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03
Jul25

O Império

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 O Império   -   As teias que o Império teceu

120  

 Perdemos a batalha, pelo Mapa Cor-de-Rosa, com o Ultimato Inglês de 11 de Janeiro de 1890, que fez aumentar o nacionalismo e a contestação à Monarquia

Já tínhamos tido outro duelo, com os nossos mais antigos aliados, que ficou conhecido como a questão de Bolama

Um grupo de britânicos adquiriu a ilha, no ano de 1792, com o objetivo de nela fundar uma colónia modelo, que terminou ao fim de um ano

Esta questão criou um conflito militar e diplomático, que se arrastou por 35anos (1834-1869)

A questão esteve alguns anos adormecida, mas de 1834 a 1869 aconteceram varias escaramuças em que portugueses e britânicos trocaram as bandeiras

Cansados de arrear  a bandeira inglesa e içar a bandeira portuguesa, propuseram aos ingleses que escolhessem um árbitro, para por fim à disputa da Ilha

Escolheram o Presidente dos Estados Unidos da América, Ulysses S. Grant, que deu razão a Portugal, na sentença arbitral de 21 de Abril de 1870, que lhe valeu uma estátua em bronze, desaparecida, substituída por uma em cimento. 

O Governador, de Angola, preocupado com os ataques, por outras potências, à rica Colónia de Angola, queria os Sobas mobilizados, para defenderem a soberania portuguesa. Por isso, fazia-lhes várias visitas, falavam de tudo e mais alguma coisa, tentava ganhar a sua amizade, como se fossem velhos amigos, para que lhe dissessem como classificavam a governação, mas não era fácil

Poucos falavam português, a Zulmira tentava ajudar, com o pouco que sabia da língua nativa da região de Luanda

Os Sobas fizeram saber que não estavam a gostar que os rapazes fossem trabalhar, para as lavras, porque era preciso manter as tradições, e eles eram a autoridade nos seus quimbos

O Governador aproveitou para lhes pedir que utilizassem a sua autoridade, para mobilizarem toda a população para o combate a todos os que fossem contra a soberania portuguesa

Por fim, disse-lhes que era bom que todos participassem na renovação da agricultura, para que todos tivessem uma melhor alimentação.

Continua.

 

 

 

 

26
Jun25

O Império

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O Império    -    As teias eu o Império teceu

119

O sonho da exploração dos diamantes parecia, cada vez, mais longínquo. Assim, o Governador deu ordens, para que a agricultura fosse o motor de desenvolvimento da colónia de Angola

Para além dos bons indicadores dos jovens, que seguiam o Roberto, rapazes e raparigas, na procura de novas culturas e mais produção, coisa nunca vista, porque os homens nunca tinham trabalhado na agricultura, deixando esse duro trabalho, para as mulheres, era preciso pedir-lhes que transmitissem os seus conhecimentos aos mais novos, mesmo que eles, no impeto da juventude, achassem que já sabiam tudo

Para todas as mães era muito agradável ver os filhos, porque as filhas já sabiam o que as esperava,  interessarem-se por um trabalho, tão importante, para a alimentação de todos, que os séculos tinham reservado só para as mulheres

As mães estavam muito gratas, pela criação da creche, fazendo com que tivessem deixado de andar com os filhos atados às costas, enquanto faziam o duro trabalho do campo, disseram ao novo Governador e à esposa que era muito bom, terem um local onde  deixar os filhos, em segurança

Os governantes pediram-lhes para ensinarem os filhos, as filhas e a todos os jovens, que o quisessem, os conhecimentos, que tinham das lavras, porque todos viveriam melhor, quanto mais e melhores produtos conseguissem tirar da terra

A Zulmira e o Miguel aproveitaram aquele agradável encontro, na creche, para informarem as mães de que iriam continuar a trabalhar, para que todos tivessem uma vida melhor

Assim, contavam com as suas sugestões, para melhorarem o funcionamento dos serviços da cooperativa e os trabalhos nas lavras

A cooperativa já tinha serviços muito importantes, como o apoio à agricultura, o armazenamento e distribuição de alimentos, a creche e o posto médico, mas a Zulmira e o Miguel queriam saber se poderia prestar mais serviços ou se poderia melhorar os existentes

A Leopoldina, que era a presidente da cooperativa, disse-lhes que iam convocar uma assembleia geral, para proceder à nomeação de una nova direção, porque ela já se sentia cansada, sem força para imprimir um novo ritmo à associação, exigido pelos jovens agricultores

