Adeus
Meu saudoso irmão
Irmão, meu irmão
Partiste tão cedo!
Sem que tivéssemos tido tempo
De relembrar as nossas aventuras
Os seis anos que brincámos, juntos (porque aos dez anos saí do nosso lar, para ir trabalhar)
Os brinquedos que inventámos
Nós, nunca fomos visitados pelo Pai Natal
Todos os nossos brinquedos foram da nossa autoria
Com mais quatro anos, queria impor as regras
Mas, tu nem sempre concordavas
Então, tínhamos de negocia-las
Cada um tinha o seu rebanho de ovelhas
Que pastoreávamos na margem da ribeira
Materializado por seixos brancos
Os mais pequenos eram os borregos
Os dois maiores representavam o cão e o pastor
Um dia inventámos um escorrega
Descobrimos uma grande laje, com bastante inclinação, na margem da ribeira
Mas tínhamos de arranjar qualquer coisa onde nos sentarmos, para não estragarmos as calças
Já não sei de quem foi a ideia de arranjar uma grande esteva
Onde nos sentávamos e descíamos, à vez
Ao princípio, com todo o cuidado, íamos travando com os pés, descalços, com medo
Mas, à medida que a adrenalina nos fez esquecer o que poderia acontecer
Acelerávamos, e, só nos últimos metros tentávamos travar, para reduzir o embate
Nos dias frios de outono e inverno, quando a superfície da ribeira gelava, chegava o desafio
Tentar tirar e levar para terra, aquilo a que chamávamos espelhos: a maior superfície e água gelada, numa operação sincronizada, para que não se partissem.
Adeus.Descansa em paz.
José Silva Costa
