Estranho
Estranho
Estranho o barulho do silêncio
Estranho o muito tempo
Estranho o preço deste tempo
Estranho o tempo sem tempo
Estranho o movimento deste tempo
Estranho o adiamento deste tempo
Estranho todo este tempo
Estranho o desequilíbrio do rendimento
Estranho que não aproveitem este tempo para mudarem o futuro tempo
Estranho que não oiçam o que diz o tempo
Estranho que não acudam aos que não podem esperar mais tempo
Estranho que não vejam os que nunca tiveram tempo
Estranho que só alguns tenham direito ao tempo
Estranho ver tudo encerrado
Estranho ver o gato arreliado
Estranho esta vida de confinamento
Estranho estar preso no tempo
Estranho não ter liberdade de movimento
Estranho ter de estar, sempre, neste apartamento
Estranho o nosso novo aspeto
Estranho ver o Mundo, sem movimento
Estranho o cheiro intenso
Estranho tanto avião no estacionamento
Estranho não ouvir a campainha do agrupamento
Estranho a saída de homicidas da prisão
Estranho a multidão no paredão
Estranho o meu comportamento
Estranho como me habituei a este tempo.
José Silva Costa