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08
Dez22

A sedutora

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 Lisboa! A sedutora

7

No ano de 1959, pelo menos, duas grandes inaugurações: a 17/5/1959 foi inaugurado o Santuário Nacional de Cristo Rei

Um mar de gente invadiu as ruas da baixa de Lisboa em direção aos cacilheiros, os barcos que fazem a travessia do Tejo entre Lisboa e Cacilhas, 300 mil pessoas assistiram à inauguração

Quase no fim do ano, em 29/12/1959 foi inaugurado o Metropolitano de Lisboa. Alguns dos passageiros, quando voltaram à superfície, disseram que tiveram dificuldades em respirar

Tudo o que é novidade pode causar alguma ansiedade. Todos sabemos o que aconteceu com alguns produtos alimentares, em que o Rei teve de os comer em público, para que o povo acreditasse que não fazia mal à saúde, o que aconteceu com as batatas

As mudanças e as novidades eram constantes, do estrangeiro copiámos o snack-bar e o self-service. O primeiro self-service, em Lisboa, se não estou em erro, funcionou na Avenida Liberdade

Havia uma fila enorme, todos queriam saber como funcionava a novidade, pegar num tabuleiro, recheá-lo e colocá-lo num apoio alto, comer de pé, para ser mais rápido

Muitos olhos a vararem-nos como se nos quisessem fuzilar, parecendo dizer para nos despacharmos, porque também queriam petiscar

Para quem tinha duas horas para o almoço, aquilo era inconcebível, o melhor era continuar a ir ao tradicional restaurante, comer e beber, ficar ali no ripanço, a falar de futebol, a concordar ou discordar do trabalho do árbitro

As tabernas, só frequentadas por homens, trabalhadores braçais, onde bebiam vinho ao copo, tirado dos barris, de fraca qualidade, muito feito a martelo, acabaram por desaparecer, também vendiam carvão e petróleo

Os cafés, no início eram mais para as elites, onde discutiam política e forjavam revoluções

Nos anos sessenta não se viam mulheres nos cafés, onde se podia passar o dia a estudar ou dar explicações

Muitos eram espaços enormes, com muitos lugares, em quanto que o snack-bar, normalmente era um pequeno espaço, com refeições leves e rápidas

Vieram fazer concorrência aos restaurantes, onde se passavam duas horas ou mais a almoçar

Quando os snack-bares apareceram, os alfacinhas sentiam-se importantes, quando diziam: “ vou ao snack-bar”, era como se aquela palavra lhes desse outro valor: os tornasse importantes, diferentes dos que não frequentavam aquele espaço, para eles, snobe 

Durante muitos anos, preferimos produtos estrangeiros, tínhamos uma grande admiração por tudo o que vinha de fora. Poderá estar relacionado com a fraca qualidade dos nossos produtos, por não haver concorrência, e tudo o que produzíamos ter escoamento nas colónias.

 

Continua    

 

22
Fev21

Vidas (15)

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Vidas

Continuação (15)

Na sequência da inspeção ao horário de trabalho, o patrão teve de o inscrever na Caixa de Previdência dos Empregados do Comércio. Assim, o José teve de tirar o Bilhete de Identidade e o Cartão de Sanidade, obrigatório para quem trabalhava no ramo alimentar

O Mundo estava, como sempre, “ a pular e a avançar”. Depois da televisão, veio a esferográfica, que para muitos pode parecer uma coisa banal. Mas, no dia em que o Diário do Governo publicou que com a esferográfica se podiam assinar escrituras e cheques, um senhor entrou no estabelecimento, com uma esferográfica na mão e o Diário do Governo debaixo do braço, e perguntou:” já sabem que se podem assinar cheques e escrituras com uma esferográfica? Foi publicado hoje no Diário do Governo, acabou-se o reinado da caneta de tinta permanente e do mata-borrão”

Duas inaugurações importante no ano de 1959. Inauguração do Santuário Nacional de Cristo Rei, em 17 de Maio de 1959. Um mar de gente invadiu a baixa de Lisboa, em direção ao rio. Durante muitas horas, os cacilheiros não pararam, para levarem a multidão para o outro lado do rio, pela noite dentro

Inauguração, do Metropolitano de Lisboa, para o público, em 30 de Dezembro de 1959, com três carruagens, parecia um comboio de brincar. Algumas pessoas, depois da primeira viagem, disseram que tinha dificuldades em respirar

Não podiam faltar as anedotas acerca do acontecimento! Uma delas era ser necessário um padre e um polícia para se poder andar de Metro. A coroa do padre e o escudo do polícia, porque o bilhete custava um escudo e cinquenta

 O primeiro self-service e o snack-bar também causaram alguma celeuma, modernices que dividiram os alfacinhas, uns não deixaram de criticar, outros aplaudiram  

Um Senhor, que tinha estado muito tempo no Brasil, passavam muitas tardes, no estabelecimento. Vivia sozinho, era uma maneira de espantar a solidão. Conversavam muito, quando estavam sozinhos, dizia-lhe que já estava apto a tomar conta duma loja, coisa que o patrão já lhe tinha prometido

Ao fim de dois anos, cheio de saudades dos pais e dos irmãos, pediu uns dias de férias e foi visitá-los. Quando regressou, esse Senhor disse-lhe que o patrão estava com receio que ele não voltasse para o Lugar de frutas e Hortaliças

O patrão continuou a prometer-lhe que abriria uma loja para ele tomar conta. O José gostava daquele espécie de namoro que havia com as freguesas e quem as atendia, aquele convívio de todos os dias

Todos os anos, em agosto, a patroa ia de férias, com os miúdos, para Vide-Entre-Vinhas, Celorico da Beira. Iam levá-los a Santa Apolónia, onde apanhavam o comboio da Beira Alta. O mês de agosto era o mais fraco para o negócio, Lisboa ficava deserta, ia tudo a banhos, e eles ficavam com mais tempo para irem ver televisão  

Os patrões foram a um casamento, e o José ficou a tomar conta do estabelecimento. Comprou e vendeu, tudo correu bem. O senhor, que passava as tardes com eles, disse-lhe que estava apto a tomar conta duma loja

Os patrões do José eram boas pessoas. Tinham uma freguesa, originária de Angola, que tinha sido trazida, para Portugal, pelos seus patrões, mas que naquela altura vivia sozinha e quase cega.

 Saía pouco de casa. O patrão do José, de vez em quando, escolhia a fruta mais madura, aquela que os olhos já não gostam de comer, e pedia-lhe para ir visita-la e levar-lhe a fruta

Todos se sentiam um pouco mais felizes, uns porque davam, e ela por ver que não se esqueciam da sua solidão. Ficavam horas a conversar, falavam de Angola, do Alentejo, de vidas duras, da pobreza, da beleza, e de como, um e outro foram arrancados da sua miséria. O José tinha pena de voltar a deixá-la sozinha, sentia o calor das suas mãos nas dele, via naqueles olhos que não viam uma imensa alegria.

Continua

 

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