Sul, sem sol!
Mulheres
Jovens, crianças, bebés
Filhas de reis, condes, viscondes
Sentenciadas à nascença
Deserdadas de bens imóveis
Enclausuradas em conventos
Dos quais nunca tinham ordem de sair
Enclausuradas em bebés, crianças, jovens
Contactos com o exterior, só através do parlatório
Casavam com Cristo, entregando o dote ao convento
Setenta e tal anos de isolamento (Mariana)
Foi uma eternidade de casamento (sozinha)
As mulheres têm toda a razão para se sentirem indignadas
A História tem-lhes pregado cada partida!
E têm de continuar a lutar
As mentalidades levam muitos séculos para mudar
As mulheres, o Mundo, continua a discriminar
No convento de Nossa Senhora da Conceição, em Beja
Formaram-se como que dois clubes
Umas veneravam um Santo, outras, outro
A rivalidade, por vezes, levava-as a vias de facto
Aqueles longos corredores assistiram a muitas dores
Cada grupo concentrava todas as energias e dinheiro em embelezar o andor do seu Santo
Para que, aquando das procissões, lhes chegassem ecos, de qual o andor mais bonito
Era uma maneira de libertar tanta energia reprimida
A adolescência, a mocidade, a vida
Todos os sonhos, todas as ambições, todas as paixões
Presas naquelas paredes, grades e tenções
A verem abrir e fechar aqueles portões, sem poderem agarrar as ilusões
Sepultadas vivas, sem liberdade para serem mães!
José Silva Costa