Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

cheia

cheia

21
Set23

O Império

cheia

O Império – As teias que o Império teceu

 

27

A partir de 1637, João Maurício de Nassau foi nomeado governador-geral da colónia holandesa, no Brasil, um alemão, que prosperou como militar, na Holanda, sendo convidado pela sua atuação como militar e por possuir parentes influentes

Os bons negócios têm, sempre, muita concorrência: todos gostam de ganhar muito, com pouco trabalho

Outros povos, também, já tinham despertado para a comercialização dos povos africanos, sendo que os holandeses eram os mais ferozes concorrentes, tentando substituir os portugueses, guerreando-os no Brasil

A Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais ocupou o Nordeste do Brasil em 1630

Decidiu invadir Angola, por necessitar de mais escravos para levar para o Nordeste Brasileiro

A ocupação holandesa de Angola, denominada oficialmente Loango-Angola, foi em 25 de agosto de 1641, comandada pelo Almirante Cornelis Jol apoiado por 18 navios

A intenção da Companhia seria mesmo ficar em Angola, dados os planos de construir um canal desde o Rio Cuanza, a sul, até Luanda

Quando os irmãos se reencontraram, Quando o negócio da escravatura estva a correr bem, quando a Rosinha e o Januário, juntamente com o Ezequiel e a Miquelina tinham acabado de inaugurar a nova casa, na cidade de Lunada, é que os holandeses tinham de invadir Angola!

Antes dos holandeses entrarem na cidade, o governador pediu à população, que fugisse para o Norte, para o Forte de Massangano

A Fortaleza de Massangano foi construída em 1583, nas margens do rio Cuanza, representando a presença militar portuguesa, em Angola

 

Massangano é uma pequena localidade angolana, que pertence ao município de Cambambe, província do Cuanza Norte. A localidade dista cerca de 25 km da cidade do Dondo, capital do município. Uma comunidade pequena, localizada nas margens do rio Cuanza, composta maioritariamente por camponeses e pescadores

O Forte de Nossa Senhora da Vitória de Massangano, popularmente conhecido como Forte de Massangano ou Fortaleza de Massangano era praça de armas donde partia socorro em gente, mantimentos e armas para as fortalezas do Cuanza, nomeadamente a de Muxima, ao longo dos séculos XVII e XVIII

Até parecia que a chegada do Ezequiel e da Miquelina tinha dado azar. Por outro lado, os quatro concordaram que, juntos, seria mais fácil enfrentarem os duros, negros e longos anos, que se avizinhavam com a chegada dos holandeses

Nem todos responderam ao pedido do governador: as irmãs e a mãe da Rosinha não quiseram deixar a sua casa e as suas lavras

Para outros, tanto lhes dava que fossem os portugueses ou os holandeses a governarem a cidade, o que queriam era continuar com as suas vidas, sem quererem saber de quem os governava

Para os naturais de Angola, que não viviam na dependência do governador, não viam grade diferença entre portugueses e holandeses, porque o que ambos queriam era mão-de-obra escrava para os engenhos do Brasil

A grande diferença, segundo Frei Luís Brandão, chefe do colégio jesuíta de Luanda, em 1610, seria o facto de os portuguese, pelo menos, os terem convertido ao cristianismo.

 

Continua

 

 

 

14
Set23

O Império

cheia

O império – As teias que o Império teceu

26

Finalmente, a casa de Luando ficou pronta, os dois casais mudaram-se para a capital da colónia

À Rosinha custou-lhe muito deixar a sua terra, a mãe e as irmãs, a quem pediu para continuarem a fabricar a sua lavra

Ficou com mais tempo para se dedicar à filha e ao filho, uma vez que, para além da lida da casa, dividida com a cunhada, nada mais tinha para fazer

O bom rendimento do negócio dava para os dois casais viverem bem, ainda que as mulheres continuassem a dizer que não queriam, por muito mais tempo, viver da compra e venda de escravos

 Mas, por mais que puxassem pela cabeça, não encontravam nada que, de um momento para o outro, pudesse dar um rendimento, que lhes permitisse continuarem com a boa vida de Luanda 

Sem resposta, comprometeram-se a procurar uma solução.