Alguns dos jovens que, aprenderam a ler e escrever com o Roberto, tinham paixão pela agricultura, queriam alterar os métodos de produção, armazenagem, comercialização e distribuição. Assim, a próxima assembleia geral, seria a oportunidade, para todos apresentarem as suas ideias, fazendo com que a cooperativa desse um passo em frente, no seu desenvolvimento e nomeasse uma nova direção

Como sócios, o Manuel e a Zulmira, poderiam, então, apresentar as suas sugestões e participar no novo rumo da cooperativa

O Manuel disse que, como Governador não queria interferir nos destinos da cooperativa, mas que tencionava apoiar todas as iniciativas, que contribuíssem para o progresso da Colónia

A Zulmira informou que iria participar na discussão, apresentação de sugestões e escolha da nova direção.

Continua.

 

19
Jun25

O Império

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O Império   -   As teias que o Império teceu

118

As artes e ofícios, também, estavam na mira do Governador, que ambicionava um grande desenvolvimento, para Angola

Ele e a Zulmira não se cansavam de procurar como impulsionar a economia da colónia, decidiram ir falar com o Roberto, para lhe pedirem que transmitisse aos seus alunos, que teriam todo o apoio do Governador, pelo seu trabalho, para melhorarem os métodos e a produção, na agricultura

As raparigas e rapazes ficaram muito contentes por todos estarem com os olhos postos neles, alimentando a esperança de que eles é que seriam capazes de fazer evoluir a colónia,  até o Governador reconhecia o seu valor

Alvos de tantas atenções, fazia com que todos se dedicassem, ainda, mais às suas experiências com as sementes, que o Governador tinha levado da Metrópole

Nem sempre as plantações corriam como eles tinham imaginado, ou porque as sementes não germinavam, ou as plantas não cresciam com a rapidez, que desejavam

A agricultura é um laboratório ao ar livre, sujeito a muitas condicionantes, entre elas, a humidade, a temperatura, as características do terreno, os ventos.

 A ideia de Portugal foi chumbada: o que se passou na Conferência de Berlim

Nuno Teixeira da Silva

 29 Maio, 202528 Maio, 2025

 

Realizou-se há quase 150 anos, numa altura em que as potências europeias disputavam o controlo por África. Portugal teve um papel ativo nesse encontro histórico.

Contexto: a disputa por África. No auge do imperialismo, diversas potências europeias queriam controlar o continente africano, ou partes do continente.

Portugal era um desses países. Reino Unido, França, Alemanha, Bélgica, Itália e Espanha eram outras. Todas participaram na Conferência de Berlim, realizada entre 15 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885. Ao todo, participaram 14 países, até alguns que não tinham colónias em África (escandinavos e EUA).

A organização do encontro pertenceu ao chanceler Otto von Bismarck, mas a proposta veio de Portugal, lembra a Encyclopædia Britannica.

As prioridades eram regular a colonização, a exploração da África pelas potências europeias. Tentar evitar confrontos entre os europeus.

Também conhecida como Conferência da África Ocidental, era um encontro para abordar uma ocupação (pelo menos parcial) desordenada de territórios africanos.

A reunião servia para estabelecer o princípio da “ocupação efetiva” — ou seja, um Estado europeu só teria direito sobre uma colónia se ocupasse de facto o território e estabelecesse uma administração local.

 

Além de tratar do fim do tráfico de escravos, também serviria para garantir liberdade de comércio e navegação nos rios Congo e Níger.

Aliás, essa zona era central nesta conferência. Discutiam-se todas as questões territoriais relacionadas com a bacia do Zaire (actual RD Congo), na África Central.

Portugal propôs esta conferência porque reivindicava o controlo do estuário do Zaire.

Mas a ata geral da Conferência de Berlim declarou neutra a bacia do rio Zaire – o que viria a influenciar a I Guerra Mundial, que não foi alvo de ataques dos Aliados.

 

Ficou de facto garantida a liberdade de comércio e de transporte para todos os Estados da bacia – aplicando os princípios do Congresso de Viena quanto à navegação nos rios internacionais; proibiu o tráfico de escravos.

as reivindicações de Portugal foram rejeitadas. Assim, nascia o Estado Livre do Congo, que ocupava precisamente a maioria da bacia do rio Congo e o território da actual República Democrática do Congo.

