O Império
O Império - as teias que o Império teceu
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Ficaram tristes por ainda faltarem tantos meses para a saída das naus, tinham tempo para percorrerem toda a Lisboa, ver as suas ruas e becos, sentir o pulsar de uma cidade muito diferente de Coimbra
Todos os dias calcorreavam uma parte da cidade, descansavam nos miradouros a observar o frenesi da cidade, não podiam fazer grandes caminhadas, como quando não tinham o Afonso, depois do almoço passavam umas horas, na pensão onde estavam hospedados, para ele dormir, descansar
O Afonso não se esquecia da Anastácia e do Elisiário, queria ir vê-los, os pais iam-lhe dizendo que em breve os iriam ver, sabendo que tão cedo não os iria esquecer
À tardinha, iam para a beira do rio, ver a chegada e partida dos barcos: canoas, varinos, fragatas, que transportavam muitos dos víveres que alimentavam os habitantes de Lisboa
Foram meses a percorrer os becos, ruas e ruelas de Lisboa, tudo foi passado a pente fino, a Marina aproveitou para observar o que havia à venda de utensílios de medicina, comprou alguns para levar para Luanda
Tencionava abrir um posto médico, aberto a toda a população, formar enfermeiros e enfermeiras para a poderem ajudar e atenderem os utentes com casos menos complicados, enquanto ela estivesse a tratar de doentes com exigências de mais conhecimentos
Em Luanda desesperava-se por notícias, já sabiam que raramente tinham notícias, da Metrópole, mais de uma vez por ano, quando as naus, com destino à Índia, aportavam em Luanda, para deixarem e apanharem passageiros, entregarem o correio, mercadorias, fazerem pequenas reparações, reabastecer as naus, para continuarem a viagem
A Rosinha esteve muito doente, receou não conseguir resistir até o neto chegar, queria tanto conhecê-lo, voltar a ver a Marina e o Roberto, não queria morrer sem os ver em Luanda, felizmente melhorara, encheu-se de coragem e foi visitar o compadre, queria saber se tinha notícias, para quando é que ele previa a chegada dos barcos vindos da Metrópole
Ele, para a animar disse-lhe que o tempo passava depressa, que em breve teriam os filhos e o neto com eles, seria um dia muito feliz, para toda a família, todos ficariam encantados com o Afonso
Até ela ficou como que rejuvenescida, o compadre tinha conseguido convencê-la de que ainda ia viver muito tempo, que iria ver crescer os netos, o que fez com que ela voltasse para casa muito feliz e confiante na sua longevidade
No dia seguinte, quando chegou à cooperativa, todos notaram que estava diferente, tentaram saber a razão, disse-lhes que tinha feito uma visita ao compadre e que tinha gostado do que ele lhe tinha dito.
Continua