O negócio do açúcar, que tanta mão-de-obra necessitava, foi o grande incremento da escravatura, instalado, no Brasil, com o auxílio de capital holandês, porque os senhores dos engenhos só conseguiram desenvolver o negócio, com dinheiro emprestado pela Holanda, que também participava na refinação do açúcar e na sua distribuição, pela Europa

A parceria entre Portugal e a Holanda correu bem até à perda da independência de Portugal, uma vez que a Holanda estava em guerra com a Espanha

Com a coroação de Filipe II, os holandeses foram excluídos das suas atividades no Brasil, chegando a ordenar o confisco de embarcações holandesas, que estavam em Lisboa, por diversos anos

Os holandeses resolveram reagir, para defenderem os seus interesses económicos

Em 1595, embarcações holandesas saquearam o porto português de São Tomé e Príncipe  

Em 1604, atacaram a cidade Salvador, a primeira capital do brasil, mas fracassaram

 Em 1621, os holandeses fundaram a Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais, a quem foi atribuída a responsabilidade pelo desenvolvimento de um empreendimento colonial holandês, nas Américas, tendo como objetivo controlar a produção de açúcar, no Brasil e os postos de comércio de escravos, em África

Em 1630, os holandeses levaram mais de 7.000 homens para atacarem Olinda, que foi conquistada a 14 de Fevereiro desse ano

Entre 1630 e 1637, os holandeses lutaram continuamente contra os portugueses

Um dos seus aliados foi o português Domingo Fernandes Calaba, que se passou para o lado holandês.

 

Continua

 

 

 

 

07
Set23

O Império

cheia

O Império – As teias que o Império teceu

 

25

O reencontro dos irmãos foi uma nova página, que se abriu na vida dos dois casais, fazendo com que estivessem muito felizes

A Miquelina e o Ezequiel não se cansavam de elogiar a bonita sobrinha e o bonito sobrinho, fazendo com que a Rosinha, meio a brincar, lhes respondesse, que com pais bonitos, tinham de ser bonitos

Assim que o Januário e o irmão saíram, para tratarem dos seus negócios, uma vez que o Januário tinha proposto ao irmão, sociedade nos negócios, e este aceitou, a Rosinha convidou a cunhada, para irem ver a lavra, onde tinha batata-doce, milho, mandioca, amendoim e a cana- de- açúcar, causa da escravatura, por exigir muita mão-de-obra, tanto no cultivo, sendo o corte, um trabalho muito violento, como no funcionamento dos engenhos de produção de açúcar

 E que, também, causava discórdia entre elas e os maridos, por elas serem contra a escravatura

A Miquelina ficou admirada com a extensão da lavra e com os bons produtos, que ela dava

Ofereceu-se para ajudar no que fosse preciso, porque estava interessada em aprender a trabalhar a terra

Mas, a Rosinha, um pouco triste, disse-lhe que não valia a pena, porque em breve mudar-se-iam para Luanda, não sabendo se continuaria a fabricar alguma lavra

Todos estavam desejando de irem para luanda, menos ela, que preferia viver onde tinha nascido

A Miquelina também disse que lhe tinha custado muito deixar a sua linda Lisboa

É uma maldição dos portugueses, andarem de país em país, de continente em continente à procura de melhores condições de vida

O pequeno retângulo, sempre, foi pequeno, para grandes sonhos e a vontade de ver o que estava para lá do Atlântico foi, em todos os tempos, muita

Quando se mudarem para Luanda, a Rosinha vai ter mais tempo para se dedicar à filha e ao filho, e com a chegada do cunhado e da cunhada o ritmo de vida pode sofrer algumas alterações

Ela e a Miquelina já trocaram algumas opiniões, ambas estão de acordo em que a escravatura não pode ser o meio de sustento da família

Agora que os manos estavam juntos, era uma boa oportunidade para os quatro, em conjunto, procurarem um trabalho digno, para obterem o sustento das suas famílias.

