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07
Mar24

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

 

51    

 As cooperantes marcaram a assembleia geral da cooperativa. Reuniram-se todas, junto do embondeiro grande, muitas mulheres, apenas cinco homens

As mulheres trouxeram, para a discussão, o problema de passarem o dia a trabalhar com os filhos às costas

Colocaram à discussão e votação a criação de um sítio onde os filhos pudessem ficar em segurança, enquanto elas estivessem a trabalhar

Uma propôs que ficasse uma a tomar conta deles, mas ouviram-se, imediatamente, vozes a dizerem que não poderia ser só uma, por que se houvesse um problema em que ela tivesse de dar toda a atenção a essa criança, as outras ficariam em perigo

Tinham de ser, pelo menos duas, para tomar conta das crianças, que exige muita atenção, e é uma grande responsabilidade, para quem tem a incumbência de zelar pela sua segurança

O ideal seria que os avós estivessem por perto e disponíveis para ajudarem os pais, em caso de ocorrer um impedimento dos progenitores, ou para que tenham algum tempo para descansarem, pois, as crianças precisam de um acompanhamento permanente, que pode deixar os pais sem força para tomarem conta delas

Estava lançada a ideia, para que as mães deixassem de trabalhar com os filhos às costas

A Rosinha e o Januário aproveitaram para informar que iriam resignar aos seus cargos, porque o futuro era dos jovens, dizendo que já tinham dado o seu contributo e que se queriam dedicar aos futuros netos, mas estariam sempre prontos, para ajudarem no que fosse preciso

Uma vez que a assembleia estava reunida, aproveitou para eleger a substituta da Rosinha. Numa votação de braço no ar e por unanimidade elegeram a Leopoldina, para o cargo, que era da mãe

A Leopoldina aceitou o cargo, dizendo que faria tudo o que soubesse, para bem de todos, mas todos tinham de a ajudar na difícil tarefa de colocar os interesses da comunidade acima dos interesses individuais

Os pais ficaram muito contentes por ter sido a filha a escolhida, sabiam o seu valor e o apego à comunidade, que queria a todo o custo tivesse melhores condições de vida

A pouco-e-pouco a cooperativa ia ganhando forma, em breve teria um berçário e infantário, as mães poderiam deixar de andar a trabalhar com os filhos às costas

Outra grande transformação será os homens trabalharem no campo, ao lado das mulheres, mas só os jovens, que eram muito pressionados, pelas namoradas, para que rompessem com as tradições e trabalhassem ao lado delas

A resistência era muita, os mais velhos não queriam que os rapazes trabalhassem no campo, ao lado das mulheres

Uma sociedade governada pelos sobas, cujas ordens eram respeitadas, sem qualquer pedido de explicações, a evolução vai ser muito lenta, e é para isso que a Leopoldina tem de estar preparada.

 

Continua

   

29
Fev24

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

50

A última expedição brasileira a Angola foi em 1671, 200 mulatos nordestinos participaram na batalha conhecida como Pungo Adungo. Quando saiu de vez do território angolano, o Brasil deixou muito bem estabelecido por lá um forte comércio de fumo e cachaça, que conquistou os traficantes de escravos até à sua proibição

A cooperativa estava a tornar-se numa grande família, o casamento do Zacarias, filho da Miquelina e do Ezequiel, com a Milay, filha de um casal cooperante, cujo namoro já durava há muito tempo, fez com que as duas famílias ficassem muito felizes

Os jovens começavam a ocupar o lugar dos pais, tanto na produção como na gestão da cooperativa, o que fez com que mais jovens aderissem ao projeto

A Rosinha e o Januário continuavam a saborear a reforma, que lhes foi imposta pelos filhos, que não queriam que eles voltassem para os trabalhos do campo, dizendo-lhes, que aproveitassem bem o tempo, porque mais tarde ou mais cedo apareceriam os netos, acabando com a lua-de-mel dos avós: “ filhos criados, trabalhos dobrados”