Os representantes portugueses nesta Conferência foram António Serpa Pimentel, António José da Serra Gomes (Marquês de Penafiel), Luciano Cordeiro, Carlos Roma du Bocage (adido militar), José P.Ferreira Felívio (adido) e Manuel de Sousa Coutinho (segundo secretário), lembra o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

No ano seguinte à Conferência de Berlim, e ainda do lado português, surge o famoso ‘Mapa cor-de-rosa’, que mostrava a ideia de Portugal de dominar todos os territórios entre Angola e Moçambique. Mais tarde, o Ultimato britânico de 1890 travou as ideias lusas e originou uma forte tensão entre Portugal e Reino Unido.

A África, tal como outras regiões colonizadas, foi repartida sem qualquer consulta às populações locais.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //      (29 MAIO, 2025)

Continua

 

 

12
Jun25

O Império

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O Império  -  As teias que o Império teceu

117

O Governador ficou com a pulga de trás da orelha, talvez os diamantes fossem a tábua de salvação, para o progresso de Angola, ajudando-o a cumprir a missão de aumentar os rendimentos da Coroa Portuguesa

Já tinha ouvido falar do sucesso da exploração de diamantes, na colónia do Brasil, onde foram descobertos, por volta de 1730, no vale do Rio Jequitinhonha, em Minas Gerais

A região do Arraial do Tijuco tornou-se tão rica, que os seus habitantes, graças ao trabalho dos escravos, viviam num luxo, que ombreava com o das cidades mais ricas da Europa

Alguns escravos conseguiam que os ” Senhores” lhes dessem carta de alforria, umas vezes comprada, outras por lhes serem fiéis e honestos

Assim que conseguiam a liberdade, tentavam comprar um escravo, para viverem do trabalho dele

O Miguel disse à esposa que iria tentar saber se os diamantes, no Rio Quanza, seriam em quantidade suficiente, para pedir ao Rei, que autorizasse a sua exploração

Constava que os diamantes de África eram melhores e mais apreciados do que os do Brasil, o que poderia ser uma vantagem

Como não era fácil a deslocação à região dos diamantes, pediu que lhe trouxessem umas amostras, para ver se valia a pena incomodar o Rei, com o pedido da exploração

Quando lhe trouxeram cinco lindos diamantes, ele e a Zulmira ficaram encantados com tão grandes e lindas pedras, imediatamente disse para a esposa, que os iria enviar ao Rei, assim que tivesse portador

Enquanto não houvesse autorização, para a exploração de um produto de adorno, que a qualquer momento poderia passar de moda, o melhor seria continuarem a apostar na agricultura, que é uma produção, que é essencial à vida, sendo que à medida que as sociedades vão evoluindo, tornam-se mais exigentes, consumindo uma maior variedade de produtos e preferindo os que são cultivados mais de acordo com a Natureza

O Governador não se cansava de elogiar todos os que queriam tornar a agricultura mais produtiva, com mais variedades de produtos e melhores produtos

Para reforçar o seu empenho, na agricultura, decidiu doar à cooperativa, as sementes, que tinha trazido da Metrópole, para que fosse experimentada a sua produção, em Angola. Tratava-se das seguintes: trigo, centeio, cevada, feijão, ervilhas, tomate e grão-de-bico.  

Continua

 

 

05
Jun25

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O Império  -  As teias que o Império teceu

116

O Roberto não podia estar mais contente com o seu trabalho, ver os seus alunos quererem produzir mais e melhores alimentos, era o melhor resultado que eles lhe podiam oferecer, porque a alimentação é a base da sobrevivência, sem comida não se consegue viver, só depois de assegurada essa necessidade é que aparecem as outras

A Marina e a sua ajudante, a Alicia, sonhavam com a criação de um hospital. Numa visita do Governador, ao posto médico, acompanhado da esposa, a Zulmira, irmã da Marina, esta confidenciou-lhe o sonho de quem trabalhava naquele posto médico, pedindo que as ajudasse a concretizá-lo

O Miguel disse-lhes que era um bonito sonho, tão importante para toda a população, mas não as poderia ajudar, porque não aceitaram a sua proposta de criar impostos, e sem dinheiro, nada poderia fazer, uma vez que o Rei o tinha incumbido de tornar a Província rentável, para poder ajudar a Coroa

Uma missão quase impossível, que ele aceitara com a convicção de que era possível, todos diziam que Angola tinha muita riqueza, que a escravatura dava rios de dinheiro, mas os empresários desse negócio tinha ido para outras paragens, devido à pressão, que europeus e americanos exerciam sobre Portugal, para que acabasse com a escravatura

