O Império
O Império - As Teias que o Império Teceu
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O Comandante, que a tinha em muita consideração, disse que podiam sair os dois, desde que deixassem o trabalho feito, não se demorassem e não se afastassem muito do cais, para evitarem as ruas mais perigosas
Estava ultrapassada uma das dificuldades: a saída de ambos, o Comandante tinha caído na armadilha, que a Miquelina lhe atirara, com muita naturalidade, dando a entender que trocaria a visita a Luanda, que muito gostava de ver, pela segurança da sua vida
Tinha de transmitir, ao Ezequiel, a decisão do Comandante, lembrando-lhe que não poderiam dar a entender que estavam a abandonar o navio. Assim, só conseguiriam levar o que vestissem e pouco mais
À medida que se aproximava a chegada a Luanda, aumentava o seu nervosismo, era um grande salto para o desconhecido
Para piorar o ambiente, o setor à sua responsabilidade dava os sinais habituais: falta de alimentos frescos, a água cheia de bichos, o que estava a causar o aparecimento de mais marinheiros com escorbuto
Os que mais sofriam eram os niquentos, que não comiam de tudo, que ao fim de tanto tempo no mar, já não conseguiam comer o que restava
Tudo o que estava a acontecer: falta de apetite, água com bichos, o mal de Luanda (escorbuto), só poderia indicar que estavam muito perto de Luanda
O Ezequiel e a Miquelina esforçavam-se para que a comida fosse o melhor possível, mas ninguém consegue fazer omeletas sem ovos
Miquelina passava os dias a pensar na saída, em Luanda, na melhor maneira de saírem, com a maior quantidade de roupa, possível, sem que dessem nas vistas
Enquanto a Miquelina andava a matutar como seria o futuro, o Ezequiel passava os dias tranquilo, porque ela, ainda não tinha tido oportunidade de lhe dizer que o Comandante tinha autorizado que saíssem juntos
Sem saber quantos dias faltariam para chegarem a Luanda, lá lhe conseguiu dizer que sairiam juntos, sem tempo para falar de pormenores
Quando começaram a avistar terra, gerou-se uma grande euforia como, sempre, acontecia
A Miquelina aproveitou a oportunidade para dizer ao Ezequiel como deveria proceder quando abandonassem o navio
A pouco-e-pouco as naus foram-se aproximando do cais de Luanda, e a alegria a todos contagiou, esperava-os o trabalho do reabastecimento e o passeio à cidade.
Continua