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23
Fev23

A sedutora

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Lisboa! A sedutora

 

18

O irmão mais novo do patrão também não resistiu à sedução da linda Lisboa, deixou o Alentejo, a mulher e a filha, para ir trabalhar com os irmãos, reunidos de novo, como na juventude, agora, para trabalharem todos nos tapetes  

Em casa do caixeiro-viajante, que vendia as peças de cairo, fabricadas em Cortegaça, vivia, também, uma sobrinha, não tinham filhos

Tinha menos um ano que o empregado, estava sempre pronta para ir entregar os tapetes feitos pela tia e levar novos tapetes para ela fazer

Estava apaixonada por ele, mas vendo que não era correspondida, um dia agarrou-se a ele

e  beijou-o, foi um momento muito triste, teve de lhe dizer que tinha uma namorada e que em breve se iriam casar

Teve muita pena dela, por ver que era mais uma jovem, a viver com os tios, sem perspetivas de futuro, de vida, “presa num rés-do-hão” à espera de um coração, que a libertasse, que lhe desse asas para viver, ter uma família, ter filhos …..

Tinha de continuar a estudar, foi matricular-se para o novo ano escolar, na mesma Escola

Quando foi da apresentação havia uma nova cara, tinham um novo professor de matemática, um militar, juiz do tribunal militar, muito preocupado com a grande percentagem de analfabetos

Disse que a televisão poderia ser utilizada para alfabetizar, em massa, mas que ninguém fazia nada

Estava muito empenhado em que tivessem bons resultados. Por isso, estava disponível todos os sábados à tarde e domingos das 9 às 12 horas, para tirar todas as dúvidas a quem quisesse e pudesse comparecer

Dizia que a matemática não era nenhum bicho-de-sete cabeças, e que as expressões algébricas, que ocupavam todo o quadro preto, não passavam de somas, subtrações, multiplicações e divisões

No dia em que foi fazer a prova escrita de matemática as carteiras tinham panfletos a anunciarem o início do ensino de uma nova matemática, quem estivesse interessado, no ato da matricula do novo ano escolar, deveria dizer que queria frequentar as aulas da nova matemática

Aquando da inscrição para fazer, novamente, o exame do primeiro ciclo. Dirigiu-se ao Liceu Passos Manuel, onde já tinha o processo do ano anterior

Passados alguns dias tinha de ir confirmar em que Liceu é que estava colocado, porque nem sempre ficavam colocados nos Liceus onde se inscreviam

Tinha sido transferido para o Liceu  Camões, considerado o Liceu mais exigente de Lisboa.

 

 

 Continua

 

16
Fev23

A sedutora

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Lisboa! A sedutora

 

17

 Na Escola Académica, tinha um colega de carteira, que era um barra, o melhor aluno da turma, sabia escrever à máquina e trabalhava num escritório, o que fez com que ele quisesse comparar uma máquina de escrever, tinha o sonho de um dia, também, trabalhar num escritório

Num belo dia, estava sozinho na loja da rua dos Poiais de São Bento, entrou na loja o vendedor da “Régisconta”: vendia máquinas de escrever, calcular …., disse-lhe que o patrão não estava, mas que ele estava interessado numa máquina de escrever, depois de ver o catálogo, escolheu uma, que custava à volta de 4.000 escudos, e combinaram o dia da entrega

Assim que o patrão chegou, disse-lhe que tinha encomendado uma máquina de escrever e que precisava do dinheiro para a pagar

Um dia antes, do dia da entrega da máquina, o patrão pagou-lhe a dívida e ele comprou a tão desejada máquina de escrever, estava escrito nas estrelas que iria escrever muito

Lia o jornal Diário de Lisboa, onde o então, ainda, aluno da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Filologia Românica, Eduardo Prado Coelho tinha uma rúbrica para onde se podiam enviar quadras

Aproveitou para datilografar umas quadras e enviou-as, para o jornal, mas nunca as viu publicadas, ainda teria de ler muitos livros, para alimentar o sonho de um dia saber escrever

O Eduardo, um ano mais velho que ele, organizou uma palestra, com uns oradores espanhóis, na Casa da Imprensa, perto do Largo de Camões, em Lisboa, num sábado, à tarde, onde juntou cerca de 600 pessoas, o espaço estava lotado. Estavam com receio que a Polícia Internacional  de Defesa do Estado (PIDE) interviesse, mas correu sem incidentes  

Aproximava-se a época dos exames, para se candidatar a exame, como aluno externo, tinha de apresentar o boletim de vacinas e o diploma da quarta classe

Escreveu para a Delegação Escolar de Mértola, onde tinha feito a quarta classe, enviou uma nota de 20 escudos, dentro da carta registada, como tinha feito para o Registo Civil de Almodôvar, aquando do pedido de uma certidão de nascimento, para tratar do Bilhete de Identidade, recebeu o troco em selos do Correio

