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cheia

cheia

30
Mar20

Ruas e casas

cheia

30/03/2020

Ruas e casas

Um silêncio profundo

Por todo o Mundo

Ruas desertas

Como nunca se viu

A procurarem a razão

Do desvio

A chorarem, devido à maldição

Que tanto as puniu

Sem pessoas, nem animais

Quando a Primavera floriu

Nos jardins, só se ouvem os pardais

As crianças não voltaram mais

O cheiro dos tubos de escapes acabou

O borborinho, que acordava as cidades, não voltou

Tudo parou!

As casas sentem-se incomodadas

Noite e dia, nunca são abandonadas

Nem se quer para serem arejadas

Estão desesperadas

Não sabem o que aconteceu

Para que as pessoas tenham de estar resguardas

As poucas que saem à rua

Quando se cruzam na entrada ou nas escadas

Vê-se que estão desconfiadas

Fogem umas das outras, como se tivessem sido mal tratadas

Tempos difíceis para todos

Que ninguém imaginou vir a presenciar

Esperarmos ver, como vai acabar.

José Silva Costa

 

 

 

 

 

24
Mar20

Perfume

cheia

A Primavera

Da minha janela, virada para a Primavera

Vejo o campo a acordar, a sorrir, a levantar-se

As plantas e as árvores não param de enfeitar-se

São flores de todas as cores, perfumes provocadores

Tudo numa harmonia e alegria, provocantes

A contrastar com o caus que estamos a viver

À tardinha, pelo anoitecer, vejo os melros a rondar o meu quintal

Vêem-se abastecer, gostam dos morangos que estão a amadurecer

Durante o dia vejo os casais de perdizes, num rodopio

A beijarem-se, a abraçarem-se, a galarem-se, a alimentarem-se

No intervalo, elas vão pôr

Eles procuram uma elevação para uma visão panorâmica

Não venha uma águia, e ponha fim ao romance

Ao projeto de ter uma ninhada de perdigotos

Para que em todas as Primaveras

Possamos deliciar os nossos olhos

Vendo a Natureza a acordar, a sorrir, a alevantar-se.

 

José Silva Costa

 

 

 

 

 

 

17
Mar20

Leiam e meditem!!!

cheia

Leiam e meditem!!!

 

2020.03.15 - Domingo - 16h32.

 

" (...) Sinto na pele a brisa leve e a calidez do sol ao sair para o parque de estacionamento de Santa Maria. 

As zonas comuns e exteriores do hospital estão absolutamente desertas. 

Não se vê vivalma, nada mais se ouve para além do ruído cacofónico das sirenes das ambulâncias, e o drapejar das bandeiras: a amarela e preta da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, a preta e verde do Instituto de Medicina Molecular, a preta e branca encimada pela divisa "Mui Nobre e Sempre Leal Cidade de Lisboa", e, bem lá no topo, a verde e vermelha, incrustada com o brasão de armas envolvido pela esfera armilar - a nacional, a da República Portuguesa. 

Paro por um momento: é poético. 

Sou médico por isto. Luto por isto. Lutamos por isto. Lutamos por lisboetas, lutamos por portugueses, lutamos por seres humanos, alavancados e propulsionados pela investigação de ponta que expande e dilata o conhecimento e a ciência. 

Não há outro sítio para nós. É aqui que temos de estar. 

Entro no habitáculo do carro e opto por não ligar a música.

Quero ouvir Lisboa, deserta, pura. 

Espero encontrar as ruas desertas, ver uma Lisboa despida de lisboetas, portugueses, seres humanos. 

Como se quer, como seria expectável de acordo com o amplamente difundido e recomendado.

Saio lentamente, suavemente, sem carregar no acelerador, sem pressa. 

Está um dia fantástico, típico de uma Primavera que teima em não chegar. As ilusões de óptica sempre me fascinaram...

Passo em frente ao portão central. 

Recorta-se a silhueta deste gigante que tenho como primeira casa desde 2010 contra o céu azul e branco, como se de uma aguarela se tratasse. 

