Em confinamento
46 anos
Foi a madrugada mais radiosa, que nasceu
As balas foram substituídas por cravos vermelhos
Quando a madrugada rompeu
Lisboa foi acordada pelos carros de combate
A cidade, de medo, estremeceu
Mas, quem os mandou disparar, não venceu
Porque o atirador não obedeceu
Não quis manchar o dia que, tão radioso, apareceu
O povo ocorreu à rua
De peito afogueado, com medo que algum passo fosse maldado
Quando o sol raiou, uma senhora, um cravo vermelho, colocou
No cano de uma espingarda G3
O povo sorriu e aplaudiu
Estava quebrado o vazio
Um punhado de militares acabava de derrubar uma ditadura de meio-século
E um império de cinco séculos
Nos cinco cantos do mundo, houve choros e desejos
Que do velho império, nascessem povos inteiros
Que finalmente regressasse a paz
Foi um parto muito doloroso e difícil
Após treze anos de guerra
Valeu-nos o cansaço da espera
Para que sete povos decidissem os seus destinos
As transições são quase sempre, difíceis e dolorosas
Mas com disse uma futura rainha de Portugal:
“ Vale mais ser rainha por um dia, do que duquesa toda a vida”.
José Silva Costa