Passaram uns dias, sem resposta, com receio que o diploma não chegasse a tempo, enviou nova carta, mas com acuso de recção, recebeu imediatamente uma resposta, dizendo que em breve lhe enviariam o diploma, e assim aconteceu

Assim que recebeu o diploma da quarta classe, foi-se inscrever para fazer o exame do primeiro ciclo, como aluno externo, no Liceu Passos Manuel

Sabia que era muito difícil ser aprovado, fazer dois anos num, depois de tantos anos de ter feito a quarta classe, mas mesmo assim tentou a sorte, os exames não passam de momentos de sorte ou azar, quantas vezes, alunos bem preparados, nos exames enervam-se e não fazem nada, para tudo é preciso um pouco de sorte, coisa que não teve ou não chegou, e reprovou na prova escrita.

 

 25/08/2007

A notícia saíu

Em pleno Verão

No mês das férias

As nuvens desfizeram-se em lágrimas

Por te perdermos

No Verão da idade

A morte não foi de férias

O Mundo tremeu

Não amanheceu

No Verão choveu

O encontro não aconteceu

O Sol toldou-se

As nossas Primaveras cruzaram-se

Quando organizaste uma sessão de esclarecimento

Na casa da Imprensa, junto ao largo de Camões

Escrevias no Diário de Lisboa

Onde nos convidaste

Para a perigosa reunião

Que teve uma grande adesão

A PIDE não entreviu

A tua missão seguiu

Lutar contra a ditadura

Tiveste uma brilhante carreira

A doença levou-te antes do tempo

Quando, no Jornal, o Público, ainda nos davas alento

De que fintarias o vento

Por os séculos fora, vai ficar o teu talento

Em cada livro teu, é ele que esta lá dentro.

 

Singela homenagem a Eduardo Prado Coelho

 

Continua

 

 

 

 

09
Fev23

A sedutora

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Lisboa! A sedutora

16

A mensalidade para pagar os estudos era pouco menos do que o que ganhava valeram-lhe as horas extraordinárias, para comprar os livros e restantes despesas

Voltava a ter de fazer muitos sacrifícios para continuar os estudos: oito horas de trabalho por dia, seis dias por semana, mais quatro horas por dia de estudos, só ficou com o domingo para fazer as horas extraordinárias

Num domingo de agosto, enquanto todos foram para a praia, ficou sozinho, naquele primeiro andar, fez quatro tapetes, ganhou 60 escudos, ficou muito contente

Nem todos os tapetes eram iguais, havia uns que tinham menos trabalho que outros, eram todos pagos a 15 escudos

Estava preocupado com o custo dos livros. Mas como eram livros únicos e não mudavam todos os anos, mantinham-se por vários anos, podiam-se comprar em segunda mão

Quando se matriculou deram-lhe a lista dos livros necessários para frequentar o primeiro ciclo liceal

Em conversa com um colega, ficou a saber que, na Calçada do Carmo, em Lisboa, defronte do Quartel do Carmo, havia um alfarrabista que comprava e vendia livros escolares em segunda mão, aproveitou para comprar também um dicionário de português, em segunda mão ( da Porto Editora, 3ª edição)

Com um horário escolar das 20 às 24 e mais oito horas de trabalho, metade do dia ocupado a trabalhar e estudar, foi assim durante quatro anos, até ser chamado para cumprir o serviço militar obrigatório

No primeiro dia de aulas, o professor de português mandou-os fazer uma redação, para avaliar o que cada um sabia, quando lhe devolveu a redação, disse-lhe que tinha gostado das rimas e que continuasse

O professor de ciências naturais, com a alcunha de “paramécias”, tinha o programa memorizado, e como os alunos não tinham tempo para estudarem, ditava-o de memória, obrigando os alunos a escreverem com rapidez ou a substituírem algumas palavras por sinais

Quando o interrompiam tinha de estar como que a rebobinar a cacete para encontrar onde ia

Depois do 25 de Abril de 1974, apareceu na televisão a explicar como distinguir o bacalhau do pixilin, porque alguns comerciantes estavam a enganar os clientes

O patrão abriu a primeira loja, na Rua de São Bento, em sociedade com um merceeiro, que tinha visto o negócio reduzir muito. Mas a sociedade foi de curta duração

Andava sempre com problemas de dinheiro, as letras a 90 dias, venciam-se antes da venda dos tapetes ou do recebimento das vendas destes

Mas, isso não o impediu de comprar o trespasse de uma loja de móveis, na rua dos Poiais de São Bento, onde passou a vender, também, tapetes  

No dia do vencimento das letras é que se via o sofrimento por que passava, tinha o hábito de enquanto fazia a barba, deixar a porta da casa de banho aberta, falava para o espelho, arrepelava os cabelos, quem não soubesse diria que tinha enlouquecido, o que não podia era deixar que fossem para protesto, porque isso podia fazer com que não pudesse comprar a crédito

Numa manhã, o empregado viu muito aflito, esqueceu-se de que o irmão se queixava de  nunca mais ter visto as suas poupanças, disse-lhe que tinha 4.000 escudos nos CTT ( os CTT tinham uma parceria com a Caixa Geral de Depósitos, que permitia que se depositasse e levantasse dinheiro nos CTT, como se fossem  agências da Caixa)

Passou o tempo, pediu-lhe o dinheiro várias vezes, mas não conseguia que ele lhe pagasse os 4.000 escudos, que lhe tinha emprestado.

