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25
Jan24

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

45

Em Luanda, os cativos ficavam em grandes barracões esperando o embarque, quando os navios demoravam para transportar a “carga”

Os Jesuítas, que possuíam numerosos escravos em Luanda, tinham um importante papel durante essa estadia, catequizando as almas

Antes de embarcar, todos os escravos eram batizados com nomes bíblicos, recebendo a nova alcunha por escrito, num papel

Eram orientados a esquecer os costumes da sua terra e a serem felizes na nova fé

Desde que regressara do Brasil, que o Januário tinha notado que a filha, a Leopoldina, tinha muita intimidade com um rapaz, que a acompanhava nos trabalhos do campo, o que não era habitual, por que raramente os homens trabalhavam nas lavras

Achava que não deveria fazer perguntas, mais tarde ou mais cedo perceberia o que se passava, ou alguém o informaria do que se passava entre os dois pombinhos

Poucos dias depois, a Rosinha perguntou ao marido, o que é que achava daquele novo associado

Respondeu-lhe que parecia bom rapaz, bom trabalhador e muito interessado na Leopoldina

A Rosinha riu-se e disse-lhe que o Jeremias gostava tanto dela, que tinha aceitado trabalhar ao lado dela, coisa que raramente os homens faziam

O amor é capaz de levar as pessoas a fazerem grandes transformações, move montanhas, tira pedras do caminho e estende rios de carinho

O Januário disse à Rosinha que o seu maior desejo era que o Jeremias gostasse tanto da Leopoldina, como ele gostava da Rosinha

A Rosinha respondeu-lhe que também ela gostava muito do Januário, que o amor entre eles era um exemplo para todos

Acrescentando que esperava que a Leopoldina e o Roberto seguissem o exemplo deles

Finalmente, toda a família estava muito feliz, desde o regresso do Januário, que se notava, que o facto de estar definitivamente afastada do negócio da escravatura, que a família estava unida, não querendo voltar a colaborar, com quer que fosse, que apoiasse a escravatura

Pelo contrário, queriam lutar contra a barbárie de comercializarem seres humanos, como se fossem animais irracionais

Toda a família estava muito revoltada com os horrores, que os seus três familiares tinham sofrido, como escravos

Queriam evitar que outros sofressem o mesmo. Mas era tão difícil dizer, em público, que não concordavam com a escravatura, porque poderiam ser presos ou mortos

Até os Jesuítas a praticavam, portanto, o melhor era não se meterem em aventuras, que lhes poderiam custar a vida, sem conseguirem ajudar ninguém.

Continua

 

 

18
Jan24

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

44

A chegada de portugueses e espanhóis às américas fez descer a temperatura da Terra

A colonização dos continentes americanos, que foi levada a cabo por portugueses e espanhóis provocou tantas mortes entre os povos indígenas que teve efeitos significativos no clima da Terra, levando a um drástico arrefecimento do planeta

Uma conclusão da University College London, Reino Unido

Dos cerca de 60 milhões de pessoas, que viviam nas Américas, no fim do século XV (cerca de 10% da população do mundo) diminuiu para apenas 5 ou 6 milhões, em cem anos (BBC/ZAP) (18/11/2023)

Este período de arrefecimento é conhecido por Pequena Era do Gelo, e foi uma época em que as tempestades de neve eram comuns em Portugal, e o Rio Tamisa, em Londres, congelava durante o inverno, com vários países europeus a viverem períodos de fome 

A Rosinha ouviu todos os membros das duas famílias, sobre o que pensavam ou sugeriam para modernizar os métodos de produção, para aumentarem a produção, uma vez que a cidade de Luanda, cada vez, precisava de mais produtos alimentares, devido ao aumento populacional

Por outro lado, queria aumentar o rendimento de todas as mulheres, que a eles se tinham  associado, acreditando nas qualidades da Rosinha, bem como da sua equipa, o que fazia com que todos estivessem muito empenhados, para não defraudarem as expectativas, que neles tinham sido depositadas

Começaram por construir novos utensílios para fabricarem a terra, todos contribuíram com as suas ideias, o que fez com que a produção duplicasse

Passado cerca de um ano, aquando da primeira colheita, foi muita a alegria, por verem os bons resultados

Nas sanzalas, ao redor da cidade, foram organizadas batucadas, para comemorarem e agradecerem àqueles dois casais as boas novidades

Mas a Rosinha, a Miquelina, o Januário, o Ezequiel e os seus filhos fizeram questão de dizer que não era obra deles, mas de todos os que se tinham associado, participando  naquela maravilhosa aventura

A Rosinha aproveitou os bons resultados, para numa assembleia geral, propor às suas associadas que se unissem noutras tarefas, como a construção das cubatas, os cuidados com os filhos, ou outras que elas considerassem que se podiam unir, para melhor funcionarem

Todas aplaudiram as suas propostas, prometeram pensar no assunto e, em nova assembleia, decidiriam, em conjunto, o que fazer.

