Um poema escrito na Internet por 114 autores O poeta António Ramos Rosa ofereceu o seu talento ao projecto. Mas tratou-se, apenas, de uma contribuição entre as de muitos anónimos que utilizam a Internet. Ao todo, 144 pessoas de diferentes pontos do mundo ofereceram quase sete mil versos a este projecto da Capital Nacional da Cultura
Não haverá muitas obras com as características da que foi apresentada ontem, Dia Mundial da Poesia, em Coimbra: o poema O Fulgor da Língua, na sua versão final em CD-Rom, reúne 1.715 versos, escritos por 114 autores, através da Internet. O estado do mundo é o tema do poema, do qual foram lidos alguns excertos por seis autores da companhia de teatro A Escola da Noite, na Oficina Municipal de Teatro, ontem à tarde. A «aventura», como lhe chamou o filósofo António Pedro Pita na presença de meia centena de pessoas que assistiram à apresentação do poema, começou há cerca de um ano, por iniciativa do poeta Rui Mendes e com o patrocínio de Coimbra Capital Nacional da Cultura, e terminou em Janeiro do corrente. Tratou-se de criar um espaço na Internet, convocar todos os poetas ou candidatos a poetas interessados em participar e pedir-lhes que escrevessem, não mais do que cinco versos seguidos. «O que se pedia era que os poetas dessem continuidade ao que já estava escrito», explicou Pedro Pita. A abertura da obra, com dez cantos, contém versos, por exemplo, do poeta António Ramos Rosa. Mas não faltam desconhecidos, entre os 114 autores da súmula final – houve, no total, 144 contribuintes. As contribuições foram feitas a partir da América Central, Argentina, Bélgica, Brasil, Espanha, EUA, França, Índia e Portugal, por cidadãos de nacionalidade portuguesa, cabo-verdiana, salvadorenha, espanhola e brasileira. Com o apoio informático do Instituto Pedro Nunes, foi sendo preciso pedir a alguns autores que rescrevessem certos versos e eliminar outros: a versão o CD-Rom reúne apenas cerca de 25% dos 6.902 versos recolhidos e, entre estes, 4.483 foram rescritos. «Temos quase a certeza quer vai ser apresentado em papel», afirmou o responsável da Coimbra 2003, Abílio Hernandez, referindo-se às probabilidades de O Fulgor da Língua vir a ser publicado em livro. Hernandez não deixou de enaltecer as virtudes das novas tecnologias, sem as quais não seria possível conceber uma obra do género. Na sua intervenção, Rui Mendes tentou justamente salientar a peculiaridade da reunião de tantas vozes diferentes num único poema e, consequentemente, o anonimato a que elas são remetidas. «O autor é, ao mesmo tempo, todos os poetas» resumiria Pedro Pita. Nelson Morais
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