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02
Mar23

A sedutora

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Lisboa! A sedutora

19

Chegou o dia da prova escrita, com muito nervoso miudinho, lá foi até à Praça José Fontana, conhecer mais um Liceu, aquele que homenageia o seu poeta preferido

Correu bem, quando saíram os resultados, estava aprovado, ia à prova oral

No dia em que fosse fazer a prova oral, telefonaria à namorada para lhe dizer o resultado, dizia-lhe que era muito importante ir graduado em sargento, para ela poder ir ter com ele ao teatro de guerra, caso houvesse condições para isso, mesmo que pensasse que isso nunca aconteceria

Ela não tinha telefone, mas uma vizinha tinha, por ser telefonista da Anglo Portugueese Telephone, empresa inglesa, que explorava os telefones de Lisboa e Porto, e dava trabalho a muitas mulheres, como telefonistas, as chamadas eram manuais, tinha de se pedir à telefonista para marcar o número para onde se queria falar, uma vez que a empresa não fez grandes investimentos, porque o contrato de conceção estva a terminar

No dia em que fez o exame da prova oral, mal soube que tinha ficado aprovado, dirigiu-se para o jardim defronte do Liceu, onde havia uma cabine telefónica pública, e ligou para a namorada, para lhe dar a boa novidade

Foi um dia determinante para o seu futuro, conseguiu subir um degrau, em vez de ser incorporado como praça, passou a ter acesso à classe se sargentos 

Em breve iam casar-se, como tinham 20 anos, eram menores, tiveram de pedir autorização aos pais para se poderem casar

O patrão e os irmãos juntaram-se para lhe oferecerem, como prenda de casamento: a cama e o colchão, as mesas-de-cabeceira, uma mesa e dois bancos, uma excelente prenda para encherem o quarto, vazio, que tinham alugado

Dois meses depois, em setembro, casaram-se, foram viver para o quarto, que tinham alugado  na Rua da Imprensa à Estrela, por de trás do Palácio de São Bento, residência oficial do Presidente do Conselho de Ministros

Um prédio de dois andares, no rés-do-chão viviam: a dona casa, o marido, a filha e o filho, maiores, um casal com um filho bebé e o casal em lua-de-mel, no andar de cima viviam: um maestro, a esposa e os nove filhos

O jovem casal todos os dias adormecia ao som do piano. Ela, como passava mais tempo em casa, dizia que já não podia ouvir mais piano

Ele tinha de ir todos os dias para a escola, não queria deixar de estudar, mesmo que a primeira etapa já estivesse conquistada

Tinha um novo professor de português (Manuel dos Santos Alves) um Camoniano, que andava a elaborar um dicionário de Os Lusíadas, de vez em quando dizia que ao mesmo tempo que ele andava a decifrar Os Lusíadas, outros andavam a ler A Bola

Também tinha livros de interpretação de Os Lusíadas, que vendia aos alunos

A sua aula era a última da noite, das 23 às 24 horas, todas as noites chegava com o vespertino debaixo do braço, foi ele que os informou que a guerra entre os israelitas e os árabes tinha começado, a guerra dos seis dias

Quando entrava na sala de aula, já alguns estavam a dormir, acordava-os declamando os versos de Camões.

Continua

 

01
Dez22

A sedutora

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Lisboa! A sedutora

6

A guerra, primeiro em Angola, depois na Guiné e em Moçambique, veio ajudar a transformar o País

Com, cada vez, mais homens mobilizados para as frentes de combate, as mulheres tiveram de ocupar os postos de trabalho, que os homens já não podiam assegurar

Foram mobilizados homens, que já tinha cumprido a vida militar há 10 anos ou mais, como oficiais milicianos, que tinham as suas vidas organizadas, obrigaram-nos a deixar o emprego, as mulheres e os filhos, graduaram-nos em capitães, comandavam uma companhia, e eram eles que com sargentos e praças iam para o mato

As Escolas Práticas e outros centros de formação de oficiais milicianos não conseguiam mobilizar os jovens suficientes para oficiais, porque eram poucos os que tinham, pelo menos o sétimo ano do liceu, para poderem ir para o curso de oficias milicianos

Em 1968, nas Caldas da Rainha, nos cursos de instruendos para sargentos, finda a recruta, os oficiais pediam para os elementos de cada pelotão, por voto secreto, escolhessem três camaradas para irem para o curso de oficiais milicianos, a escassez obrigou à criação da exceção

Não eram só os militares que tinham dificuldades em recrutar homens com estudos.

