Vidas (11)
Continuação (11)
Francisco, assim que pôde, foi a Santa Cruz. Disse ao patrão, do José, que era um mentiroso, que devia estar habituado a fazer dos pobres gato-sapato, mas que com ele se tinha enganado! Que tomasse conta dos porcos, porque o seu filho não era mais seu criado
José foi com o pai, para casa, por mais uns dias, não muitos, porque apareceu um Senhor que tinha duas vacas e dois bezerros, precisava dum rapaz para, os animais, guardar
Estava a fazer uma casa na Califórnia, um Monte situado na margem esquerda da Ribeira do Vascão. Não morava lá, uma vez que casa ainda estava em construção
José adorava aquele sítio, por estar junto à Ribeira, onde com outros rapazes se entretinham na brincadeira. As vacas e os seus filhos davam pouco trabalho
Nas horas de maior calor estavam presas, e ele ou ia para a Ribeira, ou montar armadilhas para apanhar perdizes. Não conseguiu apanhar nenhuma!
Foram meses maravilhosos, de liberdade e brincadeira. Os caseiros eram boas pessoas, queriam era que cumprissem com as obrigações, para que quando o patrão fosse lá, não ter nada a dizer
Depois de debulhado o trigo, foram dormir para a eira. As eiras, normalmente, situavam-se nos pontos altos, onde há mais vento, para limpar o trigo, que consistia em atirar ao ar, com uma pá de madeira, a palha e o trigo, como a palha é mais leve ia para mais longe, e assim se limpavam toneladas de trigo, durante a debulha
Adormeciam a ver as luzes dos carros, no ziguezague das curvas da Serra do Caldeirão, na estrada nacional, 2, com a lua a adormecer as estrelas e a liberdade de dormirem ao relento
José nem sabia que havia a tradição das chocalhadas! Os colegas, ao meio dia, do dia da chocalhada, informaram-no de que à noite iam fazer uma chocalhada, porque um casal tinha-se separado e voltado a juntar-se
Lá foram, com um ou dois chocalhos dos animais que andavam a guardar. Ainda caminharam um bom bocado até chegarem à casa onde vivia o casal, deram três ou quatro voltas à casa, fazendo uma barulheira infernal, com receio da reação dos visados, quando passavam na direção da porta, afastavam-se. Não houve reação, mas eles ficaram contentes por manterem a tradição
Uma notícia muito triste veio pôr fim àqueles meses de alegria. O irmão, mais novo do que ele, quatro anos, tinha caído da burra e fraturado o braço esquerdo. O pai levou-o para o Monte Mor-O-Novo, onde havia um famoso endireita. Mas, este disse-lhe que tinha de ir com o filho, para o Hospital. Foram para o Hospital de São José, onde o António ficou quase seis meses. Sujeito a várias operações, que não conseguiram fazer com que endireitasse e fechasse o braço, completamente
Francisco escreveu uma carta a uma prima da Alice, que vivia em Lisboa, pedindo-lhe se poderia ir visitar o filho, para que não se sentisse abandonado
Quando o António teve alta, ficando de voltar uns meses depois, para os médicos decidirem se lhe fariam nova operação, Francisco foi visitar a prima, agradeceu-lhe o apoio que tinha dado ao António, e aproveitou para lhe pedir se não arranjaria um emprego para o José, que já tinha feito a quarta classe
Ela disse-lhe que ficasse descansado, porque conhecia diversos donos de estabelecimentos, que estavam constantemente a admitir rapazes, para os ajudarem. Assim, que conseguisse arranjar alguma coisa, o contataria.
Continua