Assim, passavam os dias calcorreando os sítios onde tinha sido felizes, onde se tinham encontrado, onde tudo tinha começado

Recordavam os tempos em que eram jovens, quando não tinham dores nas pernas e nas costas, não precisavam de andar constantemente a descansar, porque os anos pesam muito, fazendo com que se percam as forças

O Januário, desde que tinha estado doente, no Brasil, com as sazões, de vez em quando, voltava a ficar doente com as terríveis febres

Aquele tempo de férias, imposto pelos filhos, fez com que o Januário e a Rosinha se apercebessem de que estava na altura de se reformarem

A Rosinha não queria deixar de trabalhar. Mas sabia que o Januário precisava da sua ajuda e companhia, para o ajudar a ultrapassar as sazões, mesmo que ele insistisse que aquilo era passageiro

Assim, pediu aos filhos que falassem com os cooperantes, no sentido de marcarem a assembleia, para que todos apresentassem as suas ideias, para melhorarem a cooperação, os rendimentos, as habitações: a vida

A Leopoldina e o Jeremias deram-lhes a boa notícia de que iriam ser avós, não poderiam ter recebido melhor notícia, remédio, esperança, alegria, incentivo para afogarem as dores  e as febres do Januário

Foi de tal maneira, que esqueceram tudo o que os atormentava, e começaram fazer planos de como iriam ajudar a criar a neta ou neto

Foi tanta a felicidade, que pareciam ter rejuvenescido muitos anos, fazendo com que os futuros pais, também ficassem babados de felicidade, e fossem a correr, dar a notícia à restante família.

 

Continua

 

 

 

22
Fev24

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

49

Depois, foi a vez de pedirem à Rosinha e ao Januário, que contassem a história do seu encontro

O Januário não queria revelar as circunstâncias em que tinha conhecido a Rosinha, mas esta disse que não havia mal nenhum em revelarem o abrupto encontro deles

 A Rosinha começou por dizer que o mais difícil foi a comunicação, não conseguiam dizer um ao outro o que queriam, mas os gestos e o tato foram muito importantes, o insuportável foi viver, todos os dias, a pensar no sofrimento dos familiares, sem saberem o que lhe tinha acontecido

Mas não tinha maneira de lho dizer, só quando começaram a entender o que cada um queria, é que ela lhe fez sentir quão a sua família deveria estar a sofrer

Não foi fácil convencê-lo, porque ele estava com receio da reação da família dela, e não era caso para menos: tinha raptado a sua familiar, e isso era imperdoável, a não ser que a Rosinha o defendesse

Foi isso que o Januário tentou durante o tempo em que ela esteve afastada da família, só quando teve a certeza de que ela não deixaria que lhe fizessem mal, é que anuiu irem contatar aos familiares dela, o que tinha acontecido

A Rosinha não deixou de elogiar o marido, dizendo que desde a primeira hora do encontro, que ele a tratou com muito carinho, sempre preocupado com o bem-estar dela, agasalhando-a, dando-lhe as melhores e mais maduras frutas, tudo o que era melhor era para ela, e essa foi sempre a atitude dele durante todos os anos que levavam juntos

Na sua opinião, o Januário era uma pessoa exemplar, amigo de todos, fossem pobres ou ricos, pretos ou brancos, procurava que todos fossem respeitados, mulheres ou homens, crianças ou velhos

Nunca antes tinha conhecido ninguém que tanto se preocupasse com os outros, para ele, mulheres e homens deviam ter os mesmos direitos e as mesmas obrigações, o que ia contra os hábitos da sociedade dela, fazendo com que fosse olhado com desconfiança, por todos

 Os Sobas receavam que as ideias dele levassem as populações a revoltarem-se contra  as regras ancestrais, que tinham herdado dos seus antepassados, para regerem os seus povoados

Os filhos e a restante família ficaram muito orgulhosos da Rosinha e do Januário, muito contentes com tudo o que a Rosinha tinha dito sobre o relacionamento entre eles, e das ideias revolucionárias e humanitárias do Januário.