Também as empresas não conseguiam encontrar trabalhadores qualificados, para os seus quadros, algumas davam formação, pós laboral aos seus trabalhadores e pagavam-lhes aulas em institutos e escolas de línguas, para aperfeiçoarem, principalmente, o inglês

Algumas empresas, de representações de produtos estrangeiros, tinham dificuldade em satisfazer os pedidos dos seus representados, para que se deslocassem às suas fábricas, técnicos para formação, no sentido de prestarem melhor assistência, pós venda, por não saberem inglês  

A forte emigração, nos anos 60 e 70, também contribuiu para um grande desenvolvimento com o envio das suas poupanças para o nosso País. Todos tinham a ambição de mandarem construir vivendas, nas suas terras natal

A construção civil teve um grande incremento, bem como os Bancos, que com as remessas

dos emigrantes, tiveram de admitir muitos trabalhadores, quase só homens, mas a pouco-e-pouco as mulheres foram chamadas para mais setores de atividade

A nacionalização dos Bancos, devido ao golpe militar do 11 de Março de 1975, contribuiu para que as bancárias e bancários, que vieram das antigas colónias, tenham sido integrados nos bancos nacionais

A descolonização não foi perfeita, mas foi a possível, poderia ter sido diferente, se tivesse acontecido antes dos movimentos de libertação terem iniciado a guerra

Todos os que abandonaram as antigas colónias e vieram para Portugal, apesar de terem passado por muitas dificuldades, foram integrados e contribuíram para a dinamização do País

Somos um País pequeno e pobre, mas um povo grande e acolhedor.

Continua

 

05
Set22

77!

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77!

Hoje, estou de parabéns, faço 77 anos

Ainda que o cartão de cidadão diga que é no dia 15

Antigamente eram precisas duas testemunhas para se registar uma criança

Tinham um prazo de 30 dias para o fazerem, sem multa

Eramos muito pobres, a minha mãe esteve à morte, sem assistência especializada, perdeu muito sangue, um curandeiro, ainda, lhe receitou uma sangria

Quem não conseguia cumprir o prazo, a alternativa, à multa, era alterar a data de nascimento

A mim foram 10 dias, mas ao meu irmão, a seguir a mim, foi de 17 de Julho para 10 de setembro

Quando registei a minha filha mais velha, ainda, tive de ir acompanhado dos padrinhos dela, para os outros, já não foi preciso

Mais uma capicua

Sete capicuas!

Em 2 séculos

Tantas transformações, avanços científicos e tecnológicos

Poucos períodos da História terão sido tão ricos em acontecimentos e transformações

Primeiro os automóveis, só para alguns, depois para todos

 A telefonia sem fios, a televisão, os eletrodomésticos, a viagem à lua, viver no espaço

Os computadores, o faxe, os telemóveis, as redes sociais, a facilidade nas comunicações

O acesso às notícias e a tudo o que se passa ao nosso redor e no mundo

A telefonia sem fios foi a primeira maravilha do meu tempo

Pode ser ouvida em qualquer lugar e em qualquer momento

Mas a imprensa é consistente, é palpável e pode guardar-se

Daí, a eterna magia que os livros têm

Antes das notícias ao segundo, havia jornais matutinos e vespertinos

E, quando os acontecimentos o justificavam, tiragem última hora

Os eletrodomésticos contribuíram para uma grande revolução, fazendo com que reduzisse, em muito, a quantidade de criadas domésticas

Quando fui para Lisboa, em Maio de 1958, havia muitas mulheres que não trabalhavam, nem em casa nem fora, tinha 1,2,3 ou mais criadas, conforme os rendimentos

Mas, o tempo encarregou-se de mudar tudo, e hoje, é o que se sabe, são poucas as que não trabalham fora e dentro de casa

Estou muito grato por já ter assistido a tantas mudanças, uma das mais importantes foi a queda do império, depois de ter sido obrigado a ir para a guerra, em Angola, entre 1969 e 1971.

 

José Silva Costa

 

 

04
Jul22

O grande negócio!

