe do que se gosta
A Inês acabou por escolher a natação e o Pedro o futebol. Mas o que os pais queriam era tirá-los dos ecrãs, sem ser à força, porque os computadores e os telemóveis vão ser os responsáveis por muitas miopias, uma doença irreversível, que vai atacar muitos dos jovens, que passam os dias sem verem o sol
O melhor estratagema, para os tirar dos computadores, é proporcionar-lhes uma atividade, que os entusiasme tanto ou mais que estar on-line
Faziam uma grande ginástica para acompanharem os filhos nos tempos livres, quando não dava para irem os quatro juntos, ia um par para cada lado, a Ana gostava de acompanhar o filho ao futebol
Desde o primeiro dia que tinha ficado horrorizada com o comportamento dos pais de miúdos de 10 ou 11anos, incentivando-os, sonhando com grandes craques, que fossem famosos e ganhassem milhões
Pais e mães gritavam de fora do campo: “ vai para cima dele, dá-lhe uma canelada, uma cotovelada, corre, remata, rasteira-o”
A Ana não queria acreditar no que via e ouvia, tinha de fazer alguma coisa, mas sentia-se um soldado contra um exército
Disse ao filho para nunca magoar, intencionalmente, os colegas ou os adversários, porque seria o suficiente para o tirarem do futebol
Quando contou, ao Francisco, o que se passava, este ficou curioso e disse que também queria ver o horrível espetáculo, porque nos poucos dias em que acompanhou o filho ao futebol, ou não houve, ou estava tão embevecido a ver o filho, que não deu por nada
Não sabiam o que fazer, mas não queriam enfrentar meia centena de pais enfurecidos a incentivarem os seus rebentos para serem grandes craques da bola
O melhor seria falarem com o presidente do clube e o treinador
Entretanto chegaram as férias grandes, e a Inês e o Pedro foram para casa dos avós, que cada vez estavam mais orgulhosos dos netos
Os netos são as flores dos avós, e este gostavam de apresentarem as suas lindas flores a todos os que regressavam de férias, vindos dos diversos países, onde estão emigrados, e enchiam a aldeia, de nova vida
Já não passavam sem o mês de férias dos netos. Quando as férias acabavam, sentiam que a casa ficava sem vida, e sonhavam com as férias do próximo ano
Também os netos não se importavam que as férias continuassem, o convívio com os filhos dos emigrantes tinha-se intensificado nos bailaricos e nos namoricos, fazendo com que as despedidas fossem dramáticas, porque os namoros na adolescência são, sempre, platónicos
O mês de Agosto é um mês de férias, um mês de sonhos, o mês, por todos, mais desejado.
Continua