No fim, todos concordaram que um encontro, inesperado, entre uma africana e um europeu, dificilmente poderia ter ocorrido melhor

Os europeus invadiram a África, uma invasão é uma agressão.

Continua      

      

 

 

15
Fev24

O Império

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O Império  -  As teias que o Império teceu

 

48

A Miquelina continuou a contar a sua história, que tanto entusiasmava o filho e os sobrinhos

A explicar-lhes o cuidado que tinha de ter, para que os homens não descobrissem que era  mulher

Sempre vestida dos pés à cabeça, com os cabelos bem escondidos, tentado imitar os homens

Não deixou de lhes dizer que tinha sido um grande desafio, de Lisboa a Nagasaki, ida e volta, rodeada de homens, a quem ela tinha de convencer, que era do sexo deles

Tantos dias sem ter com quem partilhar os seus medos, as suas vitórias, as tristezas, as alegrias, coisas que nos ajudam a manter o equilíbrio

Mas, à medida que ia superando as adversidades, mais forte se sentia, o que fez com que perdesse o receio de que não seria capaz de cumprir todas as missões

Ombreou, lado a lado, com os homens em todas as tarefas, levando-a a decidir que, quando chegasse a Lisboa, iria revelar o seu sexo, sem receios, nem medos, porque já tinha provado, a todos, que não era nem mais, nem menos que eles

Acabou a sua exposição, dizendo-lhes que quando chegou a Lisboa foi falar com o Comandante, para lhe revelar o seu sexo. Este ficou estupefacto por não ter desconfiado de nada. Foi nessa altura que a convidou para fazer parte da tripulação da próxima viagem, e que tinha uma missão muito importante para ela

Pediu-lhe para que, enquanto preparavam a futura viagem, tentasse descobrir o que havia para evitar ou curar o escorbuto

Disse-lhes que tinha feito tudo o que estava ao seu alcance, que tinha ouvido bruxos, curandeiros, cientistas, endireitas, barbeiros

Mas, infelizmente, não tinha conseguido encontrar ninguém que conhecesse as mesinhas para escorbuto, que tanto atormentava os marinheiros

Acrescentou que de tempos-a-tempos passava pelo cais, para saber quando tinha de se apresentar, para a próxima viagem

Que no dia em que se apresentou ia muito triste, por não ter conseguido cumprir a missão, mas o Comandante agradeceu-lhe o esforço e disse que talvez lhe tivesse pedido o impossível

  

 

Primeiro o filho, depois os sobrinhos, abraçaram-na e beijaram-na, dizendo-lhe que estavam muito orgulhosos da sua extraordinária história

Mas a audiência estava tão entusiasmada, queria que ela continuasse, pediu-lhe para  falar da segunda viagem

Vendo a grande curiosidade do filho e dos sobrinhos, decidiu continuar a contar as suas aventuras

Começou por lhes dizer que, como já tinha dito, o Comandante convidou-a para a viagem seguinte, incumbindo-a de tentar saber se havia cura para o escorbuto

Apesar de todos os esforços, não tinha conseguido descobrir nenhum remédio para curar o escorbuto

E, para tentar acabar com a curiosidade deles, acrescentou que tinha prometido, ao Comandante, ter um comportamento exemplar, visto que era a única mulher a bordo

Assim, mesmo depois de namorar com o Ezequiel, dentro do barco, tiveram de manter o comportamento, como se não fossem namorados, e não estivessem a planear deixar o barco, no porto de Luanda, onde esperavam encontrar o Januário, irmão do Ezequiel

O pedido de namoro, a aceitação do mesmo, e o planeamento da saída do barco tinham sido combinados em terra, quando ambos tiveram oportunidade de ir a terra

E deu por terminada a história das suas aventuras

A assistência sorriu, e disse-lhe que em disfarce, ela era uma mestra.