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O grande negócio

 

O grande negócio venceu

A pobreza perdeu

O dinheiro foi desviado

Para financiar a guerra

Mais dinheiro para a defesa

Menos riqueza para o que é necessário

De que não fazem parte as guerras

Os mais pobres continuam à espera

A guerra é que não pode parar

As fábricas de material de guerra é que não podem fechar

A saúde, a habitação, a educação, o pão ficam para segundo plano

Quem declara a guerra não vai para ela

Manda a juventude, para morrer e matar

Anda um pai e uma mãe vinte anos a criar um filho, para depois lho levarem

Ficam felizes se ele voltar são e salvo

Mas o ideal seria acabar com todas as guerras

Mesmo que seja uma utopia

Mas que seria muito bom, seria!

Seria uma grande alegria

Viver em harmonia

Correr atrás de um sorriso

Sem o perigo de tropeçar num míssil

Dos que são disparados contra alvos militares, mas atingem alvos civis

Ao porta-voz do Kremlin não lhe falta verniz, muito lhe cresce o nariz!

Quer ser convincente no que diz

Mas não condiz com o cariz

Se não se tratasse de uma tragédia, só dava vontade rir

Quanto mais tempo continuará a mentir!

 

José Siva Costa

 

 

 

 

09
Mai22

A incerteza (4)

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A incerteza (4)

Dia da Europa

A regionalização continua na ordem do dia. Agora, foi a vez do ex-presidente da República General, Ramalho Eanes dizer que a regionalização não é importante nesta altura

Mas, Costa não desiste, quer descentralizar os serviços, para que em 2024 consiga, em referendo, aprovar a regionalização

Segundo o Governo, não haverá regionalização sem um processo de descentralização consolidado

A Associação Nacional de Municípios deu parecer desfavorável à proposta de orçamento para 2022

O Fundo Social Municipal deve 104 milhões aos Municípios

A descentralização é bem-vinda, ao contrário da regionalização, que só serve para criar mais tachos para a clientela dos partidos, que nunca esta saciada

A promessa de médicos de saúde para todos contínua por cumprir, e agravou-se, agora, temos um milhão e trezentas mil pessoas sem médico de família

Ir dormir para a potra dos Centros de Saúde não resolve, porque há consultas, cujo tempo de espera chega aos três anos

Hoje, comemora-se o dia da Europa, que ambicionei, um dia fosse um Continente de paz, progresso e fraternidade, mas, infelizmente, há quem não partilhe desses valores

Este ano não há motivo para comemoração, a não ser para os que querem comemorar a insanidade de outro país invadir, de matar, de destruir, de causar sofrimento ao seu povo e a todo o resto do mundo

Estávamos convencidos que tínhamos aprendido, com as guerras do passado, que com as guerras, ninguém ganha mas todos perdem

A URSS era composta por 15 repúblicas: Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, Estónia, Letónia, Lituânia, Arménia, Geórgia, Moldávia, Azerbaijão, Cazaquistão, Tajiquistão, Quirguistão, Turquemenistão e Usbequistão

O pacto de Varsóvia, criado a 14/05/1955 era composto pela URSS, a Polónia, a Albânia, a Bulgária, a Checoslováquia, a Hungria, a Roménia, e a República Democrática Alemã (RDA) 

 

Continua

 

23
Mar22

Boa sorte, Princesa

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Erasmo!

 

 

Boa sorte, Princesa

A minha neta, mais velha, viajou hoje para a Alemanha, vai fazer Erasmo, na Universidade de Leipzig, a mesma onde estudou a Ex-Chanceler da Alemanha, Merkel

Em breve teremos uma engenheira física, na família

A cooperação entre países, ao contrário da invasão, pode contribuir para uma melhoria de vida dos seus habitantes

Se conseguíssemos trocar a vingança pelo perdão, então, o Mundo faria sentido!

Foi a Paz, foi a UE., que fizeram com que os jovens possam beneficiar deste intercâmbio, tornando-se cidadãos do mundo

Não nos bastam as calamidades naturais?

Faz sentido, matarmo-nos uns aos outros, destruir tudo o que, com tanto sacrifício, foi construído ao longo dos séculos?  

E, até as religiões, que deviam contribuir para as uniões, têm provocado tantas, sangrentas, guerras, como está a acontecer na Ucrânia, em que há uma igreja, que defende a guerra como purificação

O Homem é o maior perigo!

 

José Silva Costa

25
Jan21

Vidas!

