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12
Fev21

Vidas (12)

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Continuação (12)

Entretanto, o patrão do José aproveitou a Feira do Ameixial, para vender as vacas e os bezerros. Acabadas as férias na Califórnia, voltou para casa, onde já estava o irmão, por ter tido alta do Hospital de São José. Foram os últimos dias, juntos, naquela casa. Passados uns dias, apareceu outro patrão. Desta vez, de uma localidade, no outro lado da Ribeira, no Algarve. Francisco disse-lhe que o filho ia guardar os porcos, mas que estava à espera de uma carta, para ele ir para Lisboa. Assim que chegasse, iria lá busca-lo imediatamente. A ceifa estava quase a começar, nesse ano a ceifa começou em Maio

A dez dias do fim do mês, quase ao fim do dia, estava o José, descontraído, a olhar pelos porcos, para que não comessem o trigo, quando avistou o pai, ao longe. Adivinhou o motivo da visita, Ficou feliz, mas ao mesmo tempo com receio do desconhecido

O pai chegou cansado, ainda eram uns bons quilómetros, não se demorou e seguiram para casa, queria que o filho tivesse tempo para descansar, porque no outro dia tinha de seguir para Lisboa

Aproveitou, enquanto caminhavam, para lhe enumerar todas as vantagens de ir para Lisboa. Sabia que a Alice não concordava que o filho fosse para tão longe, queria-o por perto, para vê-lo

No dia seguinte, levantaram-se cedo, ainda eram uns quilómetros até à Dogueno, primeira paragem, no Alentejo, da camioneta que fazia a carreira Faro, Lisboa. A prima tinha pedido para levar um laço, no bolso do casaco, para quando fosse esperá-lo, a Cacilhas, ser mais fácil o encontro

Quando se despediu, a mãe agarrou-o contra ela e não o deixava, até que o Francisco disse que tinham de se ir embora, senão perdia a camioneta. O José estava tão emocionado, que se esqueceu de despedir-se da irmã. A mãe disse:” não te despedes da tua irmã”! Voltou atrás e despediu-se da irmã. Parecia que a mãe estava com vontade que perdesse a camioneta

Eles a chegarem e a camioneta a aparecer do lado esquerdo, apressada. Francisco pediu ao condutor e ao cobrador se podiam tomar conta dele até Cacilhas, onde a prima o esperava

Almoçaram em Ferreira do Alentejo, onde as camionetas se cruzavam: a que vinha de Beja com a de Faro. Havia uma plataforma, onde as camionetas eram encostadas, para ser mais fácil e rápido trocar as bagagens e as mercadorias, expedidas. Naquele tempo, as camionetas tinham uma plataforma, no tejadilho, onde carregavam muitas mercadorias e bagagens, que eram presas com uma rede  

Quando o José saiu da camioneta e viu aquele casario, em cima do rio, ficou assustado. Em vinte e quatro horas tinha deixado o campo, e passado para a grande cidade. Foi uma mudança muito brusca

Pouco depois, chegou a prima dele, entraram no Cacilheiro e atravessaram o Rio. Tinha sido um dia muito intenso: todas as terras por onde a camioneta passou, passageiros a entrarem e saírem, aquele grande rio, finalmente a grande cidade. Caminharam a pé, pela avenida 24 de Julho, viraram para a rua São Bento, chegaram à rua dos Prazeres, paralela à rua de São Bento, onde a prima morava. Estava uma tarde maravilhosa, cheia de sol

No dia seguinte, subiram a rua da Imprensa Nacional, até ao Lugar de Frutas e Hortaliças, para onde ele ia trabalhar.  A futura patroa, disse para a prima dele: “ mais um para eu acabar de criar”

Quando o patrão chegou das compras, foram saber o que as freguesas necessitavam, apontavam num role, a seguir iam entregar-lhes o que tinham encomendado

No dia seguinte, o José foi sozinho, não foi fácil dar conta do recado. Por vezes, tocava na campainha errada. Pedia desculpa, continuava a sua tarefa de saber o que é que as freguesas queriam

Os primeiros dias, os primeiros meses foram muito difíceis. Os patrões eram do Distrito da Guarda, por vezes não se entendiam, parecia que estavam a falar línguas diferentes. As freguesas estavam, constantemente a emendá-lo, dizendo-lhe que não era lete, que era leite, que não era mantega, que era manteiga. O que fez com que tentasse pronunciar corretamente as palavras

