A sedutora
Lisboa! A sedutora
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Chegou o dia da prova escrita, com muito nervoso miudinho, lá foi até à Praça José Fontana, conhecer mais um Liceu, aquele que homenageia o seu poeta preferido
Correu bem, quando saíram os resultados, estava aprovado, ia à prova oral
No dia em que fosse fazer a prova oral, telefonaria à namorada para lhe dizer o resultado, dizia-lhe que era muito importante ir graduado em sargento, para ela poder ir ter com ele ao teatro de guerra, caso houvesse condições para isso, mesmo que pensasse que isso nunca aconteceria
Ela não tinha telefone, mas uma vizinha tinha, por ser telefonista da Anglo Portugueese Telephone, empresa inglesa, que explorava os telefones de Lisboa e Porto, e dava trabalho a muitas mulheres, como telefonistas, as chamadas eram manuais, tinha de se pedir à telefonista para marcar o número para onde se queria falar, uma vez que a empresa não fez grandes investimentos, porque o contrato de conceção estva a terminar
No dia em que fez o exame da prova oral, mal soube que tinha ficado aprovado, dirigiu-se para o jardim defronte do Liceu, onde havia uma cabine telefónica pública, e ligou para a namorada, para lhe dar a boa novidade
Foi um dia determinante para o seu futuro, conseguiu subir um degrau, em vez de ser incorporado como praça, passou a ter acesso à classe se sargentos
Em breve iam casar-se, como tinham 20 anos, eram menores, tiveram de pedir autorização aos pais para se poderem casar
O patrão e os irmãos juntaram-se para lhe oferecerem, como prenda de casamento: a cama e o colchão, as mesas-de-cabeceira, uma mesa e dois bancos, uma excelente prenda para encherem o quarto, vazio, que tinham alugado
Dois meses depois, em setembro, casaram-se, foram viver para o quarto, que tinham alugado na Rua da Imprensa à Estrela, por de trás do Palácio de São Bento, residência oficial do Presidente do Conselho de Ministros
Um prédio de dois andares, no rés-do-chão viviam: a dona casa, o marido, a filha e o filho, maiores, um casal com um filho bebé e o casal em lua-de-mel, no andar de cima viviam: um maestro, a esposa e os nove filhos
O jovem casal todos os dias adormecia ao som do piano. Ela, como passava mais tempo em casa, dizia que já não podia ouvir mais piano
Ele tinha de ir todos os dias para a escola, não queria deixar de estudar, mesmo que a primeira etapa já estivesse conquistada
Tinha um novo professor de português (Manuel dos Santos Alves) um Camoniano, que andava a elaborar um dicionário de Os Lusíadas, de vez em quando dizia que ao mesmo tempo que ele andava a decifrar Os Lusíadas, outros andavam a ler A Bola
Também tinha livros de interpretação de Os Lusíadas, que vendia aos alunos
A sua aula era a última da noite, das 23 às 24 horas, todas as noites chegava com o vespertino debaixo do braço, foi ele que os informou que a guerra entre os israelitas e os árabes tinha começado, a guerra dos seis dias
Quando entrava na sala de aula, já alguns estavam a dormir, acordava-os declamando os versos de Camões.
Continua