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cheia

cheia

01
Jun21

Junho

cheia

Junho

Bem-vindo o verão

A quente estação

A praia à mão

A ceifa do pão

Dá-me a tua mão

Vamos ouvir a canção

Na liberdade da emoção

Abraço o teu coração

Os teus beijos são o meu pão

No silêncio da paixão

Apanhamos as flores

Sem hesitação

Sustemos a respiração

Para não irmos em contra-mão

No fulgor da ação

Abraçamos a sensação

De que tudo é ilusão

Não existe a comunhão

A única exceção

É a nossa união.

 

José Silva Costa

01
Fev21

Vidas (6)

cheia

Continuação  (6)

A ceifa foi um dos mais duros trabalhos na planície alentejana, onde os rapazes gostavam de medir forças. O pai, do José, costumava contar que uma vez fez parte de um rancho de ceifeiros, todos com pouco mais de vinte anos. Um belo dia começaram a ceifar ao despique, tentando saber quem eram os mais fortes. Todos os ceifeiros cortavam o mesmo número de regos, começavam ao mesmo tempo, ninguém queria ficar para trás, a solução era fazer o trabalho de qualquer maneira, deixavam metade das espigas no restolho. O patrão, ao ver aquilo, chamou os criados para apanharem as espigas que eles deixavam para trás. No fim do dia, o patrão disse-lhes que se continuassem com o despique ficavam sem trabalho. Mas não foi isso que os demoveu, porque sabiam que ele precisava deles, o que acabou com o despique foi nenhum ter cedido.

Quando a ceifa terminava, realizava-se a adiafa, que constava de uma refeição para assinalar o evento

 

A Escola ficou apenas um ano letivo no Monte do Lobato. Não se sabe quais foram as razões. Teria sido por o filho ou filha de algum Senhor importante ter atingido a idade de ir para a Escola!

 O José beneficiou muito com a transferência da Escola, para o seu Monte. Era sair duma porta e entrar noutra, porque a casa onde funcionava a Escola era contígua à dele

Já tinha beneficiado do facto de a professora ter aceitado iniciar uma Escola naquelas condições, fazendo com que tenha entrado um ano mais cedo para a Escola e evitado que tivesse de andar oito quilómetros, por dia, a pé, que era a distância, ida e volta, a que que ficava a outra Escola

Todo o Monte ficou muito contente, ter uma Escola num Monte onde não havia mais nenhum equipamento social, nem mesmo uma mercearia, quando necessitavam de comprar qualquer coisa, o mais perto era São Pedro de Solis.

No Monte não havia nenhum carro, apenas uma motorizada, eram todos pobres, ainda que uns vivessem melhor que os outros, como em todo o lado acontece

O pai do José, que de vez em quando tinha necessidade de escrever uma carta, uma vez que não tinham telefone, as comunicações eram por correio, chamava o filho para a escrever, e ele ditava

Esse treino fez com que o José tivesse adquirido uma ferramenta de comunicação, que lhe foi muito útil, quando foi para Lisboa, não só para escrever para os pais, mas também para solicitar documentos às diferentes entidades, como aconteceu, quando um fiscal do horário de trabalho entrou no estabelecimento onde ele trabalhava, e verificou, que no horário exposto entrava às 9 horas, e ainda eram 8 e pouco, o que teve como consequências uma multa de 200 escudos e a legalização do empregado

Uma multa muito pesada! José trabalhou lá quatro anos e não atingiu esse valor de ordenado mensal. Para que o patrão procedesse à sua legalização, escreveu para o Registo Civil, pedindo que lhe enviassem uma certidão de nascimento, para efeitos de obtenção do bilhete de identidade e do cartão de sanidade, indispensável para quem trabalhava no ramo alimentar

Enviou uma carta registada, com um envelope com o seu endereço e uma nota de vinte escudos, para pagamento das despesas, o troco era remetido em selos do correio

Procedeu de igual modo, quando necessitou do diploma da quarta classe, para se candidatar, como aluno externo, ao exame do primeiro ciclo liceal, no Liceu Passos Manuel, e quando pediu para ir à inspeção militar, em Lisboa, em vez do local do seu nascimento

Não quis incomodar o pai, porque sabia que teria de perder dois dias de trabalho, um para ir pedir o documento, outro para o ir buscar e ainda gastar dinheiro em transportes, que tanta falta lhe fazia

Quando do pedido do diploma da quarta classe, como a resposta não chegava, receando que não chegasse a tempo, mandou uma segunda carta registada com aviso de receção, obteve uma resposta imediata, dizendo que em breve receberia o diploma, o que aconteceu.

Continua

 

 

27
Jan21

Vidas! (3)

cheia

Continuação    (3)

 

No ano em que o filho mais velho fez seis anos, num Monte a dois quilómetros, começou a funcionar um posto escolar

Um casal cedeu uma casa, onde funcionava a Escola e vivia a professora

O equipamento da sala de aula eram meia dúzia de cadeiras e uma mesa

Estávamos em outubro de 1951

Só a quarta professora, das que visitaram o local, aceitou trabalhar naquelas condições! 