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Vidas!                (1)

 

Recusou-se a nascer antes do fim da segunda guerra mundial

Os pais muito pobres, num tempo em que era tudo racionado e com senhas

Tinham-se juntado no outono de 1944

Era o que a maioria, dos casais, fazia

Alugaram parte de uma casa, onde também funcionava a Escola Primária e vivia a professora

Ele com 29 e ela com 17 anos, há muito que andava de olho nela

Muito bonita, com uns longos cabelos até ao fundo das costas

Conhecera, porque o pai dela alugara uma casa e uma courela, no monte dele

Para onde os irmãos iam com as ovelhas, durante uma temporada

E, ela, de vez em quando, ia lá dar-lhes assistência

Teve um parto difícil, uma grande hemorragia

Um curioso, ainda, por cima, receitou-lhe uma sangria

Era assim, naquele tempo, sem médico nem parteira, pelo menos, para os mais pobres

Eram as outras mulheres quem lhes acudia

O pai dela, com medo de perder a segunda filha e o primeiro neto, levou-os para casa dele

Para a mãe e as irmãs tomarem conta deles

Não havia escolas! As Mestras ensinavam a ler, escrever e fazer contas

Numa das saídas de Almodôvar, está uma placa a indicar o Monte das Mestras

Foi só um dia a casa da Mestra, para aprender a ler

Não pode ir mais, porque tinha de tomar conta dos irmãos: 7 ( no mesmo mês em que ela teve o segundo filho, a mãe teve o nono)

Sofreu muito por não saber ler nem escrever, dizendo que não sabia uma letra do tamanho de um burro

Naquele tempo diziam que as mulheres não precisavam de saber ler nem escrever, tinham era de saber coser meias

O marido, o mais novo de quatro rapazes, sabia muito bem ler, escrever e fazer contas

Aprendera com uma Mestra, à noite, depois dos trabalhos no campo

Aos homens só era permitido que trabalhassem no campo

Nenhuma mãe queria ver um filho a lavar a loiça, as fraldas, o chão……………

As raparigas podiam trabalhar em casa, no campo, que ninguém ficava incomodado

Ao longo dos séculos, as mulheres têm sido discriminadas, contra isso, muito têm lutado.

Continua

 

 

05
Set20

Os meus 75!

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75 anos!

 

Hoje completo a bonita idade de três quartos de século

Mesmo que o Cartão de Cidadão diga que é no dia 15

Os meus pais não tiveram tempo de ir atempo registar-me

A Junta de Freguesia era distante, não havia transportes

Ainda que no Alentejo, cem quilómetros, seja já ali

Eram precisas duas testemunhas e palmilhar alguns quilómetros, a pé

As consequências da guerra continuavam a fazer-se sentir

Fome, miséria, tudo racionado, só com senhas, o pouco, era comprado

Estou muito grato por aqui ter chegado

Felizmente, sem a ajuda de medicamento, nos últimos 20 anos, tomado

Muitas coias, algumas, muito boas ter presenciado

A começar por estas palavras, que podem chegar a todo o lado

Outras muito dolorosas como, aos dez anos, do ninho ter sido afastado

Como acontecia, por todo o país, em que muitos, ainda saíram mais cedo

Não tendo tido direito a irem à Escola, em relação a eles, sou um privilegiado

Porque o meu pai, sempre, disse que entre abandonar a escola, para não passar fome, ou continuar na escola, para os seus filhos, ela era o mais importante

Despois de guardar ovelhas, porcos, vacas, e outra vez porcos, fui para Lisboa

O meu irmão, mais novo 4 anos, caiu de cima de uma burra, partiu um braço e teve de ir para o Hospital de São José. O meu pai procurou uma prima da minha mãe, que vivia na Capital, pediu-lhe para me arranjar um emprego

Em maio de 1958, fui para Lisboa, para trabalhar num lugar de frutas e hortaliças, na rua da Imprensa Nacional

Os primeiros meses foram muito dolorosos, porque saltei de um dia para o outro, do campo, para a Capital, sem nunca antes ter visto uma cidade, um comboio, o mar, uma cerejeira

Os meus patrões, um casal do distrito da Guarda, sempre me trataram bem, mas no início não nos entendíamos

As freguesas estavam constantemente o corrigir-me, dizendo-me “que não era lete, que era leite, que não era mantega, que era manteiga”. Quanto lhes estou grato!

Lisboa estava pejada de serviçais: padeiros, leiteiros, carvoeiros, marçanos, ardinas, varinas, criadas de servir, lavadeiras, aguadeiros, compradores de ferro velho, o moço do talho, o moço do lugar de frutas e hortaliças, a mulher da fava-rica, a vendedora de figos…….

