Vidas (5)
Continuação (5)
Abriram a porta da casa de entrada, a mãe chamou-os para irem ver a menina, ainda não tinha nome, ficaram encantados e fizeram-lhe uma festinha na cara
No dia seguinte a professora perguntou-lhe por que razão tinha faltado à Escola, ele respondeu: “ nasceu a minha mana”
Francisco, como de costume, ajustou uma empreitada para fazerem a ceifa, da seara, dum vizinho. O ajuste era uma negociação em que discutiam em quantos dias a seara era ceifada
Fechado o contrato, os ceifeiros podiam até fazer o trabalho em muito menos dias, desde que o trabalho ficasse bem feito
No início da ceifa, a família mudava-se para o local da ceifa, onde passavam as vinte e quaro horas, com exceção do José, enquanto não entrasse em férias de verão
Alice, quinze dias após o parto, ceifava dias inteiros, ao lado do marido, por vezes, sob uma temperatura de quarenta graus centígrados
Chapéu na cabeça, lenço a tapar o rosto, por causa do pó e do sol, só se lhe viam o nariz e os olhos, cinco canudos de cana, numa das mãos, não fosse a foice cortar-lhes os dedos
Não havia tempo para fazer comida, ela e o marido comiam pão com azeitonas ou toucinho, para os filhos sopas de leite, tinham uma cabra, que o Francisco todos os dias ordenhava
De vez em quando fazia gaspacho para todos, porque era fácil e rápido. Sempre amamentou os filhos até aos dois anos ou mais, o que era muito bom para a bebé, tinha sempre a refeição pronta
Foi o primeiro e único ano, que o José foi da ceifa para a Escola, e vice-versa. Debaixo dum sol abrasador, sem sombras, tinham um grande guarda-sol, onde os filhos e eles se abrigavam do sol
À tardinha, o pai preparava a cama, cada dia em sítio diferente, porque todos os dias ceifavam uma boa extensão, colocava uma boa camada de trigo ceifado em cima do restolho e em cima as mantas
De manhã atava o trigo em molhos, fazia uma meda de 5 ou 6 molhos, e assim ficavam até que o dono os mandasse carregar para a eira
Em noites de luar, chegavam a ceifar toda a noite, aproveitando para descansar, nas horas de maior calor. Às vezes, o José acordava, olhava para o lado, e só estavam os irmãos
Na Escola, todos os dias aprendia novas coisas, a professora não lhes dava descanso, queria que quando fossem a São Pedro de Solis, fazer a passagem da primeira classe para a segunda, não a deixassem ficar mal
Um dia, antes do intervalo da manhã, uma rapariga levantou-se e pediu para ir lá fora, o que significava que queria fazer as necessidades, no campo atrás da Escola, a professora disse que estava quase na hora do intervalo. Mas, a rapariga que já estava muito aflita, mesmo sentada regou a sala de aula. A professora só disse: “ podem sair para intervalo”
Rapazes e raparigas, nenhuns usavam cuecas, eles vestiam uns calções ou umas calças, elas um vestido de chita
A meio do ano letivo, vieram de outra Escola, para a Escola do José, dois irmãos, que tinham fama de não serem muito educados. Um dia a professora deu-lhes umas reguadas, e eles, como as janelas eram baixas e estavam abertas, saltaram-nas e correram a gritarem que iam dizer à mãe deles, e não voltaram para aquela Escola
Em junho ou julho fizeram, em São Pedro de Solis, a passagem da primeira para a segunda classe, todos passaram. Estava terminado o ano letivo
A Escola que nasceu no Monte do Lobato, em 1951, foi transferida para o Monte da Corcha, no início do ano letivo de 1952/3, para uma casa contígua à do José.
Continua