A sedutora
Lisboa! A sedutora
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A despedida foi muito triste, todas as separações são muito emotivas
Já uns dias antes, um Senhor, que passava muitas tardes no estabelecimento, a quem alcunháram de brasileiro, por ter estado muito tempo emigrado no Brasil, se indignou quando o informou de que se ia embora, para outro trabalho
“ É por isso que este país nunca progredirá, estará, sempre, na cauda da Europa, agora que estavas preparado para tomar conta de um estabelecimento, vais aprender outra coisa, foram quatro anos perdidos”
Um trabalho diferente: fazer tapetes para automóveis, o automóvel era um investimento muito caro, por isso era preciso protege-lo para que durasse o mais possível
Subiu um andar, passou dos rés-do-chão para um primeiro andar, na rua da Paz, com vista para a rua dos Poiais de São Bento, onde passa o famoso elétrico nº28, da Carris
Um conterrâneo, que trabalhou numa fábrica de tapetes para automóveis, decidiu arriscar e começou a trabalhar por conta própria
Alugou umas águas furtadas, de dia visitava os standes de automóveis à procura de encomendas, de noite executava-as, no dia seguinte ia entrega-las e angariar mais encomendas
Começou com duas peças de tapetes de cairo, uma para fazer os tapetes da frente e outra para os detrás, cuja fábrica era em Cortegaça
Para concorrer com o antigo patrão, encomendou peças com menos cinco centímetros de largura
Como o negócio começou por correr bem, alugou um primeiro andar, na Rua da Paz, contratou o irmão mais velho, que cumpriu o serviço militar como maqueiro, tendo-se voluntariado para ir para Macau, com a intenção de, quando passasse à disponibilidade, ficar lá a viver
Mas chegou à conclusão de que não podia concorrer com os chineses, que se alimentavam com um punhado de arroz, por dia
Passou à disponibilidade em Lisboa, onde ficou a trabalhar nas obras
O irmão não só o contratou, como lhe pediu, emprestadas, as poupanças
Não é nada fácil passar de operário para patrão, quando não se tem capital para comprar o essencial, mas há quem arrisque e com a ajuda de um e outro consiga criar bons negócios
Deixou o bairro chique de São Mamede e foi para a freguesia das Mercês, casas pequenas, muito antigas, com escadas estreitas, com a Assembleia Nacional a olhar para elas, cheia de deputados engravatados, como que nomeados para oprimir o povo
Calçada do Combro, Rua do Poço dos Negros, Rua dos Mastros, Largo Conde de Barão, como que a fechar a Rua de São Bento.
Continua