A sedutora
Lisboa! A sedutora
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Na Escola Académica, tinha um colega de carteira, que era um barra, o melhor aluno da turma, sabia escrever à máquina e trabalhava num escritório, o que fez com que ele quisesse comparar uma máquina de escrever, tinha o sonho de um dia, também, trabalhar num escritório
Num belo dia, estava sozinho na loja da rua dos Poiais de São Bento, entrou na loja o vendedor da “Régisconta”: vendia máquinas de escrever, calcular …., disse-lhe que o patrão não estava, mas que ele estava interessado numa máquina de escrever, depois de ver o catálogo, escolheu uma, que custava à volta de 4.000 escudos, e combinaram o dia da entrega
Assim que o patrão chegou, disse-lhe que tinha encomendado uma máquina de escrever e que precisava do dinheiro para a pagar
Um dia antes, do dia da entrega da máquina, o patrão pagou-lhe a dívida e ele comprou a tão desejada máquina de escrever, estava escrito nas estrelas que iria escrever muito
Lia o jornal Diário de Lisboa, onde o então, ainda, aluno da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Filologia Românica, Eduardo Prado Coelho tinha uma rúbrica para onde se podiam enviar quadras
Aproveitou para datilografar umas quadras e enviou-as, para o jornal, mas nunca as viu publicadas, ainda teria de ler muitos livros, para alimentar o sonho de um dia saber escrever
O Eduardo, um ano mais velho que ele, organizou uma palestra, com uns oradores espanhóis, na Casa da Imprensa, perto do Largo de Camões, em Lisboa, num sábado, à tarde, onde juntou cerca de 600 pessoas, o espaço estava lotado. Estavam com receio que a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) interviesse, mas correu sem incidentes
Aproximava-se a época dos exames, para se candidatar a exame, como aluno externo, tinha de apresentar o boletim de vacinas e o diploma da quarta classe
Escreveu para a Delegação Escolar de Mértola, onde tinha feito a quarta classe, enviou uma nota de 20 escudos, dentro da carta registada, como tinha feito para o Registo Civil de Almodôvar, aquando do pedido de uma certidão de nascimento, para tratar do Bilhete de Identidade, recebeu o troco em selos do Correio
Passaram uns dias, sem resposta, com receio que o diploma não chegasse a tempo, enviou nova carta, mas com acuso de recção, recebeu imediatamente uma resposta, dizendo que em breve lhe enviariam o diploma, e assim aconteceu
Assim que recebeu o diploma da quarta classe, foi-se inscrever para fazer o exame do primeiro ciclo, como aluno externo, no Liceu Passos Manuel
Sabia que era muito difícil ser aprovado, fazer dois anos num, depois de tantos anos de ter feito a quarta classe, mas mesmo assim tentou a sorte, os exames não passam de momentos de sorte ou azar, quantas vezes, alunos bem preparados, nos exames enervam-se e não fazem nada, para tudo é preciso um pouco de sorte, coisa que não teve ou não chegou, e reprovou na prova escrita.
25/08/2007
A notícia saíu
Em pleno Verão
No mês das férias
As nuvens desfizeram-se em lágrimas
Por te perdermos
No Verão da idade
A morte não foi de férias
O Mundo tremeu
Não amanheceu
No Verão choveu
O encontro não aconteceu
O Sol toldou-se
As nossas Primaveras cruzaram-se
Quando organizaste uma sessão de esclarecimento
Na casa da Imprensa, junto ao largo de Camões
Escrevias no Diário de Lisboa
Onde nos convidaste
Para a perigosa reunião
Que teve uma grande adesão
A PIDE não entreviu
A tua missão seguiu
Lutar contra a ditadura
Tiveste uma brilhante carreira
A doença levou-te antes do tempo
Quando, no Jornal, o Público, ainda nos davas alento
De que fintarias o vento
Por os séculos fora, vai ficar o teu talento
Em cada livro teu, é ele que esta lá dentro.
Singela homenagem a Eduardo Prado Coelho
Continua