À direita da Urgência estão as tendas amarelas - cheias, repletas.

Cheias e repletas de humanidade, plurifacetada, múltipla. Cabe tudo lá dentro. Cabem astronautas (que não são mais que terráqueos com um fato vestido) que querem trazer luz (das estrelas?) à terra, cabem terráqueos que precisam de luz para conseguir ver as estrelas. 

À medida que me desloco para longe do epicentro vou ficando boquiaberto.

Vejo filas à porta do supermercado. Vejo esplanadas com lisboetas, portugueses, seres humanos convivendo alegremente, proximamente.

Passo pelo parque que bordeja o local onde vivo.

Não são raros os ajuntamentos, com adultos na flor da idade, idosos, e crianças imberbes partilhando um rectângulo de relva. 

Ligo o rádio: sou informado pela voz grave, que articula com admirável perfeição, que ontem o Cais do Sodré estava, como sempre, cheio. 

Cheio de adolescentes, cheio de adultos, cheiro de lisboetas, portugueses e seres humanos. 

Entro na garagem. Desligo o carro. Deixo-me estar por breves instantes.

Não perceberam... As pessoas ainda não perceberam...

Estou incrédulo, recuso-me a digerir esta informação.

Penso em quem luta pela vida em decúbito ventral, ligado ao ventilador e à máquina de circulação extra-corpórea.

Penso na família em pranto, sentada na tenda amarela, desejosa de luz para ver estrelas.

Penso nos fatos,  nas máscaras, nas luvas, nas zaragatoas. 

Penso em quem ontem era perfeitamente saudável, jovem, que hoje entrou e nunca mais vai sair.

Penso nas correrias e no espírito de missão. 

Penso também nos meus, que têm mais idade e experiência de vida do que eu: nos meus pais, nas minhas avós. 

As pessoas ainda não perceberam... Continuo sem conseguir aceitar a realidade. 

Até quando? 

O que mais é preciso acontecer, contar, expôr? 

Como é possível sensibilizar mais quem não se deixa sensibilizar? 

Apercebi-me hoje que tão ou mais importante do que a luta que se trava dentro do nosso castelo, da nossa fortaleza, é a luta que se trava fora de portas. 

Santa Maria é o teatro dos sonhos para muitos que estudaram, trabalharam e lutaram toda a vida para ajudar o próximo. A nossa missão é essa. Estamos todos prontos para tal. 

Mas acreditem, para quem não é profissional de saúde, Santa Maria (tal como o São João e restantes hospitais), é neste momento um espaço de terror e de horror. 

Ajudem-nos a ajudar-vos. 

Sigam o que vos é pedido. 

Fiquem em casa. 

Leiam um livro (há milhares de livros maravilhosos, são fermento para a mente e bálsamo para a alma), escrevam o que vos vai na alma, vejam um filme ou uma série, ouçam música, dancem, reflictam, mas acima de tudo fiquem em casa. 

Por favor. 

É o que um médico, mas acima de tudo um português, e um ser humano, vos pede. (...)".

 

15
Mar20

Gratidão

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Gratidão

Como estou grato, por poder estar em casa descansado!

E, poder agradecer a todos os que, todos os dias, enfrentam este momento

Para que nada nos falte, para que o Mundo não pare

Põem em perigo a vida deles e dos seus, nas diversas profissões

Nos Hospitais, nas padarias, nas farmácias, nos supermercados, nas forças de segurança, na agricultura, nas fábricas, e nas restantes, essenciais à vida

Como todos eles gostariam de estar na minha situação!

É por isso, que quero demonstrar-lhes a minha grande admiração

Porque há muito quem honre a sua profissão

E isso estão a demonstrá-lo nesta ocasião

Em que todos temos a vida em suspensão

Estou-vos muito grato pela vossa dedicação

Fica, para depois, o aperto de mão.