Dois ou três meses depois, a mãe foi, a Lisboa, a uma consulta com o outro filho, na qual, os médicos decidiram que não o voltavam a operar. Quando se dirigiam os três, para verem o José, no Lugar de Frutas e Hortaliças, encontraram-no na rua da Escola Politécnica. Foi um encontro dramático, José caminhava debaixo de uma grande grade de madeira, onde, todos os dias, eram transportadas as hortaliças, dentro da grade vários cestos de fruta vazios, para serem devolvidos aos produtores. O José não se via, parecia que a grade e os cestos caminhava sozinhos. A Alice, ao ver o filho com a enorme grade às costas, disse que o levava com ela. A prima disse-lhe para, depois do jantar, ir a casa dela, para se despedir da mãe.

 

Continua

  

 

 

    

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

   

    

 

 

 

    

11
Fev21

Vidas (11)

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Continuação  (11)

Francisco, assim que pôde, foi a Santa Cruz. Disse ao patrão, do José, que era um mentiroso, que devia estar habituado a fazer dos pobres gato-sapato, mas que com ele se tinha enganado! Que tomasse conta dos porcos, porque o seu filho não era mais seu criado

José foi com o pai, para casa, por mais uns dias, não muitos, porque apareceu um Senhor que tinha duas vacas e dois bezerros, precisava dum rapaz para, os animais, guardar

Estava a fazer uma casa na Califórnia, um Monte situado na margem esquerda da Ribeira do Vascão. Não morava lá, uma vez que casa ainda estava em construção

José adorava aquele sítio, por estar junto à Ribeira, onde com outros rapazes se entretinham na brincadeira. As vacas e os seus filhos davam pouco trabalho

Nas horas de maior calor estavam presas, e ele ou ia para a Ribeira, ou montar armadilhas para apanhar perdizes. Não conseguiu apanhar nenhuma!

Foram meses maravilhosos, de liberdade e brincadeira. Os caseiros eram boas pessoas, queriam era que cumprissem com as obrigações, para que quando o patrão fosse lá, não ter nada a dizer

Depois de debulhado o trigo, foram dormir para a eira. As eiras, normalmente, situavam-se nos pontos altos, onde há mais vento, para limpar o trigo, que consistia em atirar ao ar, com uma pá de madeira, a palha e o trigo, como a palha é mais leve ia para mais longe, e assim se limpavam toneladas de trigo, durante a debulha

Adormeciam a ver as luzes dos carros, no ziguezague das curvas da Serra do Caldeirão, na estrada nacional, 2, com a lua a adormecer as estrelas e a liberdade de dormirem ao relento

José nem sabia que havia a tradição das chocalhadas! Os colegas, ao meio dia, do dia da chocalhada, informaram-no de que à noite iam fazer uma chocalhada, porque um casal tinha-se separado e voltado a juntar-se

Lá foram, com um ou dois chocalhos dos animais que andavam a guardar. Ainda caminharam um bom bocado até chegarem à casa onde vivia o casal, deram três ou quatro voltas à casa, fazendo uma barulheira infernal, com receio da reação dos visados, quando passavam na direção da porta, afastavam-se. Não houve reação, mas eles ficaram contentes por manterem a tradição

Uma notícia muito triste veio pôr fim àqueles meses de alegria. O irmão, mais novo do que ele, quatro anos, tinha caído da burra e fraturado o braço esquerdo. O pai levou-o para o Monte Mor-O-Novo, onde havia um famoso endireita. Mas, este disse-lhe que tinha de ir com o filho, para o Hospital. Foram para o Hospital de São José, onde o António ficou quase seis meses. Sujeito a várias operações, que não conseguiram fazer com que endireitasse e fechasse o braço, completamente

Francisco escreveu uma carta a uma prima da Alice, que vivia em Lisboa, pedindo-lhe se poderia ir visitar o filho, para que não se sentisse abandonado

Quando o António teve alta, ficando de voltar uns meses depois, para os médicos decidirem se lhe fariam nova operação, Francisco foi visitar a prima, agradeceu-lhe o apoio que tinha dado ao António, e aproveitou para lhe pedir se não arranjaria um emprego para o José, que já tinha feito a quarta classe

Ela disse-lhe que ficasse descansado, porque conhecia diversos donos de estabelecimentos, que estavam constantemente a admitir rapazes, para os ajudarem. Assim, que conseguisse arranjar alguma coisa, o contataria.

 

Continua

 

 

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