 

Continua

 

 

02
Fev23

A sedutora

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Lisboa! A sedutora

15

Escola Académica  (1847 – 1977)

 

( O estudo faz o futuro)

 

Ofertas educativas:
Instrução Infantil e Primária, Curso Comercial, Curso Geral dos Liceus e Admissão às Faculdades.

Particularidades:
A Escola Académica foi pioneira no nosso país ao reunir valências de instrução primária, secundária e profissional, num mesmo estabelecimento de ensino.
Para além do Colégio Militar, foi a Escola Académica a primeira a introduzir um regime obrigatório de educação física para todos os seus alunos.
O Curso Comercial, instituído em 1895 na Escola Académica, seria o primeiro organizado numa escola particular portuguesa.


.

Ao longo do seu percurso histórico, de quase século e meio, foi alargando a sua oferta pedagógica: Instrução Primária e Infantil, Curso Comercial, Curso Geral dos Liceus (diurno e nocturno) e Admissão às Faculdades.

 

Escritórios Comerciais. Turma de alunos em aula prática. O Curso Comercial foi instituído em 1895 na Escola Académica e seria o primeiro organizado em escolas particulares portuguesas.

Viria a ser dotada de capela, dormitórios, amplo refeitório, pavilhão

*

Uma placa de vidro escurecida assinala ainda a passagem da Escola Académica pelo edifício do Conde Barão que a acolheu durante as suas últimas três décadas de funcionamento.

Muito interessante é verificar a preocupação em proporcionar aos alunos saberes e actividades que ultrapassavam largamente a comum estreiteza curricular, conferindo a esta escola um invulgar cunho de modernidade, mesmo quando observada à luz de uma perspectiva actual.

 

Paralelamente à educação intelectual, atende-se à educação moral e física do aluno, promovendo nêle, a par da robustez do corpo uma acentuada predisposição para a prática do bem e do belo.

 

Na instrução primária, o programa oficial era criteriosamente complementado com o ensino das línguas francesa e inglêsa (a partir de 1901); rudimentos de música e canto coral; gimnástica sueca (colectiva), gimnástica médica (individual), dança; trabalhos manuais educativos e… aulas ao ar livre - durante os meses de Abril, Maio e Junho, nas quintas e jardins de que a Escola dispõe em Caxias, onde os alunos, em contacto com a vida da natureza, passam as horas do dia em plena oxigenação de pulmões, respirando o ar balsâmico de extensos pinheirais e da brisa perfumada do oceano.

Quinta do Lagoal (Caxias) - funcionava como Colónia de Férias, entre 16 de Agosto e 30 de Setembro.

Em graus de ensino correspondentes a escalões etários mais avançados, são ainda introduzidas práticas como a gimnástica aplicada e esgrima de florete e de pau. Não seriam também esquecidas aulas como as de dicção, “Aula de dizer”, e a representação teatral, com a criação, em 1912, do Teatro Escolar.

Turma de esgrima de florete

Demonstração de jogo de pau

Trata-se de um estabelecimento de ensino particular, o “Colégio Escola Académica”, destinado a alunos do sexo masculino, em regime de internato e de externato - mais tarde, passaria a admitir também alunos do sexo feminino.

Ao longo do seu percurso histórico, de quase século e meio, foi alargando a sua oferta pedagógica: Instrução Primária e Infantil, Curso Comercial, Curso Geral dos Liceus (diurno e nocturno) e Admissão às Faculdades.

Escritórios Comerciais. Turma de alunos em aula prática. O Curso Comercial foi instituído em 1895 na Escola Académica e seria o primeiro organizado em escolas particulares portuguesas.

Viria a ser dotada de capela, dormitórios, amplo refeitório, pavilhão desportivo e balneário equipado com sistema de “banhos de aspersão” - ao tempo, uma novidade entre nós.

A partir de certa fase, passa inclusive a dispor de um autocarro para recolha e transporte de alunos externos. Uma verdadeira escola-piloto. Uma escola-modelo.

O seu fundador e primeiro Director, António Florêncio dos Santos, seleccionava meticulosamente os elementos do corpo docente da Escola, recrutando mesmo professores no estrangeiro - como no caso do professor de ginástica, um sueco do Instituto de Estocolmo. Para além do Colégio Militar, seria a Escola Académica a primeira a instituir um regime obrigatório de educação física para todos os seus alunos.

 

Continua

 

 

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