 

José Silva Costa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

11
Mar20

11 de Março

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11 de Março de 2020

Se não fora o coronavírus, estaríamos a viver uma Primavera antecipada

Com temperaturas à volta dos vinte e cinco graus

A saborear os cheiros da Primavera, a ver as plantas e as árvores a desabrocharem

As aves com as suas cantorias e bailados nupciais

Mas, o maldito vírus veio-nos distrair

Fazendo com que não demos atenção ao fervilhar da Primavera

Ficámos indignados quando a Greta Thunberg disse que tínhamos de andar menos de avião

E, agora os aviões ficam mesmo no chão

Não sei se não será a Natureza a obrigar-nos a fazer a correção

À força, contra as nossas práticas de agressão

O que é certo, é que nos fechou numa prisão

Ainda que não tenha grades

Se formos responsáveis não fugimos, dela

Há quarenta e cinco anos, também estivemos em aflição

Nessa altura, também meteu a aviação

A Força Aérea veio a Lisboa mostrar quem é que tem asas

Mais uma vez, uma guerra civil foi evitada

Mas a economia foi nacionalizada

Os aviões levaram para o estrangeiro, alguns gestores

Outros foram para a prisão de Caxias

Foi outra Primavera estragada.

 

José Silva Costa

 

 

 

 

 

 

 

06
Mar20

Lágrimas

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Dia Internacional da Mulher

 

Tantos séculos a sofrer

Este século veio-vos ver

A voz levantar

Contra quem fez de vós terra mole

Contra tanto uso e abuso

Como se fosse tudo normal

A mulher não ser companheira

Ser humilhada para subir na carreira

Calar a vida inteira

Abrir a boca era asneira

Porque ninguém lhe daria razão

Quando o que está em cima da mesa é o pão

Uma mãe faz das tripas coração 

Esfrega, com as lágrimas, o chão

Para que o amor não seja em vão

As mulheres engolem o afrontoso

Foi durante muito tempo muito doloroso

Felizmente, neste século, alguma coisa tem mudado

O seu testemunho já não é desacreditado

Instituições e individualidades têm sentido o resultado

Em todo o Mundo, os direitos das mulheres, têm avançado

Não está tudo conquistado

Longe disso, não podem esquecer o passado

Têm de continuar, todos os dias, a lutar

As mulheres! Para conseguirem o seu lugar

Sem violência! Antes ou depois do altar

Só o amor nos devia, a todos, acompanhar.

 

José Silva Costa

 

 

 

 

 

 

 

                

 

 

02
Mar20

Lavar as mãos

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 Beijinhos e abraços

 

Oh Coronavírus!

Puseste o Mundo em desassossego

Fizeste os patrões pedirem, aos empregados, que não vão ao emprego

Mesmo os que diziam que as fábricas só eram viáveis se laborassem vinte quatro horas por dia

Agora, o ideal seria que tudo fosse virtual

Que ninguém precisasse de sair de casa

Para não apegar ao outro o mal

Jogos de futebol adiados

Museus fechados

Eventos internacionais cancelados

Máscaras esgotadas

Cidades fechadas

Mãos lavadas, mãos lavadas

Não se beijem, não se beijem

Não metam as mãos na boca, nariz ou olhos

Não vão para os Hospitais ou Centros de saúde

Telefonem, antes, para o nº 808242424

Tomem muito cuidado

Na França não é permitido ajuntamento, com mais de 5.000 pessoas, em local fechado

O Mundo está aterrorizado

Mas não é só por causa do Covid-19

As guerras também dão a sua contribuição

Nunca são a solução

Muito menos pagar a uma Nação

Para não deixar passar os migrantes

Gente desesperada entre a parede e a espada

Contra a barreira de arame farpado, atirada

Quando os senhores da guerra não se entendem

Quem sofre é toda a gente

Só depois de matarem muita gente

É que chegam, finalmente

À conclusão de que a guerra não é a solução

Como, felizmente, aconteceu recentemente, no Afeganistão.

José Silva Costa

 

  

 

 

 

 

 

 

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