Continua

 

 

31
Ago23

O Império

cheia

O Império- As teias que o Império teceu

24

Os irmãos continuavam a pôr a conversa em dia. O Ezequiel não queria ser ele, a acabar com a alegria do reencontro, esperou que fosse o irmão a perguntar-lhe pela mãe

Quando o Januário perguntou pela mãe, o Irmão disse-lhe que, infelizmente, a mãe já tinha falecido há seis meses

Januário chorou um pouco, dizendo que tinha tanta pena de que a mãe não tivesse conhecido a Rosinha, a Leopoldina e o Roberto, e foi assim que o Ezequiel soube os nomes da cunhada,  da sobrinha e do sobrinho

Todos tiveram de ficar, mais uma noite, na casa do casal, que acolheu o Ezequiel e a Miquelina, uma vez que a casa do Januário, nos arredores de Luanda, ainda ficava a uns quilómetros

O Januário lamentou o facto de a sua nova casa, em Luanda, ainda não estivesse acabada

Os anfitriões disseram-lhes que podiam ficar o tempo que quisessem, que estavam muito felizes por os terem conhecido e terem tido a oportunidade de os acolher

No dia seguinte, levantaram-se cedo, agradeceram muito o acolhimento, que tinham tido

Prometeram que, quando estivessem a viver em Luanda, voltariam para saberem como tinham passado, desejando-lhes muita felicidades

Os três fizeram-se ao caminho, que era longo. Chegaram, quase ao pôr-do-sol, ainda a tempo de verem a Rosinha, a filha, o filho, a sua mãe e as irmãs com a luz do sol

No dia seguinte, depois de terem tomado o pequeno-almoço, todos juntos, os irmãos  continuaram a pôr a conversa em dia, enquanto as cunhadas, também, tentavam conhecer-se e saber o que ambas pensavam, no futuro, fazer

O Januário falou ao irmão sobre o bom negócio da compra e venda de escravos, o que entusiasmou o Ezequiel

A Rosinha continuava contra o negócio da compra e venda de seres humanos, defendendo que deviam procurar outro meio de sobrevivência

A Miquelina, também, disse que não tinha ficado em Luanda, para viver à custa do sofrimento Humano

O Januário continuava a dizer, que só o fazia para tentar libertar o sogro e os cunhados

Elas disseram-lhes que não aceitariam, por muito tempo, esse comportamento, porque não podiam permitir, que os filhos, gerados nos seus úteros, fossem mercadorias, que pudessem ser vendidas e compradas, como se fossem um qualquer produto vendável

Comprometeram-se a tentar arranjar uma alternativa, mas não sabiam como

Interrogando-se, por que razão é tao difícil ganhar a vida honestamente?

Continua

 

 

 

 

 

    

24
Ago23

O Império

cheia

O Império - As teias que o Império teceu

23

Chegou a hora de deixarem o barco e darem um salto para o desconhecido: a Cidade de Luanda

Depois do almoço, pelas 15 horas, a Miquelina e o Ezequiel puseram pé em terra firme, faltavam 3 horas para a noite se abater sobre a cidade

Mal tiveram tempo de dar uma vista de olhos pela cidade. De repente a escuridão engoliu a cidade e eles só tiveram tempo de se abrigar num recanto, debaixo de uma árvore

Não havia nada que lhes conseguisse roubar a magia da primeira noite, juntos, e dos primeiros beijos. Entre beijos e abraços, no romantismo da noite escura, as 12 horas passaram num abrir e fechar de olhos, quando menos esperavam, o sol apareceu a beijá-los com todo o seu esplendor

Levantaram-se do assento onde passaram a noite, abraçaram-se, beijaram-se e gritaram: “Viva o Amor”

Como tinham combinado, iniciaram o dia a pedir ajuda, tentaram contar a sua história a várias pessoas, uns ouviram-nos, outros não, ninguém se mostrou interessado em ajudá-los