Continua

 

 

08
Fev24

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

47

A Rosinha e o Januário estavam a viver um período de lua-de-mel. Com os filhos criados, o negócio a correr bem, os filhos e o genro pediram-lhes para irem descansar uns dias, que eles substituíam-nos no trabalho

Os pais estavam hesitantes, por um lado desejavam e agradava-lhes a ideia dos filhos, mas não queriam que se sacrificassem por eles

Os três (Leopoldina, Roberto e Jeremias) decidiram debater o assunto, para tentarem que os pais aceitassem o pedido deles

O Jeremias foi o escolhido, para os convencer, por acharem que seria mais difícil dizerem não, ao genro

Disse-lhes que os três lhes pediam que aceitassem a sua sugestão, para descansarem uns dias, porque tinham estado muito tempo separados e precisavam de uns dias só para eles

Não tiveram, como dizer não, agradeceram-lhe, dizendo-lhe que era um bom filho, que os três eram os melhores filhos do mundo

O Jeremias não cabia em si de contentamento, por os ter convencido a descansarem uns dias.

O cunhado e a mulher agradeceram-lhe o empenho. Mas a Leopoldina não deixou de lhe dizer que ele era um bom genro e um marido muito querido

A Rosinha e o Januário não sabiam o que fazer com o tempo livre, que tinham, por não irem, para o campo, trabalhar

Decidiram voltar aos sítios onde se conheceram e viveram os primeiros tempos, juntos

À noite, quando a família se reunia, aproveitavam para contarem aos filhos a sua história

Pelo meio, o Januário falava da sua grande aventura de ter ido de Lisboa ao Japão, de todas as peripécias de tão grande viagem, as razões por que não quis voltar a Lisboa, o facto deter feito a viagem com a Miquelina, sem saber que era uma mulher

Os filhos e o sobrinho ouviam-nos com muita atenção, ávidos por saberem toda as suas histórias e também as da Miquelina e do Ezequiel

O que mais os intrigava era o fato da Miquelina ter feito a primeira viagem, de Lisboa ao Japão, disfarçada de homem, sem que ninguém tivesse desconfiado

O Zacarias queria que a mãe explicasse por que razão tinha feito uma viagem como homem

A mãe explicou-lhe que na primeira viagem, o Comandante da frota não admitia mulheres a bordo

Como queria muito fazer a viagem, decidiu arriscar, tentando fazer de tudo para que não descobrissem que não era homem, acrescentando que desempenhou tão bem o papel de homem, que nem o tio Januário, com quem teve de reparar um mastro, desconfiou que não fosse um homem.

 

Continua

 

 

01
Fev24

O Império

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O Império  -  As teias que o Império teceu

46

O Jeremias e a Leopoldina tinham começado a namorar, pouco depois do Januário ter  embarcado para o Brasil, planeavam casar-se assim que ele regressasse, mas ainda  não tinha tido coragem de lhe pedir a filha, em casamento

Muitos rapazes não se sentiam muito à vontade, para pedirem as namoradas em casamento, como se sabe, os pais são exigentes com os pretendentes das suas filhas, para eles, não há rapazes que mereçam as suas princesas

São capazes de todos os sacrifícios pela família: emigram, deixam a mulher e os filhos, vivem o sonho de lhes dar uma vida melhor, se necessário for, trabalham dia e noite

Quando lhes aparece, pela frente, um magarefe, que não conhecem de lado nenhum, ficam em pânico, não querendo de maneira nenhuma, abrir mão das suas filhas, que lhe deram tanto trabalho a criar

Temem que sejam mal tratadas, sabem que a violência doméstica é uma chaga incurável

Esquecem-se que, também, já tiveram de arranjar coragem para enfrentar os pais das suas namoradas, e alguns, nem sempre, as trataram bem, exigindo, depois, e bem, que as suas filhas sejam respeitadas

