Catarina Eufémia
Baleizão, 19/05/1954
Catarina Eufémia
O dia parecia de calma, com o mercúrio a passar o quarenta graus centígrados
Mas, de repente tornou-se num inesquecível dia de terror
As espigas já estavam douradas, segá-las era uma oportunidade de enganar a fome
Porque com trabalho sazonal, monda e ceifa, a fome era endémica.
Querias, para os teus filhos, pão
Querias, ao patrão, expor a tua razão
Com a força de quem tem filhos para criar
E, para melhor a aflição demonstrar
Decidiu, nos braços, o terceiro filho, levar
Quem poderia adivinhar, o que os podia esperar?
Quando, com a realidade não conseguimos conviver
É às armas que, os fracos, costumam recorrer
Não é isso que, no Mediterrâneo, estamos a fazer?
Com a convicção de que te iam entender
Porque, certamente não quereriam ver
Os teus filhos, à fome, morrer!
Enfrentaste um tenente, que não teve pejo em te abater!
Com três tiros: um por cada filho
Cego, pelo poder, nem pensou no que estava a fazer
Uma dor! Um horror! Que o Mundo nunca vai esquecer!
José Silva Costa
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