Eram conhecidas por professoras regentes, só tinham a quarta classe e um pequeno estágio

O País estava envergonhado por ter quase cem por cento de analfabetos

Com o fim da segunda guerra mundial, o mundo deu um salto tecnológico, Portugal foi confrontado e muito criticado por ter tantos analfabetos

Era preciso criar postos escolares, mesmo em casas particulares, como a que funcionava na casa onde ele nasceu

Estas professoras não podiam casar sem a autorização do Ministro da educação

Dedicavam-se muito à sua profissão

Queriam que os seus alunos, quando fossem, às Escolas das professoras oficiais, fazer as passagens da primeira para a segunda ou da segunda pra a terceira classes, brilhassem, querendo o mesmo nos exames da terceira para a quarta classe e no exame da quarta classe, que constava de duas partes: primeiro a prova escrita, mais tarde a prova oral, normalmente, tinham lugar na sede de Concelho

A primeira professora, do José, era uma rapariga muito determinada. Quando aceitou criar aquela Escola, fê-lo com o propósito de tudo fazer para que os pais compreendessem, o quanto era importante mandarem os filhos à Escola

Não foi fácil, estavam habituados a contar com o seu trabalho para a casa, ou ajustavam-nos para trabalharem para os grandes latifundiários

Passado um mês do início das aulas, vendo que não aparecia mais ninguém, não chegavam a uma dezena, uma manhã, decidiu ir com eles a um Monte, não muito longe

Lá foi ela, com os alunos atrás, parecia uma galinha com os pintos. No caminho, encontrou um homem com o filho a trabalharem na horta

Depois de os cumprimentar, perguntou ao homem se não sabia que era obrigatório mandar o filho à Escola, e ele respondeu: “se lhe der de comer”

Seguiram o seu caminho, para o Monte, onde, junto das mulheres tentou fazer-lhes compreender quanto era importante mandarem os filhos à Escola

 

Uma manhã, pouco depois do José sair para a Escola, um homem bateu à porta, perguntou se era a Alice, entregou-lhe uma carta, dizendo que o marido lhe tinha pedido para lhe entregar a carta, e que ele estava bem.

Alice virou e revirou a carta, tinha três selos de lacre no verso, com o formato e a face duma moeda, para que ninguém a abrisse, era muito usual, quase sempre, por exigência do portador

Abriu o envelope, retirou a carta e duas notas, uma de vinte e outra de cinquenta escudos, concentrou-se na carta, sentiu uma grande tristeza por não saber ler, depois alegrou-se por o filho já conseguir ler, não precisava de ir pelo Monte, perguntar quem é que sabia ler, expor a terceiros as palavras intimas, que com certeza o marido lhes tinha dedicado, a ela e aos filhos

Admirou a letra, desenhada, do Francisco, tão bonita! E ela sem saber o que dizia, pensou no que teria passado até arranjar trabalho

Por um lado, gostava que o homem tivesse chegado ao mesmo tempo do José, para ele lhe ler a carta e saber, imediatamente, o que estava ali escrito

Por outro lado, estava tão feliz por ter passado o dia a mexer naquele papel, que o Francisco tinha escrito, tinha o cheiro dele, apertou-o ao peito, sentiu as suas impressões digitais

Quando o filho chegou, correu para ele, beijou-o e disse-lhe que o pai tinha mandado uma carta, por um homem que tinha estado a trabalhar com ele, que lhe bateu à porta, mal ele tinha saído

Pediu-lhe se a conseguia ler, porque estava tão ansiosa por saber o que dizia.  José ainda soletrava as letras, mas conseguiu lê-la, toda. Dizia que esperava estivessem todos bem.

 Encontrara durante os muitos dias que levou a percorrer quase todo o Distrito, pessoas que lhe deram de comer e arranjaram onde dormir. Em cada Monte, ia pergunta se sabiam de alguém que precisasse de um trabalhador.

Quando se aproximava a noite, as pessoas perguntavam-lhe onde é que ia dormir, e ele aproveitava para lhes pedir se não tinham um palheiro onde pudesse ficar. Não só lhe arranjavam onde dormir, como acabavam por lhe dar a ceia. No dia seguinte continuava a sua caminhada, alguns, ainda lhe davam um bocado de pão e umas azeitonas, para comer pelo caminho, até encontrar nova povoação.

Ao chegar perto de Beja, encontrou um Senhor que tinha um olival para limpar. Assim que acabasse o trabalho, que faria em poucos dias, voltaria, porque queria ajustar uma empreitada para a ceifa, como fazia todos os anos.

Assim que acabou de ler a carta, a mãe mostro-lhe as duas notas, pedindo-lhe que levasse a nota de cinquenta escudos, que fosse, com a burra, comprar uma arroba de farinha de trigo, ao moinho do Pizão, que ficava na margem esquerda da ribeira do Vascão. 

Disse-lhe para não se demorar, porque ainda queria peneirar a farinha, para no dia seguinte cozer pão, que há tanto tempo, por todos era desejado

O José montou-se na burra e dirigiu-se ao moinho, que ficava a uns três quilómetros. O moleiro era um senhor já de idade. Pesou a farinha, colocou o saco em cima da burra e avisou-o de que o saco podia cair, porque não o podia amarrar, sem uma albarda.

Continua  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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