O Império
O Império – As teias que o Império teceu
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Quando soubesse da próxima viagem da carreira das Índias, tinha de tentar que fosse escolhido para fazer parte da tripulação
Ficou por ali, a tentar falar com os que tinham desembarcado, não só para saber se conheciam o irmão, mas também para saber das dificuldades da viagem, se pensavam voltar a fazê-la
Alguns tinham ouvido falar do Januário, mas nenhum tinha tido convivência com ele, quanto voltar a fazer a viagem, todos foram unanimes, não queriam voltar a fazê-la, estavam muito felizes por terem conseguido voltar, tinha sido uma viagem muito difícil, na qual, alguns, tinham perdido a vida
Ficou um pouco triste, mas imediatamente afastou a tristeza, pensando que só queria ir até Luanda
A bordo continuavam o comandante e a Miquelina, que quando se foi despedir, revelou que tinha feito toda a viagem, sem que ninguém desconfiasse que era mulher
O comandante deu-lhe os parabéns, pediu-lhe que voltasse para a próxima viagem, porque tinha uma missão muito importante para ela
Demoram-se, ainda, muito tempo a falar do papel das mulheres, nas viagens à Índia, dizendo-lhe que não tinha sido a primeira, e que os comandantes tinham mudado de opinião, considerando que o seu trabalho era muito importante, como reconheceu Vasco da Gama, que depois de ter humilhado as mulheres que tinham embarcado disfarçadas de homens, deixou-lhes, em testamento, uma boa pensão, para poderem viver e casar, ficaram as três a viver, na Índia
Aproveitou para lhe falar da Antónia Rodrigues, disfarçada de António Rodrigues, que devido à sua bravura, em Mazagão, apenas com 13 ou 14 anos, passou da infantaria para a cavalaria
Ninguém desconfiava do seu género. Nunca se deitava sem o gabão e as ceroulas a disfarçarem-lhe o corpo
Por volta dos 18 anos, a filha de um alto dignatário, de Mazagão, apaixonou-se pelo valente cavaleiro, tendo sido pressionada para que se casasse, achou por bem assumir o seu género
Continuou a ser muito admirada e chegou a viver na corte de Filipe II de Portugal, em Madrid
Depois da morte do rei, voltou para Portugal, onde morreu em 1641
A Miquelina estava radiante com o que o comandante lhe acabava de revelar, também ela faria parte do grupo de mulheres que, disfarçadas de homens, tinham conseguido prestar grandes serviços ao país
Por fim, o comandante revelou-lhe qual seria a sua missão na próxima carreira regular da Índia. Mostrando-se muito preocupado com a quantidade de homens que morriam, devido ao escorbuto
Queria que ela aproveitasse o tempo, que falta para a próxima viagem, cerca de um ano, para tentar saber o que se poderia fazer, para reduzir a grande mortandade causada pelo escorbuto, também designado como mal de Luanda
Miquelina assegurou-lhe que tudo faria para tentar saber o que se poderia fazer, para reduzir o medo, que todos tinham da terrível doença.
Continua