Se o ridículo matasse ….
Não sou corrupto
Não falei com ninguém
Não dei ordens a ninguém
Não mandei em ninguém
Não prejudiquei ninguém
Não fui ao Banco
Não fomos de férias, juntos
Não fomos, à missa, os dois
Não fomos, os dois, ao supermercado
Não me encontrei com ele
Não fomos, ao restaurante, almoçar
Não faço parte do seu núcleo duro de amigos
Não falei com ele
Alias, falámos uma vez!
Quando ele foi lá ao Palácio
Para alinhavarmos umas coisinhas
Ele é que era, muitas vezes, chamado ao Ministério das Finanças e ao Banco de Portugal, para dar a sua opinião
Em vez de me andarem a investigar
Poderiam ter perguntado
Tinha esclarecido tudo!
Escusavam de andar a maçar, tudo e todos
E, até governos estrangeiros!
Mas, quem é que acredita, que tenho esses milhões?
Se, até tenho três empréstimos!
Quanto ao gostarmos mais de notas do que transferências
Vem do tempo em que eramos crianças
Gostávamos muito de jogar o monopólio
Admirávamos aqueles montinhos de notas
Se bem que não fossem tão bonitas, como as que tínhamos nas caixinhas
A certa altura, pensamos em pedir ao BCE, para emitir notas de 5.000
Porque aquilo eram caixas, que nunca mais acabavam
Não gostamos de transferências bancárias, fica tudo anotado, não dá para desdizer!
Nunca ouvi falar do Free porte, do Vale de Lobo, da PT, da oi
A Ota foi só para otários, a margem sul, jamais
O TGV é que custou um pouco mais, tem desenhos lindos, que projetados nas paredes, poderiam dar-nos a sensação de estarmos a viajar por Madrid, Paris, Bruxelas
O curso, em Paris, é que foi carote! Pensei em hipotecar a casa, mas o meu amigo não quis
Emprestou-me, não muito, uns mil euros, mas as viagens e almoçaradas, eramos muitos, e a vida em Paris é uma carestia!Tive, então, de lhe pedir mais, muito mais!
Mas, com a edição do meu livro, um best seller, equilibrei o orçamento!
Só eu investi, na compra de muitos exemplares, uns duzentos mil euros
Fiquei com a casa completamente cheia
Para melhor arrumar aquilo, tive de retirar, da parede, aquele quadro enorme, de um grande pintor, que consegui, que o meu amigo, me entregasse, em troca de uns quadritos, pequenos, que há muito tinha comprado
Somos grandes amigos!
Eu não existo!
José Siva Costa