Primavera portuguesa
Portugal deitou-se nas trevas de uma ditadura
Acordou na radiosa Primavera de 1974
Ninguém imaginou que estávamos na esquina do futuro!
Passou o dia na incerteza de qual seria o seu futuro
Foi uma noite, que se prolongou por todo o dia, sem se saber o desfecho
Na falta de um cigarro, que um soldado pediu a uma senhora, para queimar o nervosismo
Esta, muito triste por não ter cigarros, deu-lhe um cravo vermelho, que ele colocou, no cano da espingarda
Foi o fim das guerras coloniais, o nascimento da revolução dos cravos
Mas, a noite, a madrugada e o dia foram muito longos e de muita ansiedade
Primeiro foi o frente a frente, na rau do Arsenal, dos carros de combate de Cavalaria
Felizmente, imperou o bom senso: os militares do Regimento de Cavalaria nº7, de Lisboa, não obedeceram à ordem de fogo
Estava ultrapassado o primeiro obstáculo: os militares não iam disparar uns contra os outros
De seguida os homens da Escola Prática de Cavalaria, de Santarém, comandados por Salgueiro Maia, dirigiram-se para o Convento do Carmo, onde se tinha refugiado o Primeiro-Ministro, Marcelo Caetano
Depois de posicionados os carros de combate, para a eventualidade de terem de disparar, o largo do Carmo começou a encher-se de populares
Ao longo da tarde, por várias vezes, Salgueiro Maia utilizou um altifalante, pedindo que se rendessem
Sem resposta dos sitiados, o comandante militar mandou disparar uma rajada de metralhadora, sobre o edifício
Passado algum tempo, depois deste aviso, entrou no Convento um carro com o General Spínola, para que Caetano lhe entregasse o Governo do país
Foi um dia muito longo e muito importante, não só para os portugueses, como para todas as colónias portuguesas
Com a nossa Revolução nasceu uma nova era
O Mundo nunca mais foi o que era.
José Silva Costa