Resolveram bater às portas, umas não se abriram, outras abriram-se, mas ninguém estava em condições ou os queria ajudar, estavam quase a desanimar, mas uma  abriu-se de par em par

Foi a de uma família, que conhecia um Januário, não sabiam se seria o irmão do Ezequiel, fosse ou não, tinham uma casa à disposição, por o tempo que fosse necessário

E, prometeram-lhes enviar um emissário a casa do Januário, para o informar de que tinha chegado, de Lisboa, um Ezequiel, que procurava um irmão, chamado Januário, e que o forasteiro e a sua companheira estavam hospedados na casa deles

Três dias depois, deu-se o reencontro dos irmãos, foi um  momento de muita alegria e emoção, que culminou com um forte abraço

De seguida, o Ezequiel apresentou-lhe a Miquelina, dizendo-lhe que era a sua companheira, que tinham vindo na carreira da Índia, e que ficaram em Lunda, para o verem e começarem uma nova vida, noutro Continente

A Miquelina aproveitou para dizer, ao Januário, que já o conhecia da anterior viagem, e que tinham reparado um mastro, juntos

Ele respondeu-lhe que até sair, em Luanda, não viu nenhuma mulher a bordo, mas ela conseguiu que ele se lembrasse do momento em que os dois estiveram a reparar o mastro, não deixou de lhe dizer, que estava muito bem disfarçada

Beijaram-se, disse-lhe que era muito bem-vinda e que estava muito contente, por ter uma linda cunhada.

Continua

 

 

17
Ago23

O Império

cheia

O Império – As teias que o Império teceu

22

O Januário, assim que soube que as naus tinham atracado ao cais de Luanda, foi passando, por lá, todos os dias

Mas, não conseguiu encontrar ninguém conhecido, nem ninguém que lhe desse as notícias  desejadas sobre a sua amada Lisboa

A notícia que todos queriam revelar, por ser uma coisa invulgar, era a de que abordo viajava uma mulher

Januário, também, ficou muito surpreendido e tentou que lhe descrevessem a mulher, para ver se faria algum sentido, a armada trazer uma mulher a bordo

Disseram-lhe que era uma mulher muito bonita, muito competente no seu trabalho de gerir os mantimentos e fazia equipa com um rapaz da sua idade, que se chamava Ezequiel

Quando falaram em Ezequiel, ainda, disse que era o nome do seu irmão, mas nunca pensou que fosse ele

Despediu-se, desejando-lhes boa viagem, e que continuaria a passar por ali, todos os dias, para ver se se cruzava com alguém conhecido, queria saber mais de Lisboa

Finalmente, as quatro naus chegaram a Luanda. A Miquelina e o Ezequiel tinham muito trabalho pela frente, para reabastecerem as naus, enquanto esse trabalho não estivesse feito, não teriam autorização para saírem

Não era fácil o reabastecimento, porque não havia a quantidade de produtos necessários, o que fazia com que tivessem de aproveitar tudo o que houvesse, incluindo as frutas e em especial as bananas, que eram, sempre, em grande quantidade

Ao décimo segundo dia, depois de chegarem a Luanda, a primeira parte do trabalho da Miquelina e do Ezequiel estava completo

As frutas e os vegetais só eram embarcados poucos dias antes das naus se fazerem ao mar, de novo

Se tudo correr como planeado, a Miquelina e o Ezequiel, em breve, abandonarão o barco e darão um salto para o desconhecido, sem saberem o que os esperará, faz parte da aventura

O Januário já estava cansado de todos os dias passar pelo cais, sem que conseguisse obter notícias relevantes

Mas, iria continuar, todo os dias, os seus esforços, enquanto os barcos se mantivessem atracados, para saber mais de Lisboa, de quem tinha tantas saudades, principalmente da mãe e do irmão

A procura de uma vida melhor leva-nos, tantas vezes, a perder tanta coisa: o não acompanhamento do crescimento dos filhos, a separação do casal, o convívio com os outros familiares e amigos, um clima a que estamos habituados, o local onde nascemos, que é tão importante, pelo simbolismo, que carrega.