A esposa queria que fomentasse a agricultura, a extração de minério e diamantes, e ele contrapunha, fosse para o que fosse, era preciso dinheiro para comprar alfaias e utensílios para a exploração dos minérios, sendo um círculo vicioso, do qual ninguém conseguia sair, sem o vil metal 

Ela insistia que em Angola era diferente, nas margens do rio Quanza havia quem tirasse diamantes com um simples pau. As suas terras eram muito férteis, precisavam era de quem as soubesse amanhar

Estava convicta de que a cooperativa daria um grande impulso à agricultura, com a ajuda dos jovens, que o Roberto encaminhara para as lavras, a fim de contactarem com os mais velhos, principalmente as mulheres, que, sempre, dela tiraram o sustento para a família. O mais difícil era acabar com a tendência de serem só as mulheres a trabalharem a terra, coisa que o Roberto parecia estar a conseguir, incutindo nos jovens o prazer de semear, ver crescer, apanhar e comer, o que fazia com que se sentissem realizados e admirados, pela comunidade

Muitas vezes o que falta, aos povos,  é quem os consigam galvanizar, para feitos extraordinários, sendo que os seus representantes têm de ser pessoas sérias, confiáveis, capazes de dar o exemplo

Roberto tinha esperança que o entusiasmo dos jovens, que o seguiam, fosse o farol, para a construção de uma Angola mais próspera.

Continua

 

 

29
Mai25

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

115

Mesmo em lua-de-mel, o Miguel não queria que a questão da cobiça da rica Angola, por parte de outros países, caísse no esquecimento. Por isso, pediu à esposa se o acompanhava nas visitas, que tencionava fazer às povoações ao redor da cidade, para falar com os Sobas, mostrando que era um Governador diferente, não impondo que fossem ao Palácio do Governador, para ouvir as suas opiniões

A Zulmira ficou encantada com a postura do marido, não gostava de pessoas arrogantes, que se julgam superiores, que fazem dos outros os seus capachos, parecia que tinha sido feito, para ela

As visitas aos Sobas fizeram com que o Governador se apercebesse da importância da sua missão, na apresentação e solução dos problemas entre os povos de Angola e os poderes, que representavam o Rei de Portugal

Miguel prometeu a todos, que tudo faria para que a conjugação de esforços fosse benéfica tanto para as populações, como para a Coroa

A turma do Roberto, que cada vez era maior, tinha, no dia que ia para as lavras, o seu maior empenho. Havia uma competição saudável entre todos, era preciso produzir mais e melhor, e isso só se obteria com novos produtos,  melhores e mais sementes, melhores utensílios, irrigação, novas ideias, que todos queriam pôr em prática

Assim, pediram ao Roberto que aumentasse o tempo dedicado à agricultura, porque era nesse trabalho, que muitos se sentiam realizados

Semear, cuidar, ver crescer, apanhar, comer, partilhar, sentir o carinho e admiração de quem via e comia, pela primeira vez, determinado produto, era uma grande recompensa, para a dureza do trabalho no campo

O Roberto colocou esse pedido à discussão e votação, se a maioria estivesse de acordo, até podiam ir todos os dias para o campo, porque como ele dizia: “ a terra é como as palavras, ambas precisam de ser acarinhadas, revolvidas, adubadas, mondadas, semeadas, para se conseguir uma boa colheita”

Alguns votaram contra, a maioria votou a favor, como era uma turma completamente livre, cada um aderia ao que queria, aparecia ou desaparecia

Passaram a ir quase todos os dias para as lavras, mesmo que tivessem de esperar meses, pelos frutos, era muito compensador aparecer em casa com o que tinham conseguido produzir

Em casas, em que tudo faltava, era ainda mais apreciado, tudo o que aparecesse, sem ser esperado.

Continua

 

 

 

 

08
Mai25

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

112

Antes de se despedirem, ainda, tiveram tempo para marcar um almoço, no palácio do Governador, para toda a família, a fim de escolherem a data do casamento e como seria a cerimónia, que deveria ser simples, como informou o Miguel, um pedido da noiva

A turma do Roberto estava ansiosa, para que chegasse o dia da nova aula do senhor Rocha, que lhes tinha prometido de que iriam entrar numa mata onde, em certos sítios, não seria possível ver o sol, porque as altas árvores estariam cobertas de lianas, dificultando a penetração na mata, que teria de ser feita com catanas, para abrir trilhos por onde pudessem passar