Então, vamos todos, primeiro, dar o exemplo, respeitando as nossas namoradas e esposas, para que as nossas filhas sejam tratadas como merecem: respeitadas e amadas

O Jeremias não teve outro remédio, senão arranjar coragem para pedir a mão da Leopoldina

O Januário gostou da maneira como o Jeremias lhe disse que ia tratar a sua filha, mas não deixou de lhe pedir que a tratasse com todo o amor e carinho, porque a filha, o filho e a esposa eram os seus tesouros

Mais uma vez, o Jeremias lhe garantiu que estivesse descansado, que ele respeitaria e amaria a Leopoldina, como se fosse a mais delicada flor que, para ele, também era o seu maior tesouro

Pediu-lhe que lhes desse autorização, para que dentro de um mês, começassem a viver juntos, como marido e mulher

O Januário respondeu-lhe, que por ele estavam autorizados. Mas que a Rosinha, também, tinha de autorizar. Assim, o melhor seria reunirem-se os quatro, para que todos dessem a sua opinião, para se ver se todos estavam de acordo

Na reunião familiar, em que também esteve presente o irmão da Leopoldina, todos concordaram, que a Leopoldina fosse viver com o Jeremias, e desejaram-lhes as maiores felicidades

A família, depois de anos atribulados, vivia tempos de muita felicidade, a Rosinha e o Januário já sonhavam com uma neta ou um neto

O desejo de quase todos os pais, que os filhos lhe deem essas perfumadas e bonitas flores.

Continua

 

 

25
Jan24

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

45

Em Luanda, os cativos ficavam em grandes barracões esperando o embarque, quando os navios demoravam para transportar a “carga”

Os Jesuítas, que possuíam numerosos escravos em Luanda, tinham um importante papel durante essa estadia, catequizando as almas

Antes de embarcar, todos os escravos eram batizados com nomes bíblicos, recebendo a nova alcunha por escrito, num papel

Eram orientados a esquecer os costumes da sua terra e a serem felizes na nova fé

Desde que regressara do Brasil, que o Januário tinha notado que a filha, a Leopoldina, tinha muita intimidade com um rapaz, que a acompanhava nos trabalhos do campo, o que não era habitual, por que raramente os homens trabalhavam nas lavras

Achava que não deveria fazer perguntas, mais tarde ou mais cedo perceberia o que se passava, ou alguém o informaria do que se passava entre os dois pombinhos

Poucos dias depois, a Rosinha perguntou ao marido, o que é que achava daquele novo associado

Respondeu-lhe que parecia bom rapaz, bom trabalhador e muito interessado na Leopoldina

A Rosinha riu-se e disse-lhe que o Jeremias gostava tanto dela, que tinha aceitado trabalhar ao lado dela, coisa que raramente os homens faziam

O amor é capaz de levar as pessoas a fazerem grandes transformações, move montanhas, tira pedras do caminho e estende rios de carinho

O Januário disse à Rosinha que o seu maior desejo era que o Jeremias gostasse tanto da Leopoldina, como ele gostava da Rosinha

A Rosinha respondeu-lhe que também ela gostava muito do Januário, que o amor entre eles era um exemplo para todos

Acrescentando que esperava que a Leopoldina e o Roberto seguissem o exemplo deles

Finalmente, toda a família estava muito feliz, desde o regresso do Januário, que se notava, que o facto de estar definitivamente afastada do negócio da escravatura, que a família estava unida, não querendo voltar a colaborar, com quer que fosse, que apoiasse a escravatura

Pelo contrário, queriam lutar contra a barbárie de comercializarem seres humanos, como se fossem animais irracionais

Toda a família estava muito revoltada com os horrores, que os seus três familiares tinham sofrido, como escravos

Queriam evitar que outros sofressem o mesmo. Mas era tão difícil dizer, em público, que não concordavam com a escravatura, porque poderiam ser presos ou mortos

Até os Jesuítas a praticavam, portanto, o melhor era não se meterem em aventuras, que lhes poderiam custar a vida, sem conseguirem ajudar ninguém.