Em certos casos, não sei se compensam tantos sacrifícios, para tão poucos proveitos

A emigração da última metade do século passado levou-nos a aceitar os duros trabalhos que outros não queriam, era uma emigração clandestina, que fazia com que aceitássemos as condições impostas pelos patrões

Hoje, felizmente é diferente, não deixando de ser um desenraizamento e um grande empobrecimento, para o país que, se empenha na formação dos jovens, os vê partir à procura de melhores condições de vida, contribuindo para o enriquecimento de outros países.

Continua

 

 

 

10
Ago23

O Império

cheia

O Império  -  As Teias que o Império Teceu

 

21

O Comandante, que a tinha em muita consideração, disse que podiam sair os dois, desde que deixassem o trabalho feito, não se demorassem e não se afastassem muito do cais, para evitarem as ruas mais perigosas

Estava ultrapassada uma das dificuldades: a saída de ambos, o Comandante tinha caído na armadilha, que a Miquelina lhe atirara, com muita naturalidade, dando a entender que  trocaria a visita a Luanda, que muito gostava de ver, pela segurança da sua vida

Tinha de transmitir, ao Ezequiel, a decisão do Comandante, lembrando-lhe que não poderiam  dar a entender que estavam a abandonar o navio. Assim, só conseguiriam levar o que vestissem e pouco mais

À medida que se aproximava a chegada a Luanda, aumentava o seu nervosismo, era um grande salto para o desconhecido

Para piorar o ambiente, o setor à sua responsabilidade dava os sinais habituais: falta de alimentos frescos, a água cheia de bichos, o que estava a causar o aparecimento de mais marinheiros com escorbuto

Os que mais sofriam eram os niquentos, que não comiam de tudo, que ao fim de tanto tempo no mar, já não conseguiam comer o que restava

Tudo o que estava a acontecer: falta de apetite, água com bichos, o mal de Luanda (escorbuto), só poderia indicar que estavam muito perto de Luanda

O Ezequiel e a Miquelina esforçavam-se para que a comida fosse o melhor possível, mas ninguém consegue fazer omeletas sem ovos

Miquelina passava os dias a pensar na saída, em Luanda, na melhor maneira de saírem, com a maior quantidade de roupa, possível, sem que dessem nas vistas

Enquanto a Miquelina andava a matutar como seria o futuro, o Ezequiel passava os dias tranquilo, porque ela, ainda não tinha tido oportunidade de lhe dizer que o Comandante tinha autorizado que saíssem juntos

Sem saber quantos dias faltariam para chegarem a Luanda, lá lhe conseguiu dizer que sairiam juntos, sem tempo para falar de pormenores

Quando começaram a avistar terra, gerou-se uma grande euforia como, sempre, acontecia

A Miquelina aproveitou a oportunidade para dizer ao Ezequiel como deveria proceder quando abandonassem o navio

A pouco-e-pouco as naus foram-se aproximando do cais de Luanda, e a alegria a todos contagiou, esperava-os o trabalho do reabastecimento e o passeio à cidade.

Continua

 

  

03
Ago23

O Império

cheia

O Império – As teias que o Império teceu

20

Reparadas as naus, fizeram-se, de novo, ao mar, as condições estavam favoráveis, durante alguns dias não tiveram problemas. Mas, infelizmente, foi sol de pouca dura

Cinco dias depois de saírem de Angra do Heroísmo, nos Açores, voltaram a enfrentar ventos ciclónicos, numa manobra errada, um golpe de vento partiu uma nau ao meio, afundou-se em pouco tempo, dez dos trinta tripulantes morreram

Não tardaram as acusações, as superstições, as tentativas de encontrarem bodes expiatórios, alguém a quem culpar, por estarem com tanto azar

Uns culpavam o Comandante por se terem feito ao mar numa sexta-feira dia 13, um dia de azar, que deveria ter sido evitado a todo o custo

