O Império
O Império – As teias que o Império teceu
19
Entretanto a Rosinha deu à luz o seu segundo filho: um rapaz. Correu tudo bem, chegaram a acordo para que se chamasse Roberto
Toda a família estava muito feliz, mas o Januário tinha um sorriso de orelha a orelha, de tanta felicidade
A Leopoldina também parecia muito contente, mas quando o viu ao colo da mãe, ficou com ciúmes, pediu aos pais para o darem, o que acontece com muitas crianças, por verem que têm de dividir as atenções, que eram só delas, ou pior, os adultos, erradamente, mimarem mais os bebés, que nem percebem o que está a acontecer, em vez de, nos primeiros tempos, privilegiarmos os que se sentem ameaçados, por os pais dedicarem tanto tempo ao bebé
Pais, famílias e amigos, aquando da chegada de bebés, que tenham irmãos pequenos, devem fazer um esforço para darem toda a atenção aos que se sentem preteridos pela chegada dos bebés
Com a chegada do Roberto, nova pontinha de tristeza a toldar a grande alegria de Januário, por não conseguir transmitir a sua grande felicidade à mãe e ao irmão, quanto gostariam de saber da chegada dos novos membros da família, de conhecê-los, de vê-los!
Só lhe restava tentar saber novidades de Lisboa, estava na altura das naus, da carreira da Índia, atracarem no porto de Luanda, tinha de tentar passar mais vezes junto ao cais, para ver se notava alguma movimentação
Mas as obras ocupavam-lhe muito tempo, para além do que fazia questão em passar com a mulher e os filhos
Gostava de preparar a papa e dá-la à Leopoldina, enquanto a Rosinha dava de mamar ao irmão, para que ela não sentisse que as atenções eram todas para ele
A avó materna e as tias também estavam muito contentes com a chegada do Roberto, mas estranhavam a maneira como o Januário participava nos cuidados com os filhos, o que não admirava, porque se tratava de costumes de duas sociedades diferentes, e ainda por cima o Januário estava muito à frente, no que dizia respeito à participação dos pais, nos cuidados com os filhos, no velho continente
Muito poucos, mas houve, sempre, quem pensasse que os cuidados com os filhos era uma tarefa do casal, mas eram muito mal vistos, insultados e até agredidos, por irem contra as tradições, que funcionam como leis
O Januário queria ser diferente, apostava na harmonia, queria viver com alegria o dia-a-dia, acreditava que havia uma complementaridade entre homens e mulheres, e que todos os povos eram irmãos
Teve muitas contrariedades e problemas, devido ao seu avançado pensamento, e mais por apregoar uma coisa e fazer o seu contrário, como acontece com muito boa gente, é muito difícil ser-se coerente.
Continua