Papoilas!
Primavera das papoilas
Minha Primavera florida, cheia de papoilas a incendiar o ar
Um mar vermelho onde me perco a comtemplar o seu sorriso
Para esquecer o fumo, as sirenes, os gritos, as dores, os horrores
Nos campos onde mataram as papoilas, as flores: tudo o que era encantador
Refujo-me no mar, onde não há trigais, nem papoilas, nem pessoas a sangrar
Respiro o perfume que exala das suas profundezas, com sabor a sal
Por muito que me esforce não consigo esquecer os que semeiam o mal
Impedindo os rijos e frios campos de darem o doce, o saboroso, o desejado pão
Com que os famintos tanto sonham e, em desespero, procuram nos caixotes do lixo
Como é que não compreendem que semear o pão é uma mui nobre missão?
O contrário de semear bombas, minas, ódio, luto, tristeza, morte, destruição
Como é diferente o coração e as mãos de quem com arte espalha os grãos de trigo
Dos que, com mãos ensanguentadas, destroem estradas, casas, homens, mulheres, crianças, corações!
Cegos de ódio, não conseguem ver, por todo o Mundo, praças inteiras a gritarem para pararem
Parem de matar, deixem as flores sonhar, os campos perfumar, e os corações gritar
O mundo precisa de respirar, não pode mais violência suportar, nem canhões escutar
Não separem as mulheres dos maridos, os pais dos filhos, tirem os dedos dos gatilhos
Vão para os jardins, mostrar a beleza e o perfume da natureza aos vossos filhos
Não percam tempo com coisas menores, abracem os vossos sonhos e voem
A vida é bela demais, devemos aproveitá-la, e nem um segundo desperdiçar
Não percam a magia de ver uma criança começar a andar, dizer a primeira palavra, e o mundo beijar
No amor há muita beleza, nós e que nem sempre a conseguimos ver
Gostava de ver, em cada coração, uma flor a florescer, como se fossem jardins a amanhecer
E fossem crescendo, brilhando, perfumando o sol até ele, no horizonte, desaparecer
Amadurecer os sonhos, prender os ventos nos dedos, abraçar todas as pessoas, sem medos.
José Silva Costa