Lisboa!
Festas de Lisboa
Lisboa, quem te viu e quem te vê!
Antigamente: desconfiada, amordaçada, num vestido de chita, enfiada
Cantando o fado, com uma canastra de peixe, à cabeça, carregada
Com muitos negócios de vão de escada
Passavas os dias, calada, com medo da piada, atribuída ao símbolo da cidade: dois corvos num barco
“se pias, embarcas”
Só os pregões quebravam a monotonia de uma cidade, vazia
--- O homem do ferro velho: “quem tem trapos, garrafas ou jornais, para vender”?
--- A varina: “é carapau e sardinha, vivinha da costa”
--- A mulher da fava-rica; “ fava-rica, quem quer almoçar”?
--- O ardina : “Século, Diário de Notícias”
Um compadre meu, apanhou um comboio, com destino à estação de Sul e Sueste, cuja viagem de comboio terminava no Barreiro, sendo o resto do percurso feito de barco, para ir depositar o dinheiro da cortiça.
Mal saiu do comboio, apareceu o ardina a apregoar: Século, Diário de Notícias, Século, Diário de Notícias
O meu conterrâneo percebeu, cerca o da cortiça; voltou para o comboio e seguiu para casa
A mulher estranhou a rapidez da viagem, e pelo aspeto do marido, viu, logo, que algo tinha corrido mal
Foi, então, que ele lhe disse: Vê lá, que mal saí do comboio, no Barreiro, apareceu um homem a gritar: “ cerca o da cortiça, cerca o da cortiça”
Como é que eles sabiam que eu tinha vendido a cortiça?
Lisboa, com os seus bairros populares, sempre em competição, mas o mais badalado era o Bairro Alto, onde se situavam os jornais, as casas de fado e as de prostituição, lado a lado
Uma coisa que não mudou foi a pedinchice! Parece-me que o país sempre viveu de mão estendida
Pelo Santo António, em cada esquina, um bando de miúdos, com uma imagem do santo, na mão, pediam: “ um tostãozinho para o Santo António”.
José Silva Costa