Outros culparam a Miquelina, dizendo que todos sabiam que nunca tinham sido admitidas mulheres abordo, por causa dos azares, que dão, quando andam com a menstruação

O Comandante defendeu a Miquelina, dizendo-lhes que eram tudo superstições e que contra os elementos naturais, nenhum humano os tinha conseguido vencer

Queria, ainda, dizer-lhes que ela tinha feito a viagem anterior, a qual tinha decorrido muito bem, o que provava, que as mulheres não contribuíam para os azares, mesmo quando andam com a menstruação, porque tudo o que diziam sobre as influências negativas não passavam de mitos, e superstições

Mas, alguns marinheiros estavam tão exaltados, que não ouviam ninguém, nem o Capitão

Para debelar a rebelião, o Comandante mandou atar, dois dos mais contestatários, ao mastro do navio, durante 24 horas, para se acalmarem

Estavam todos muito transtornados, a perda de dez homens e uma nau foi mais um rude golpe, para todos, numa viagem, que desde o primeiro dia, parecia estar excomungada

Cumprida a pena, decretada pelo comandante, a vida, a bordo das naus, voltou à normalidade

Depois da tempestade veio a bonança, até Luanda não enfrentaram mais nenhuma tempestade

A Miquelina continuava preocupada com a aventura de saírem em Luanda, mas já não havia alternativa, tinha-se comprometido a acompanhar o Ezequiel, e nunca voltaria com a sua palavra atrás

O melhor era planear a saída, que seria bem complicada, por fazerem equipa não podiam sair os dois, no mesmo dia

Tinham de gizar um plano, que não levasse o Comandante a descobrir ou suspeitar das suas intenções

Miquelina disse ao Comandante que gostava muito de ir a terra, em Lunada, mas receava ir sozinha, se calhar o melhor era não ir, para não arriscar a vida.

Continua

26
Jul23

O Império

cheia

O Império – As teias que o Império teceu  

19

Entretanto a Rosinha deu à luz o seu segundo filho: um rapaz. Correu tudo bem, chegaram a acordo para que se chamasse Roberto

Toda a família estava muito feliz, mas o Januário tinha um sorriso de orelha a orelha, de tanta felicidade

A Leopoldina também parecia muito contente, mas quando o viu ao colo da mãe, ficou com ciúmes, pediu aos pais para o darem, o que acontece com muitas crianças, por verem que têm de dividir as atenções, que eram só delas, ou pior, os adultos, erradamente, mimarem mais os bebés, que nem percebem o que está a acontecer, em vez de, nos primeiros tempos, privilegiarmos os que se sentem ameaçados, por os pais dedicarem tanto tempo ao bebé

Pais, famílias e amigos, aquando da chegada de bebés, que tenham irmãos pequenos, devem  fazer um esforço para darem toda a atenção aos que se sentem preteridos pela chegada dos bebés

Com a chegada do Roberto, nova pontinha de tristeza a toldar a grande alegria de Januário, por não conseguir transmitir a sua grande felicidade à mãe e ao irmão, quanto gostariam de saber da chegada dos novos membros da família, de conhecê-los, de vê-los!

Só lhe restava tentar saber novidades de Lisboa, estava na altura das naus, da carreira da Índia, atracarem no porto de Luanda, tinha de tentar passar mais vezes junto ao cais, para ver se notava alguma movimentação

Mas as obras ocupavam-lhe muito tempo, para além do que fazia questão em passar com a mulher e os filhos

Gostava de preparar a papa e dá-la à Leopoldina, enquanto a Rosinha dava de mamar ao irmão, para que ela não  sentisse que as atenções eram todas para ele

A avó materna e as tias também estavam muito contentes com a chegada do Roberto, mas estranhavam a maneira como o Januário participava nos cuidados com os filhos, o que não admirava, porque se tratava de costumes de duas sociedades diferentes, e ainda por cima o Januário estava muito à frente, no que dizia respeito à participação dos pais, nos cuidados com os filhos, no velho continente

Muito poucos, mas houve, sempre, quem pensasse que os cuidados com os filhos era uma tarefa do casal, mas eram muito mal vistos, insultados e até agredidos, por irem contra as tradições, que funcionam como leis

O Januário queria ser diferente, apostava na harmonia, queria viver com alegria o dia-a-dia, acreditava que havia uma complementaridade entre homens e mulheres, e que todos os povos eram irmãos

Teve muitas contrariedades e problemas, devido ao seu avançado pensamento, e mais por apregoar uma coisa e fazer o seu contrário, como acontece com muito boa gente, é muito difícil ser-se coerente.

