Maio
Maio
Maio, mês de todas as flores e de todos os horrores
Das ceifeiras e das papoilas
Trigueiras ceifeiras, de rosto tapado, para se protegerem dos beijos do sol, das papoilas e das espigas
A ceifa parecia uma orquestra bem afinada, um espetáculo inesquecível
Um movimento com o céu parado: mãos, canudos e foices num movimento sincronizado
Formavam um harmonioso bailado, com as espigas a dançarem no ar abafado
Que tem por fim segar o trigo e coloca-lo no restolho, confortado
À espera de ir para a eira, para ser debulhado.
Ninguém mais verá a planície florida de moças e moços, papoilas e espigas douradas
Não. Não verão mais o mar de trigais, ondulando, pontuado, aqui e além, por papoilas vermelhas
Não. O Alentejo não será mais o celeiro de Portugal
Um sacrifício a que foi condenado
Mesmo que a terra gemesse e já nada desse
Gentes e terra foram condenadas, por não se submeterem
A uma ditadura odiada.
Foste libertado em Abril, mas floriste em Maio
Acabou a adiafa, gratificação que simbolizava o fim de um dos trabalhos mais penosos.
Corpos vergados ao sol escaldante, em movimentos de competição, para colherem o pão
Que bom que seria, que todos soubessem, quantas voltas das, até chegares à mesa!
José Silva Costa