No dia aprazado, ninguém faltou, todos estavam curiosos em saber o que se iria passar, as expetativas eram muitas, uns esperavam ver elefantes, outros leões, hienas, rinocerontes, zebras, como se os animais, na floresta, estivessem à espera deles

O guia aconselhou que não se assustassem, nem fizessem barulho, caso vissem algum animal, para que ele não se sentisse ameaçado, porque os animais, normalmente, só reagem quando se sentem em perigo

Antes de entrarem na mata, num charco, perto de um rio, viram um grande crocodilo a apanhar banhos de sol, estiveram alguns minutos a contemplá-lo, olhou-os, mexeu-se um pouco, parecendo ter a incumbência de lhes desejar boas-vindas

O guia fez uma pequena palestra, pediu-lhes para seguirem em fila indiana, tentando não fazer barulho, para ver se conseguiam ver algum animal, ainda a dormir ou a descansar, depois de uma noite de procura de alimento

Dois homens, munidos de catanas iam abrindo caminho, o senhor Rocha colocou-se a meio da fila, para que todos ouvissem as suas explicações, o Roberto fechava a fila, para que ninguém ficasse para trás e se perdesse

Passado mais de uma hora, sem que acontecesse algo de extraordinário, a não ser o cansaço e a dificuldade na visibilidade, uma brusca agitação fez as árvores e as lianas estremecerem, era uma enorme cobra a deslocar-se, por cima das cabeças dos intrusos, que entraram na sua casa, sem autorização, acordando-a dos seus belos sonhos

Alguns gritaram, outros agacharam-se, para que ela não lhes tocasse, mesmo que ela estivesse a mais de um metro de altura, acima das suas cabeças. O senhor Rocha pediu-lhes que parassem e não fizessem barulho até ela se distanciar

Recuperados do susto, seguiram à descoberta dos segredos da impenetrável mata

Mas, o tempo escasseava, não podiam ficar presos na mata, tinham de sair o mais depressa possível, o regresso à claridade foi arrepiante.

Continua

 

 

 

   

 

 

24
Abr25

O Império

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O Império   -   As teias que o Império teceu

110

O Miguel ficou surpreendido com o pedido de esclarecimentos sobre o papel dela, como sua esposa

Não era habitual as mulheres dos governadores trabalharem, muito menos fora de casa

Não queria desistir de namorar a bonita Zulmira, o facto dela ser diferente, era motivo de orgulho, para ele, mostrava que era inteligente e sabia o que queria, podendo ser muito importante, para o ajudar a cumprir a missão de que o Rei o tinha incumbido

Aproveitou para lhe pedir se poderia contar com ela, para o ajudar a cumprir a sua missão, mesmo que continuasse a trabalhar na cooperativa

Ela respondeu-lhe que sim, acrescentando que se fosse necessário, deixaria de trabalhar para a cooperativa

Depois, veriam como melhor servir os povos de Angola, pedido do Rei, que muito queria cumprir

Aceite o compromisso de ambos, a tudo fazerem por Angola, oficializaram o namoro, com a promessa de se casarem e serem muito felizes, para sempre

A notícia correu rápida, por toda a cidade só se comentava o namoro de uma das filhas do antigo governador com o novo governador

Entre os familiares, todos aprovaram o namoro. As manas foram quem mais se regozijou com o namoro, sendo que o pai delas foi o que mais vibrou com a esperada notícia

Só pedia que corresse tudo bem, gostava tanto de ver as filhas felizes, já lhes bastava o facto de terem ficado, tão cedo, sem a mãe. Tinha prometido, a ele mesmo, quando a sua amada esposa faleceu, que tudo faria para que as filhas conseguissem superar tão grande perda

Muitas vezes interrogava-se se não teria sido preferível voltar a casar, se a escolha de não dar uma madrasta às filhas teria sido a melhor decisão

A Natureza mostrava-lhe que o natural era ser um casal a criar os filhos. Mas ele teve receio que não encontrasse uma mulher tão generosa, que amasse as suas filhas, como se fossem dela

Assim, só lhe restava continuar a tudo fazer, para que elas se sentissem felizes, apoiando-as nos seus projetos e sonhos, para que tudo o que dependesse dele, não lhes faltasse.