Continua

 

 

11
Jan24

O Império

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O Império  -  A teias que o Império teceu

43

Em tempo de paz, os agenciadores de escravos, os pumbeiros, vasculhavam o sertão angolano comprando os prisioneiros de tribos rivais

Nas idas e vindas ao interior, levavam cerca de 150 escravos, para carregarem as mercadorias usadas como pagamento

Demoravam cerca de um ou dois anos nas jornadas e voltavam com filas de 500 a 600 escravos

Nas guerras de captura, os capitães partiam acompanhados por centenas de soldados europeus, mulatos brasileiros ou mesmo angolanos

Enfrentavam as tribos e escravizavam os homens capturados. Em Luanda, os cativos ficavam em grandes barracões, esperando o embarque

Quando os navios demoravam para os transportarem, os escravos trabalhavam na plantação e cultivo da mandioca

A comodidade, fundada pelos dois casais, contribuiu para que os seus membros tenham tido bons rendimentos e um grande melhoramento no seu nível de vida, conseguiram acabar com a fome e construíram cubatas mais confortáveis

O facto de se entre ajudarem, fez com que tudo mudasse, ninguém ficava entregue à sua sorte, o problema de um, era um problema de todos

Como todos os pais, todos queriam uma melhor vida para os filhos, mas era tão difícil  encontrar quem soubesse ler, quanto mais quem ensinasse

A ambição dos dois casais era que os seus filhos aprendessem a ler e escrever, mas constataram que esse seu sonho não era realizável, portanto, o melhor era ensiná-los a trabalharem a terra, aproveitando a experiência das mães, a Rosinha e a Miquelina, que eram duas competentes produtoras de alimentos

Os dois primeiros padres da Companhia de Jesus chegaram à Ilha de Luanda, em fevereiro de 1575, tinham saído de Lisboa, acompanhados de Paulo Dias de Novais, em  23 de setembro de 1574

Em 1580, chegaram a Luanda 2 missionários Jesuítas, em 1584 outros 2 e, em 1593, mais 4

Em 1590, os cristãos eram cerca de 20.000

Uma vez que estava fora de hipótese a Leopoldina, o Roberto e o Zacarias aprenderem a ler e escrever, o melhor seria toda a família dedicar-se à agricultura, onde já tinham uma boa capacidade de produção

A Rosinha, que era a mais experiente no cultivo da terra, estava interessada em aumentar a produção, e para isso contava com a opinião do marido, da cunhada e do cunhado, em conjunto, queria que tentassem criar novos utensílios e novos métodos de produção

Também queria que ouvissem os miúdos, porque não se deve desperdiçar nenhuma boa opinião.

Continua

 

04
Jan24

O Império

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O Império  -  As teias que o Império  teceu

42

 

Qualquer um servia para Governar Angola, desde que defendesse a escravatura

André Vidal de Negreiros, herói da insurreição Pernambucana, a guerra contra a ocupação  holandesa no Brasil, recebeu como prémio o Governo de Angola,  governou de 1661 a 1666

Entrou em conflito com o novo rei do Congo, D. António Afonso, chamado na língua bacongo de Mani Mulaza

A desavença, entre os dois, aconteceu na batalha de Ambuíla (1665), quando os mulatos de Negreiros resistiram com espingardas e debaixo de uma chuva de milhares de arqueiros de Mani Mulaza

Mesmo com muitas glórias, Negreiros foi afastado por romper a paz com o Congo, conquistada logo após a reconquista de Luanda

Para conseguirem escravos, os exploradores luso-brasileiros não poupavam esforços

Valia tudo, desde a guerra de captura até ao pagamento de tributos

Uma das maneiras mais comuns era a troca de mercadorias portuguesas (vinho, pólvora e sal-gema) ou brasileiras (fumo, cachaça e farinha de mandioca) por negros

Com o regresso do Januário e o seu cunhado, as duas famílias estavam felizes e orgulhosas com o feito do Januário, que tinha conseguido resgatar o cunhado, da escravatura, e trazê-lo do Brasil, para a sua Angola

Mas a sua felicidade devia-se, também, ao facto de se terem libertado do negócio da escravatura, não colaborando, seja com quer que fosse, que continuasse com esse horrendo modo de ganhar a vida

A Rosinha e a Miquelina, bem como a Leopoldina e o Roberto, que já tinha idade para compreenderem o que era o tráfico de escravos, ficaram felicíssimos por já não terem nada a ver com a escravatura e poderem combatê-la com todas as suas energias

Deixaram de estar nas boas graças do Governador, que não via com bons olhos o facto de estarem contra a escravatura, de ajudarem, dentro das suas poucas possibilidades, homens e mulheres a fugirem da escravatura

Dedicaram-se à agricultura, procuraram modernizar os métodos de fabricar a terra, com novos utensílios, para conseguirem uma maior produção e mais rendimento

Criaram uma associação, onde todos tinha entrada, um embrião das futuras cooperativas

Para, em conjunto, conseguirem um melhor nível de vida, ajudando-se, não só nos trabalhos do campo, como na construção das cubatas e todos os outros trabalhos

Fazendo com que conseguissem implementar uma comunidade muito solidária.

Continua

 

 

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