 

Continua

 

 

 

 

 

20
Jul23

O Império

cheia

O Império  -  As  teias que o Império teceu

18

 

As naus da armada, que já há longos meses tinham zarpado de Lisboa, continuavam a enfrentar grandes tempestades

Depois de terem tido de aportar no Funchal, na Ilha da Madeira, quando se fizeram, de novo ao mar, foram novamente fustigados por mais e maiores tempestades

Devido à destruição de velas e mastros tiveram de atracar, também, no porto de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, nos Açores

A Miquelina estava surpreendida com tantas e tão violentas tempestades, esta viagem não tinha nada a ver com a sua primeira viagem

O Ezequiel e a Miquelina voltaram a encontrar-se em terra, antes de dizer qual era a sua decisão, a propósito do convite, para ficarem os dois em Luanda, questionou-o sobre que planos é que tinha, para viverem em Angola

Ficou um pouco atrapalhado, mas não teve outro remédio senão dizer que não tinha nenhum plano, contava com a ajuda do irmão

Respondeu-lhe que isso não a tranquilizava, e se não o encontrassem, o que fariam

Tentou convencê-la de que não seria muito difícil encontra-lo, porque a cidade não deveria ser muito grande, era uma cidade jovem, ainda em formação, onde dois jovens como eles, não triam problemas para sobreviverem

Mas, ela não estava nada convencida das facilidades, pelo contrário, achava que poderiam não  o conseguir encontrar, porque Angola era muito grande, e ele poderia não ter ficado na cidade

Tentou pôr fim a tantas dúvidas, disse-lhe que o melhor era não sofrerem por antecipação, quando lá chegassem veriam o que fazer, queria era saber qual era a decisão dela

Começou por lhe dizer que nem ela sabia o que fazer, mas que estava muito cansada daquela viagem, tão diferente da outra, sempre rodeada de tempestades, não lhes dando folga, nem para respirarem

Vendo que ele estava ansioso, quase a explodir, disse-lhe que gostava muito dele, estava disposta a ir com ele, para o bem e para o mal, para todo o lado

Ezequiel estava radiante, não resistiu, beijou-a e abraçou-a, ela, também, ficou felicíssima

Quando chegassem a Lunada, iam começar uma nova vida, noutro continente, de uma luminosidade atraente, quente, em estado selvagem, onde viajar é uma aventura continua

Beijaram-se mais umas quantas vezes, como se estivessem a despedir, para uma separação de meses ou anos, iam voltar ao navio, mas tinham de continuar indiferentes, fingindo não estarem apaixonados, eram, apenas, colegas de trabalho, como única mulher a bordo tinha de a todos tratar por igual, para que por todos fosse respeitada

Tinham de continuar a desempenhar os seus papéis, para que ninguém desconfiasse, até que a armada, a Angola, chegasse

Dali em diante os papéis eram mais difíceis de desempenhar, tinham de desviar os olhares, para que ninguém desconfiasse

O Capitão já andava de olho neles, por vezes referia-se a eles, dizendo que era o casalinho, e isso não deixava a Miquelina, nada tranquila

Sabia que não tinha cometido nenhum erro, mas o facto de trabalharem os dois, dava azo a essas piadas, temia que o Ezequiel se esquecesse das regras e deitasse tudo a perder.

 

Continua

 

 

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2016
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2015
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2014
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2013
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2012
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2011
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2010
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2009
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2008
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2007
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D

Em destaque no SAPO Blogs
pub