Continua

 

 

18
Jan24

O Império

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O Império – As teias que o Império teceu

44

A chegada de portugueses e espanhóis às américas fez descer a temperatura da Terra

A colonização dos continentes americanos, que foi levada a cabo por portugueses e espanhóis provocou tantas mortes entre os povos indígenas que teve efeitos significativos no clima da Terra, levando a um drástico arrefecimento do planeta

Uma conclusão da University College London, Reino Unido

Dos cerca de 60 milhões de pessoas, que viviam nas Américas, no fim do século XV (cerca de 10% da população do mundo) diminuiu para apenas 5 ou 6 milhões, em cem anos (BBC/ZAP) (18/11/2023)

Este período de arrefecimento é conhecido por Pequena Era do Gelo, e foi uma época em que as tempestades de neve eram comuns em Portugal, e o Rio Tamisa, em Londres, congelava durante o inverno, com vários países europeus a viverem períodos de fome 

A Rosinha ouviu todos os membros das duas famílias, sobre o que pensavam ou sugeriam para modernizar os métodos de produção, para aumentarem a produção, uma vez que a cidade de Luanda, cada vez, precisava de mais produtos alimentares, devido ao aumento populacional

Por outro lado, queria aumentar o rendimento de todas as mulheres, que a eles se tinham  associado, acreditando nas qualidades da Rosinha, bem como da sua equipa, o que fazia com que todos estivessem muito empenhados, para não defraudarem as expectativas, que neles tinham sido depositadas

Começaram por construir novos utensílios para fabricarem a terra, todos contribuíram com as suas ideias, o que fez com que a produção duplicasse

Passado cerca de um ano, aquando da primeira colheita, foi muita a alegria, por verem os bons resultados

Nas sanzalas, ao redor da cidade, foram organizadas batucadas, para comemorarem e agradecerem àqueles dois casais as boas novidades

Mas a Rosinha, a Miquelina, o Januário, o Ezequiel e os seus filhos fizeram questão de dizer que não era obra deles, mas de todos os que se tinham associado, participando  naquela maravilhosa aventura

A Rosinha aproveitou os bons resultados, para numa assembleia geral, propor às suas associadas que se unissem noutras tarefas, como a construção das cubatas, os cuidados com os filhos, ou outras que elas considerassem que se podiam unir, para melhor funcionarem

Todas aplaudiram as suas propostas, prometeram pensar no assunto e, em nova assembleia, decidiriam, em conjunto, o que fazer.

Continua

 

 

11
Jan24

O Império

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O Império  -  A teias que o Império teceu

43

Em tempo de paz, os agenciadores de escravos, os pumbeiros, vasculhavam o sertão angolano comprando os prisioneiros de tribos rivais

Nas idas e vindas ao interior, levavam cerca de 150 escravos, para carregarem as mercadorias usadas como pagamento

Demoravam cerca de um ou dois anos nas jornadas e voltavam com filas de 500 a 600 escravos

Nas guerras de captura, os capitães partiam acompanhados por centenas de soldados europeus, mulatos brasileiros ou mesmo angolanos

Enfrentavam as tribos e escravizavam os homens capturados. Em Luanda, os cativos ficavam em grandes barracões, esperando o embarque

Quando os navios demoravam para os transportarem, os escravos trabalhavam na plantação e cultivo da mandioca

A comodidade, fundada pelos dois casais, contribuiu para que os seus membros tenham tido bons rendimentos e um grande melhoramento no seu nível de vida, conseguiram acabar com a fome e construíram cubatas mais confortáveis

O facto de se entre ajudarem, fez com que tudo mudasse, ninguém ficava entregue à sua sorte, o problema de um, era um problema de todos

Como todos os pais, todos queriam uma melhor vida para os filhos, mas era tão difícil  encontrar quem soubesse ler, quanto mais quem ensinasse

