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cheia

cheia

19
Jan23

A sedutora

cheia

Lisboa! A sedutora

 

13

 

Em pouco tempo, aprendeu a fazer os tapetes, a bancada onde os costurava estava encostada à porta que dava para a sacada, com vista para a rua dos Poiais de São Bento, tinha um vista privilegiada

De fronte, na rua dos Poiais de São Bento, noutro primeiro andar, viviam um casal e a sua bonita filha, namorou com ela o tempo inteiro, não soube se ela chegou a saber

Andava a estudar, mas sempre que estava em casa, ia à varanda, abria a porta e olhava para ele, os seus olhares cruzavam-se constantemente, ia para dentro, pouco depois voltava novamente, e assim passaram anos

Com a chegada da nova inclina, a esposa do patrão, perdeu o direito de dormir na sala e o seu maravilhoso colchão

Valeram-lhe as águas furtadas existentes por cima do quarto andar, habitado pela prima, que lhe arranjara o primeiro emprego, em Lisboa

Nelas já dormia o cunhado dela que trabalhava numa oficina de automóveis, para aprender o ofício de mecânico de automóveis

Tinham entrada por uma escada de madeira, feita pelo marido dela, colocada á direita da entrada da casa deles

Era um pequeno espaço esconso, com um pé direito muito baixo, com uma pequena janela para as traseiras, com um vão, que permitia que se pusessem de pé

Era um local muito quente no verão e muito frio no inverno, sem qualquer isolamento, com as telhas em cima das ripas de madeira, que as suportavam

Num Inverno, muito frio, tiveram a infeliz ideia de forrarem o seu acolhedor quarto, com as caixas de cartão, onde vinham as caixas de vinho do Porto, que o patrão oferecia aos clientes, pelo Natal

Ficou mais quentinho, mas passado algum tempo, sofreram um ataque de percevejos, que tiveram de arrancar as caixas de cartão e proceder a uma desinfestação

Por aquelas águas furtadas, enquanto a prima foi dona da casa, passaram mais de meia dúzia de rapazes, que lutavam por melhores condições de vida

Sentia-se muito feliz por poder ajudar os outros. Aos vinte anos tinha ido para Faro, servir, depois foi para Lisboa, mais tarde casou e tiveram uma filha, que se licenciou em biologia, e é uma excelente professora

Está credenciada, pelo Ministério da Educação, para ir a tribunal, explicar a razão pela qual foi dada aquela nota e não outra, caso a escola e os pais não cheguem a um acordo sobre a nota atribuída, e as divergências cheguem a tribunal.

 

Continua  

 

 

12
Jan23

A sedutora

cheia

Lisboa! A sedutora

12

Três homens solteiros, num primeiro andar: o patrão, o irmão e o empregado

Uma casa forrada com peças de cairo, só a casa de banho não tinha matéria-prima para fazer os tapetes

Era uma casa pequena: um quarto, cozinha, casa de banho, sala e uma salinha muito pequena

Os empregados dormiam na sala, no local onde trabalhavam de dia

À noite, no cetro da sala, único espaço disponível, cada um fazia a sua cama, o soalho e uma peça de cairo faziam de colchão

Com o novo contrato, verbal, ganhava mais dez escudos: 200 escudos, por mês, oito horas de trabalho, descansava ao domingo, com a possibilidade de fazer horas extraordinárias, pagas à peça

Com moldes em papel, dois para cada modelo, um para a frente outro para trás, marcavam os cortes a fazer, para que assentassem bem e os pedais ficassem livres

Todos os cortes tinham de ser costurados com uma agulha, um pouco maior que uma sovela de sapateiro, com um buraco na ponta, para que o tecido não se desfiasse

Para além de fazer os tapetes, ia aos Bancos, entregar tapetes nos standes, de transportes públicos ou de táxi, dependendo da urgência ou da quantidade, e ainda despachar encomendas, para todo o país, por caminho-de-ferro, em alta ou pequena velocidade

As estações de caminho-de-ferro tinham um armazém onde guardavam as mercadorias recebidas ou para expedição, ainda era rara a entrega de porta a porta

Também chegou a ser incumbido de ir tirar moldes de modelos que não tinham, um trabalho delicado, porque o papel assentava melhor que o tapete, por isso era preciso saber compensar as diferenças, para que o fato assentasse bem

O patrão passava muitos dias, percorrendo o país, de comboio, visitando standes de automóveis, para angariar novos clientes

 

Em Tondela, travou conhecimento com uma rapariga que, como muitas outras, por este país fora, sem trabalho nem expectativas de vida, aguardava, na casa dos pais, por um príncipe, que um dia a desencantasse

Como bom vendedor, disse à rapariga que tinha mundos e fundos, e ela acreditou, namoraram uns meses e casaram

Depois de casados e da lua-de-mel, quando a trouxe para Lisboa, e lhe apresentou o palacete para onde ia viver, a rapariga ia desmaiando

 

  Triste, mas sem queixumes enfrentou a realidade, arregaçou as mangas e lutou ao lado dele

Tiveram duas meninas

Passados alguns anos, quando os tapetes de cairo, para automóveis, caíram em desuso, e apareceram outros materiais, era ela que, com uma máquina de costura industrial, fazia os tapetes

No primeiro carnaval, que  passou em Lisboa, mascaram-se: ela e o empregado trocaram as roupas, fizeram uma cegada, fazendo com as tristezas fossem esquecidas, mesmo que por pouco tempo.

 

Continua

 

 

 

 

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