A sedutora
Lisboa! A sedutora
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No ano de 1959, pelo menos, duas grandes inaugurações: a 17/5/1959 foi inaugurado o Santuário Nacional de Cristo Rei
Um mar de gente invadiu as ruas da baixa de Lisboa em direção aos cacilheiros, os barcos que fazem a travessia do Tejo entre Lisboa e Cacilhas, 300 mil pessoas assistiram à inauguração
Quase no fim do ano, em 29/12/1959 foi inaugurado o Metropolitano de Lisboa. Alguns dos passageiros, quando voltaram à superfície, disseram que tiveram dificuldades em respirar
Tudo o que é novidade pode causar alguma ansiedade. Todos sabemos o que aconteceu com alguns produtos alimentares, em que o Rei teve de os comer em público, para que o povo acreditasse que não fazia mal à saúde, o que aconteceu com as batatas
As mudanças e as novidades eram constantes, do estrangeiro copiámos o snack-bar e o self-service. O primeiro self-service, em Lisboa, se não estou em erro, funcionou na Avenida Liberdade
Havia uma fila enorme, todos queriam saber como funcionava a novidade, pegar num tabuleiro, recheá-lo e colocá-lo num apoio alto, comer de pé, para ser mais rápido
Muitos olhos a vararem-nos como se nos quisessem fuzilar, parecendo dizer para nos despacharmos, porque também queriam petiscar
Para quem tinha duas horas para o almoço, aquilo era inconcebível, o melhor era continuar a ir ao tradicional restaurante, comer e beber, ficar ali no ripanço, a falar de futebol, a concordar ou discordar do trabalho do árbitro
As tabernas, só frequentadas por homens, trabalhadores braçais, onde bebiam vinho ao copo, tirado dos barris, de fraca qualidade, muito feito a martelo, acabaram por desaparecer, também vendiam carvão e petróleo
Os cafés, no início eram mais para as elites, onde discutiam política e forjavam revoluções
Nos anos sessenta não se viam mulheres nos cafés, onde se podia passar o dia a estudar ou dar explicações
Muitos eram espaços enormes, com muitos lugares, em quanto que o snack-bar, normalmente era um pequeno espaço, com refeições leves e rápidas
Vieram fazer concorrência aos restaurantes, onde se passavam duas horas ou mais a almoçar
Quando os snack-bares apareceram, os alfacinhas sentiam-se importantes, quando diziam: “ vou ao snack-bar”, era como se aquela palavra lhes desse outro valor: os tornasse importantes, diferentes dos que não frequentavam aquele espaço, para eles, snobe
Durante muitos anos, preferimos produtos estrangeiros, tínhamos uma grande admiração por tudo o que vinha de fora. Poderá estar relacionado com a fraca qualidade dos nossos produtos, por não haver concorrência, e tudo o que produzíamos ter escoamento nas colónias.
Continua