 

As donas de casa não precisavam de sair, para as compras diárias, nós levávamos-lhas a casa. Todos os dias ia perguntar-lhes o que queriam e de seguida ia tudo entregar, para chegar a tempo para o almoço

Os prédios antigos tinha escadas em ferro, no exterior, por onde nós podíamos subir e descer, nada de utilizar as escadas interiores, de madeira, muito bem enceradas, onde nos poderíamos ver, como se fossem espelhos

As mulheres da pequena, média e alta burguesia, não trabalhavam, com raras exceções, e, ainda, tinham criadas, viviam nas suas gaiolas douradas

Conforme o rendimento e o número de filhos, tinham ente 1 e 3 criadas, a cozinheira, a dos meninos, e a de fora

Como o trabalho do lar não tem hora para acabar

AS criadas de servir tinham, ao domingo, de 15 em 15 dias, 4 horas para namorar, das 15 às 19, se se conseguissem despachar

Eu, nem isso, também ainda não namorava!

Tinha era um bom horário, na parede, afixado: entrava às 9, saía às 13, entrava às 15 e saía às 19, só para inglês ver, na realidade entrava às 5 ou 6, conforme o que o patrão tinha para comprar, no Mercado da Ribeira e no Mercado da fruta.

Pelas sete e meia, o meu patrão continuava a fazer as compras, eu apanhava o elétrico, para ir abrir o estabelecimento, às oito horas

O mais difícil era abrir a porta, por ser em ferro, a toda a largura do estabelecimento, muito pesada, que, à força de braços, ia enrolando

Primeiro que a conseguisse descolar do chão, a minha coluna até gemia

O meu patrão dizia-me para pedir, a quem passa-se, ajuda

Mas eu tinha vergonha de incomodar as pessoas, pedindo-lhes que começassem o dia fazer a força, só uma vez pedi ajuda, a um rapaz, que a aparentava ter a minha idade

Tomava o pequeno-almoço e almoço atrás do balcão, fechava o estabelecimento às 21, arrumava-o e lava o chão

Depois jantávamos, a patroa lavava a loiça, e só depois de irem para a casa onde, praticamente, só dormiam, é que me podia deitar, porque o meu divã estava em frente ao lava loiça

A primeira senhora, que vi conduzir um carro, deu-me boleia, foi a esposa do destinto cirurgião, Dr. Jaime Celestino da Costa, que nasceu e morreu nos mesmos anos em que nasceu e morreu o meu pai

Uma Senhora muito humana que, sensibilizada com o peso que teria de carregar, estacionou o carro em frente ao estabelecimento, para carregarmos as compras, tendo ido com ela, para a ajudar a descarregá-las  

A televisão tinha começado as emissões no ano anterior, mas poucos tinham televisão

 De vez em quando, depois do jantar, ia com o meu patrão, enquanto a patroa ia deitar os miúdos, tinham um casal, um rapaz da minha idade e uma menina de poucos meses, a um café, na Rua de São Marçal, ver a televisão

A única coisa de que me lembro, desses tempos, foi a apresentação das Apostas Mutuas Desportivas, Totobola, tudo muito bem explicado pelo inesquecível Artur Agostinho

Foram tantas as novidades: a esferográfica, o plástico, o self-service, os eletrodomésticos, a pilula, a inauguração do Metropolitano, na qual, alguns passageiros saíram lá debaixo, dizendo que não conseguiam respirar, a inauguração do Cristo Rei, da Ponte sobre o Tejo…...

Ainda se viam algumas carroças pelas ruas, quanto aos automóveis dizíamos, lá vem um!

Ao cimo da Rua da Imprensa Nacional, do lado direito de quem sobe, havia, ainda, uma olaria, pouco tempo depois deu lugar a uma loja de plásticos

Lisboa era uma cidade fechada, triste e infeliz, amordaçada pela censura e pela Polícia Internacional de Defesa do Estado, onde não se viam turistas nem habitantes de outros Continentes, nem sequer de África, onde tínhamos colónias. Pretos, só o da Casa Africana!

A todos os que me ajudaram a chegar até aqui, muito obrigado!

A melhor prenda, que me podem dar, é tratarem-me por tu, para continuar na ilusão de que sou jovem.

José Silva Costa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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