Santos Populares
Arraiais
Com um manjerico no regaço
Perfumas o ar e o espaço
Cheira a Santos populares
Não há arquinhos nem balões
Gritamos a plenos pulmões
Abracem as multidões
Com os longos braços virtuais
Porque este ano, o vírus não nos deixa tirar as máscaras
De boca tapada e braços atados
Não há abraços, nem beijos
Ficam por cumprir os desejos
De a quarentena acabar
Porque o covid-19 continua a não nos querer deixar
Saltar a fogueira
Assar as sardinhas
Beber umas pinguinhas
À saúde de Lisboa
Este ano não marcha nada
Nem o cheiro a sardinha assada
Que todos podiam saborear
Quando não tinham dinheiro
Para, as sardinhas, pagar
Contentavam-se com o cheiro
E o movimento dos marchantes, na Avenida
Lisboa está apagada!
Acabou-se a barulheira
Podemos, o sono, sossegar
Não há turistas, nas esquinas, a mijar
Nem marujos a gritar
Por as portas estarem a fechar
Ficámos enclausurados no lei-of e no teletrabalho
Quando acabar, vamos para o desemprego
Porque o mar de rosas não vai aguentar
Tanta gente a mamar
Nos milhões, que vão chegar
Que mais tarde ou mais cedo teremos de pagar.
José Silva Costa