Continua

 

17
Abr25

O Império

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O Império   -   As teias que o Império teceu

109

O novo governador, o Miguel, passou a ir, quase todos os dias, à cooperativa, cumprimentava todos, e por fim, demorava-se a falar com a Zulmira

Ao fim de alguns dias, já todos tinham percebido que a andava a catrapiscar

Passadas uma semanas pediu-lhe namoro, como fazem, quase sempre, as mulheres, mesmo que estejam desejando dizer sim, disse-lhe que ia pensar no assunto, porque não ficava bem aceitar imediatamente

Sabia que o assunto já andava na boca de todos, porque os olhares comprometedores entre ambos não deixavam dúvidas. Assim, para que acabassem as conversas à boca fechada, informou o pai e as irmãs de que o Miguel lhe tinha pedido namoro

Todos queriam saber a sua decisão, informou-os de que ainda não tinha aceitado, tendo pedido algum tempo, para decidir

A nova organização da cooperativa estava a agradar aos cooperantes, todos esperavam que, em breve, se começassem a ver os resultados da dedicação de todos

O Manuel, que muito admirava o Miguel, não cabia em si de felicidade, ao saber que o poderia ter como genro. A Zulmira bem leu, nos olhos dele, a alegria, que lhe causou a notícia do seu futuro namorado

Metade das filhas tinham encontrado companheiro, para outra metade, não faltariam pretendentes, tinham deixado o palácio, que era quase como que um convento, para irem para a montra da cooperativa, dando-lhes mais notoriedade

A Zulmira, depois da emoção do pedido de namoro, que lhe encheu o coração de esperança de um dia ter uma bonita família, começou a interrogar o futuro, caso viessem a casar

Começou, mentalmente, a formular as perguntas, que teria de lhe fazer, antes de aceitar o seu pedido, uma das coisas que queria saber era se ele respeitaria a sua liberdade, as suas escolhas, ou se, pelo contrário, lhe imporia que fizesse o que ele queria

Não queria deixar de fazer o que tanto a realizava, continuar a fazer a contabilidade da cooperativa, colaborar com todos os cooperantes, para que todos tivessem uma vida melhor

Nesse sentido, poderia ser um grande aliado, se estivesse verdadeiramente interessado em melhorar a vida dos povos de Angola

O que não admitia era ser um adorno, ficar encafuada, de novo, no palácio do Governador, esse castigo já ela tinha cumprido

O Miguel tinha de dizer se aceitava ou não as suas condições, para iniciarem um namoro, que fosse esclarecedor das posições de ambos, para que a união pudesse dar certo.

Continua

 

03
Abr25

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

107

Quando ele regressou a casa, não resistiu a perguntar-lhe o motivo do longo “namoro”

O marido disse-lhe que o Governador era um homem muito sensível, mostrando-se muito interessado em tudo o que se passava na Colónia, tendo-lhe dado muitos parabéns por o que estava a fazer, para que as futuras mulheres e homens estivessem mais preparados para engrandecerem Angola

Todos gostaram e ficaram bem impressionados com a visita do novo Governador, mostrou-se interessado pelo funcionamento da cooperativa, do posto médico e da escola

Numa Assembleia-geral da cooperativa, o Manuel informou todos os cooperantes de que estava muito confiante no novo Governador, o facto de ser seu conselheiro, fazia com que fosse conhecendo as suas ideias e objetivos para Angola

O Rei tinha-o encarregado de tentar dar uma nova vida à Colónia, disse-lhe que teria de encontrar meios de sustentabilidade que substituíssem a escravatura  

Em 15 de Junho de 1856 o parlamento português aprovou o decreto abolindo a escravatura no distrito de Ambriz e nos territórios de Cabinda e Molembo, o que contribuiu para a resignação britânica sobre a titularidade de Ambriz.

Para fazer face aos apetites sobre Angola, por outros países, como ingleses e americanos, era preciso avançar para o interior e ocupá-la, desenvolver as pescas e a agricultura, onde a cooperativa poderia ter um papel importante

Tinham de inventar novas alfaias agrícolas, para conseguirem aumentar a produção, novas culturas e melhorar as que já faziam, todas as contribuições eram bem-vindas

O Roberto comprometeu-se a levar os seus alunos para as lavras, pedir-lhes para também se pronunciarem sobre como conseguir produzir mais e melhores alimentos

Na turma do Roberto havia gente de todas as idades: meninos, meninas, mulheres e homens, todos queriam mostrar os seus talentos, uma escola inédita, livre e aberta a todos

Para ele, todas as pessoas tinham talento, só dando-lhes oportunidades, os poderiam mostrar

Era cansativo, dar atenção a todos, mas era o que gostava de fazer, descobrir em cada um, o que o fazia correr, para a sua escola.

Continua

 

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