A ambição dos dois casais era que os seus filhos aprendessem a ler e escrever, mas constataram que esse seu sonho não era realizável, portanto, o melhor era ensiná-los a trabalharem a terra, aproveitando a experiência das mães, a Rosinha e a Miquelina, que eram duas competentes produtoras de alimentos

Os dois primeiros padres da Companhia de Jesus chegaram à Ilha de Luanda, em fevereiro de 1575, tinham saído de Lisboa, acompanhados de Paulo Dias de Novais, em  23 de setembro de 1574

Em 1580, chegaram a Luanda 2 missionários Jesuítas, em 1584 outros 2 e, em 1593, mais 4

Em 1590, os cristãos eram cerca de 20.000

Uma vez que estava fora de hipótese a Leopoldina, o Roberto e o Zacarias aprenderem a ler e escrever, o melhor seria toda a família dedicar-se à agricultura, onde já tinham uma boa capacidade de produção

A Rosinha, que era a mais experiente no cultivo da terra, estava interessada em aumentar a produção, e para isso contava com a opinião do marido, da cunhada e do cunhado, em conjunto, queria que tentassem criar novos utensílios e novos métodos de produção

Também queria que ouvissem os miúdos, porque não se deve desperdiçar nenhuma boa opinião.

Continua

 

04
Jan24

O Império

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O Império  -  As teias que o Império  teceu

42

 

Qualquer um servia para Governar Angola, desde que defendesse a escravatura

André Vidal de Negreiros, herói da insurreição Pernambucana, a guerra contra a ocupação  holandesa no Brasil, recebeu como prémio o Governo de Angola,  governou de 1661 a 1666

Entrou em conflito com o novo rei do Congo, D. António Afonso, chamado na língua bacongo de Mani Mulaza

A desavença, entre os dois, aconteceu na batalha de Ambuíla (1665), quando os mulatos de Negreiros resistiram com espingardas e debaixo de uma chuva de milhares de arqueiros de Mani Mulaza

Mesmo com muitas glórias, Negreiros foi afastado por romper a paz com o Congo, conquistada logo após a reconquista de Luanda

Para conseguirem escravos, os exploradores luso-brasileiros não poupavam esforços

Valia tudo, desde a guerra de captura até ao pagamento de tributos

Uma das maneiras mais comuns era a troca de mercadorias portuguesas (vinho, pólvora e sal-gema) ou brasileiras (fumo, cachaça e farinha de mandioca) por negros

Com o regresso do Januário e o seu cunhado, as duas famílias estavam felizes e orgulhosas com o feito do Januário, que tinha conseguido resgatar o cunhado, da escravatura, e trazê-lo do Brasil, para a sua Angola

Mas a sua felicidade devia-se, também, ao facto de se terem libertado do negócio da escravatura, não colaborando, seja com quer que fosse, que continuasse com esse horrendo modo de ganhar a vida

A Rosinha e a Miquelina, bem como a Leopoldina e o Roberto, que já tinha idade para compreenderem o que era o tráfico de escravos, ficaram felicíssimos por já não terem nada a ver com a escravatura e poderem combatê-la com todas as suas energias

Deixaram de estar nas boas graças do Governador, que não via com bons olhos o facto de estarem contra a escravatura, de ajudarem, dentro das suas poucas possibilidades, homens e mulheres a fugirem da escravatura

Dedicaram-se à agricultura, procuraram modernizar os métodos de fabricar a terra, com novos utensílios, para conseguirem uma maior produção e mais rendimento

Criaram uma associação, onde todos tinha entrada, um embrião das futuras cooperativas

Para, em conjunto, conseguirem um melhor nível de vida, ajudando-se, não só nos trabalhos do campo, como na construção das cubatas e todos os outros trabalhos

Fazendo com que conseguissem implementar uma comunidade muito solidária.

Continua

 

 

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