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01
Fev21

Vidas (6)

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Continuação  (6)

A ceifa foi um dos mais duros trabalhos na planície alentejana, onde os rapazes gostavam de medir forças. O pai, do José, costumava contar que uma vez fez parte de um rancho de ceifeiros, todos com pouco mais de vinte anos. Um belo dia começaram a ceifar ao despique, tentando saber quem eram os mais fortes. Todos os ceifeiros cortavam o mesmo número de regos, começavam ao mesmo tempo, ninguém queria ficar para trás, a solução era fazer o trabalho de qualquer maneira, deixavam metade das espigas no restolho. O patrão, ao ver aquilo, chamou os criados para apanharem as espigas que eles deixavam para trás. No fim do dia, o patrão disse-lhes que se continuassem com o despique ficavam sem trabalho. Mas não foi isso que os demoveu, porque sabiam que ele precisava deles, o que acabou com o despique foi nenhum ter cedido.

Quando a ceifa terminava, realizava-se a adiafa, que constava de uma refeição para assinalar o evento

 

A Escola ficou apenas um ano letivo no Monte do Lobato. Não se sabe quais foram as razões. Teria sido por o filho ou filha de algum Senhor importante ter atingido a idade de ir para a Escola!

 O José beneficiou muito com a transferência da Escola, para o seu Monte. Era sair duma porta e entrar noutra, porque a casa onde funcionava a Escola era contígua à dele

Já tinha beneficiado do facto de a professora ter aceitado iniciar uma Escola naquelas condições, fazendo com que tenha entrado um ano mais cedo para a Escola e evitado que tivesse de andar oito quilómetros, por dia, a pé, que era a distância, ida e volta, a que que ficava a outra Escola

Todo o Monte ficou muito contente, ter uma Escola num Monte onde não havia mais nenhum equipamento social, nem mesmo uma mercearia, quando necessitavam de comprar qualquer coisa, o mais perto era São Pedro de Solis.

No Monte não havia nenhum carro, apenas uma motorizada, eram todos pobres, ainda que uns vivessem melhor que os outros, como em todo o lado acontece

O pai do José, que de vez em quando tinha necessidade de escrever uma carta, uma vez que não tinham telefone, as comunicações eram por correio, chamava o filho para a escrever, e ele ditava

Esse treino fez com que o José tivesse adquirido uma ferramenta de comunicação, que lhe foi muito útil, quando foi para Lisboa, não só para escrever para os pais, mas também para solicitar documentos às diferentes entidades, como aconteceu, quando um fiscal do horário de trabalho entrou no estabelecimento onde ele trabalhava, e verificou, que no horário exposto entrava às 9 horas, e ainda eram 8 e pouco, o que teve como consequências uma multa de 200 escudos e a legalização do empregado

Uma multa muito pesada! José trabalhou lá quatro anos e não atingiu esse valor de ordenado mensal. Para que o patrão procedesse à sua legalização, escreveu para o Registo Civil, pedindo que lhe enviassem uma certidão de nascimento, para efeitos de obtenção do bilhete de identidade e do cartão de sanidade, indispensável para quem trabalhava no ramo alimentar

Enviou uma carta registada, com um envelope com o seu endereço e uma nota de vinte escudos, para pagamento das despesas, o troco era remetido em selos do correio

Procedeu de igual modo, quando necessitou do diploma da quarta classe, para se candidatar, como aluno externo, ao exame do primeiro ciclo liceal, no Liceu Passos Manuel, e quando pediu para ir à inspeção militar, em Lisboa, em vez do local do seu nascimento

Não quis incomodar o pai, porque sabia que teria de perder dois dias de trabalho, um para ir pedir o documento, outro para o ir buscar e ainda gastar dinheiro em transportes, que tanta falta lhe fazia

Quando do pedido do diploma da quarta classe, como a resposta não chegava, receando que não chegasse a tempo, mandou uma segunda carta registada com aviso de receção, obteve uma resposta imediata, dizendo que em breve receberia o diploma, o que aconteceu.

Continua

 

 

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