O Império
O Império - As teias que o Império teceu
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As naus da armada, que já há longos meses tinham zarpado de Lisboa, continuavam a enfrentar grandes tempestades
Depois de terem tido de aportar no Funchal, na Ilha da Madeira, quando se fizeram, de novo ao mar, foram novamente fustigados por mais e maiores tempestades
Devido à destruição de velas e mastros tiveram de atracar, também, no porto de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, nos Açores
A Miquelina estava surpreendida com tantas e tão violentas tempestades, esta viagem não tinha nada a ver com a sua primeira viagem
O Ezequiel e a Miquelina voltaram a encontrar-se em terra, antes de dizer qual era a sua decisão, a propósito do convite, para ficarem os dois em Luanda, questionou-o sobre que planos é que tinha, para viverem em Angola
Ficou um pouco atrapalhado, mas não teve outro remédio senão dizer que não tinha nenhum plano, contava com a ajuda do irmão
Respondeu-lhe que isso não a tranquilizava, e se não o encontrassem, o que fariam
Tentou convencê-la de que não seria muito difícil encontra-lo, porque a cidade não deveria ser muito grande, era uma cidade jovem, ainda em formação, onde dois jovens como eles, não triam problemas para sobreviverem
Mas, ela não estava nada convencida das facilidades, pelo contrário, achava que poderiam não o conseguir encontrar, porque Angola era muito grande, e ele poderia não ter ficado na cidade
Tentou pôr fim a tantas dúvidas, disse-lhe que o melhor era não sofrerem por antecipação, quando lá chegassem veriam o que fazer, queria era saber qual era a decisão dela
Começou por lhe dizer que nem ela sabia o que fazer, mas que estava muito cansada daquela viagem, tão diferente da outra, sempre rodeada de tempestades, não lhes dando folga, nem para respirarem
Vendo que ele estava ansioso, quase a explodir, disse-lhe que gostava muito dele, estava disposta a ir com ele, para o bem e para o mal, para todo o lado
Ezequiel estava radiante, não resistiu, beijou-a e abraçou-a, ela, também, ficou felicíssima
Quando chegassem a Lunada, iam começar uma nova vida, noutro continente, de uma luminosidade atraente, quente, em estado selvagem, onde viajar é uma aventura continua
Beijaram-se mais umas quantas vezes, como se estivessem a despedir, para uma separação de meses ou anos, iam voltar ao navio, mas tinham de continuar indiferentes, fingindo não estarem apaixonados, eram, apenas, colegas de trabalho, como única mulher a bordo tinha de a todos tratar por igual, para que por todos fosse respeitada
Tinham de continuar a desempenhar os seus papéis, para que ninguém desconfiasse, até que a armada, a Angola, chegasse
Dali em diante os papéis eram mais difíceis de desempenhar, tinham de desviar os olhares, para que ninguém desconfiasse
O Capitão já andava de olho neles, por vezes referia-se a eles, dizendo que era o casalinho, e isso não deixava a Miquelina, nada tranquila
Sabia que não tinha cometido nenhum erro, mas o facto de trabalharem os dois, dava azo a essas piadas, temia que o Ezequiel se esquecesse das regras e deitasse tudo a perder.
Continua